Eduardo foi aplaudido pela equipe médica ao ter alta, na quinta-feira. No detalhe, ele posa por videochamada em sua casa, em NiteróiHospital Icaraí/Divulgação
Por RICARDO SCHOTT
Publicado 28/02/2021 07:00
Rio - Um verdadeiro filme de terror, numa época em que se sabia ainda muito pouco. O cenário disponível para as pessoas que pegaram a covid-19 logo na primeiríssima onda da enfermidade, nos primeiros meses de 2020, era de tensão extrema, até pelas péssimas notícias que chegavam de todos os lugares do mundo. Na época, há quase um ano, os boletins a respeito da doença ainda deixavam margens a muitas dúvidas, até sobre o uso de máscaras e medicamentos.
A professora de inglês Claudia Maria Vasconcellos Lopes, 56 anos, foi internada com sintomas da covid em 24 de abril. Ela se recorda bem dessa época, que foi de total insegurança para ela e para toda a sua família. "Cheguei a ir para o CTI por causa da falta de ar que eu tinha. A covid tira sua fome, você não tem vontade de comer. Fiquei cinco dias sem comer ou beber nada. Os funcionários do hospital entravam no quarto muito rápido, todo mundo com muito medo", recorda. Claudia vivia tão isolada que se espantou quando um enfermeiro, mesmo com todos os riscos envolvidos, sentou-se ao lado dela, na cama, para insistir que ela comesse.
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"Fiquei internada durante 20 dias, e depois mais 20 dias trancada no quarto, sem poder sair", conta ela, lembrando que tudo era muito novo naquela época, inclusive os procedimentos. "O protocolo era totalmente diferente. Quando fui internada, disse que não iria tomar cloroquina por questões ideológicas. Me responderam: 'Você não tem direito a questões ideológicas, você está morrendo!' Só no quinto dia interromperam a medicação, porque é um remédio que ataca demais o coração, e comecei a 'bater pino'".
Claudia precisou fazer fisioterapia respiratória para conseguir falar - um enorme problema para uma professora. "Também comecei a esquecer coisas, até palavras em inglês. Fiquei com arritmia cardíaca e bronquite, e ligo com a insegurança em relação à memória. Foi algo que me assustou, mas as coisas foram voltando a seus lugares", diz.
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Um pouco mais de sorte teve o aposentado Osni Aragão, de 77 anos, morador de São Pedro da Serra. Ele pegou covid logo no comecinho da pandemia, durante uma viagem a Friburgo, e não teve sintomas pesados. "Senti uma fraqueza absurda dias depois, além de diarreia. Me atenderam muito bem no hospital público. Fizeram os exames e eu não tinha outros sintomas", conta. 
Ainda assim, Osni conta que lida com as sequelas.
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"Eu me canso facilmente por qualquer bobagem. Hoje me canso com muita facilidade para fazer coisas que sempre fiz tranquilamente. Saio sempre de máscara, com álcool gel na mão, e fico espantado com as pessoas que não levam isso a sério. Estou assustado com as novas cepas", diz.
Desconhecimento
Eduardo foi aplaudido pela equipe médica ao ter alta, na quinta-feira. No detalhe, ele posa por videochamada em sua casa, em NiteróiHospital Icaraí/Divulgação
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Recuperando o ar
Gestor de Fisioterapia Respiratória do Hospital Icaraí e do Hospital e Clínica São Gonçalo, Leonardo Cordeiro é profissional de um setor geralmente pouco citado, e de importância fundamental para que o paciente de covid consiga manter-se respirando. A professora Claudia, por exemplo, cita a fisioterapia como um setor importantíssimo para que ela continuasse exercendo sua profissão após a covid.
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"O principal aspecto desses pacientes é que eles têm uma queda da oxigenação de forma absurda, algo que nunca tínhamos visto antes. O fisioterapeuta dentro da UTI é o responsável direto pelo suporte ventilatório aos doentes. Depois que esse doente não tem resultado com a administração do oxigênio, usamos técnicas como catéter nasal de alto fluxo. Ou ventilação não-invasiva, que é o uso de um ventilador mecânico numa máscara facial. Ou a posição prona, que é colocar o paciente de cabeça para baixo", afirma Leonardo. "O fisioterapeuta faz todos os ajustes necessários para que o paciente fique vivo, respirando artificialmente. A prática dele é um ganho substancial para o paciente".
Leonardo afirma que a maneira como os pacientes são recepcionados mudou bastante de março para cá. "A orientação era justamente que não usássemos a ventilação não-invasiva, porque países que haviam tido covid antes do Brasil não tiveram sucesso com ela. De março a maio, todos os pacientes eram entubados. A mortalidade era de quase 80%. Isso deixava as equipes muito aflitas", recorda. "Mas em maio adotamos os procedimentos não-invasivos e o panorama mudou sensivelmente".
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