Publicado 21/03/2021 08:00
Rio - O ambiente passa longe do glamour das séries médicas, como 'House' e 'The Good Doctor'. Não há tempo para diagnósticos geniais, tiradas engraçadas. O clima nos hospitais do Rio é de tensão constante e absoluta, desde quando a pandemia chegou ao país, há um ano, e revirou do avesso o já problemático sistema de saúde nacional. A luta pela vida dos pacientes que chegam, o luto pelos que não voltam, a enorme preocupação, a exaustão, o choro, as tardes sem almoço. E a esperança, por que não, pelos familiares vacinados. Trabalhadores da Saúde relatam ao jornal O DIA como têm sido as últimas semanas, marcadas por recordes diários de mortes no país e aumentos expressivos no número de internações nas cidades.
Com as redes hospitalares à beira do colapso, a tensão e as dificuldades dos profissionais são cada vez maiores. O Brasil chega ao pior momento, aproximando-se de 300 mil mortos. São quase 3 mil por dia — 125 vidas perdidas por hora, uma a cada 30 segundos. A semana também marcou o anúncio da quarta mudança no Ministério da Saúde em plena pandemia: sai o general Eduardo Pazuello, sob uma chuva de críticas pela condução no combate à covid-19 e a lentidão na compra de vacinas, entra o médico Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que já admitiu: vai manter as diretrizes do presidente Jair Bolsonaro, em movimento logo apelidado nas redes sociais de a troca de seis por meia dúzia.
O mais triste é que o Brasil se consolida como a Nação em que mais vidas são perdidas para a covid neste momento em todo o mundo. Só para reflexão: enquanto você lia esse texto, em média, mais três pessoas morreram no país.
YAGO FERNANDES, médico da Clínica da Família em Santa Cruz
LÍBIA BELLUSCI, enfermeira
GILANA RODRIGUES, enfermeira
GABRIEL FARIAS, gestor da UTI Pediátrica do Hospital e Clínica São Gonçalo
FLÁVIA DO VALE, coordenadora da Maternidade do Hospital Icaraí, em Niterói
"A gente lida com grávidas e tentantes (mulheres que buscam a gravidez). Está sendo muito difícil para elas. A gravidez é um momento mágico, de comemoração, de reunir a família, de chá de fraldas, de descobrir o sexo. Na maternidade, é sempre uma festa a chegada do bebê, os familiares todos vão. De repente, as grávidas se viram privadas de tudo isso. Sofreram com as incertezas da covid. Durante a pandemia, foi todo mundo relaxando, ganhando confiança, e a gente agora está sofrendo esse impacto.
Em quase um ano, praticamente não tivemos grávidas graves internadas. Nos últimos meses, foram pelo menos de quatro a cinco gestantes e pacientes pós-parto gravíssimas internadas no nosso hospital. Tivemos casos de grávidas, com gestação muito inicial, em que interromper é muito arriscado pro bebê, e a mãe muito grave... a gente se vê em situações muito extremas, tristes. No início, elas estavam temerosas e cuidadosas. Praticamente não vimos grávida pegando covid. Acho que ao longo da pandemia foram relaxando, aglomerando e isso está sendo bem impactante pra gente, que lida com situações muito complicadas".
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