A filha de Cátia, Ísis, na aula online: instalação de internet no quarto da meninaArquivo pessoal
Por RICARDO SCHOTT
Publicado 12/04/2021 06:00
Rio - As incertezas em relação ao retorno ou não das aulas presenciais no Rio de Janeiro, além da chegada dos sistemas híbridos nas escolas da cidade, têm deixado muitos pais e professores inseguros em relação a como lidar com a ida dos filhos para a rua. Por outro lado, as aulas remotas, desde que as escolas adotaram o ensino à distância por causa da pandemia de covid-19, têm sido fontes de novas descobertas para as famílias.
Tanto os pais quanto os filhos têm lidado com dilemas ligados à concentração dos filhos, à internet que cai, ao fato das crianças não estarem podendo mais encontrar com os colegas - e ao chegarem na escola para as aulas híbridas, terem que manter o distanciamento. A advogada Samantha Windsor, por exemplo, recorda que, em casa, manter a concentração de um filho que está aprendendo a ler não é nada fácil.
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"Graças a Deus, ele não precisou de apoio psicológico. Teve uma estrutura muito boa da escola e da professora em parceria conosco", recorda ela, cujo filho já retornou para o ensino híbrido numa escola da Vila da Penha, onde a família mora. "Ensino à distância na fase de alfabetização não é nada fácil. Precisei prender a atenção dele num local cercado de objetos bem mais atraentes que os livros".
Professora de teatro e mãe, Maria Fernanda Lamim tem um filho de 6 anos, Arthur Felipe, e uma de 4 anos, Vera Lise, ambos matriculados em um colégio na Ilha do Governador, os dois tendo aulas online. A chegada da pandemia fez com que ela e o marido, Emerson, comprassem material novo: um notebook extra, uma internet com velocidade aumentada, etc. Precisam acompanhar também as tarefas dos filhos, já que estão em casa.
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"Nosso principal problema e conciliar o horário deles com o nosso trabalho. Tem dias que eu fico no quarto com um dos filhos, usando o notebook . E meu marido na sala com o outro usando o celular. Eles estão aprendendo, o Arthur, mais velho, está se alfabetizando. Mas ambos reclamam bastante desse método e falam em saudades da escola. Dos amigos, do parquinho", conta ela, que não pretende mandar os filhos para a escola por causa dos riscos envolvidos. E, ainda por cima, vive a situação nas duas pontas, em sala de aula remota.
"Além da dificuldade de adaptar as atividades, um dos principais desafios é conseguir chegar nos alunos. Eles tem muitas limitações de equipamentos, internet e espaço", diz ela, professora da rede municipal do 7º, 8º e 9º anos.
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Os filhos da dentista Mariana Medeiros, por sua vez, já retornaram às aulas presenciais na Vila da Penha. Ela relata que a aula remota foi um problema, justamente por não ter condições de deixar ninguém vigiando as atividades.
"Sou linha de frente como dentista e não consigo trabalhar de home-office. Com isso, não tem nenhum responsável que possa orientá-los no momento do ensino remoto, e eles ficam com a secretária", relata, reclamando da falta de organização e conscientização das pessoas. "Do que adianta fechar as escolas, se a grande maioria está tendo vida normal? Não adianta fechar escolas e as crianças se aglomerarem em outros locais".
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A servidora pública Cátia Bastos, mãe de Ísis, 10 anos, diz que optou pelo retorno ao presencial quando a escola voltou ao sistema.
"Percebemos que era muito melhor para ela ter contato com os amiguinhos. A análise das vantagens do sistema online tem que ser feita pelas famílias. Ela tem amigos que moram na mesma casa que um avô ou bisavô, por exemplo. Mas mesmo que as escolas ofereçam todo o ferramental, é complicado visualizar o que está sendo escrito no quadro. A própria escola em que ela estuda demorou a investir nisso porque acreditava que tudo iria passar rápido", recorda ela, que precisou fazer adaptações na internet da casa para a menina poder estudar. "Tivemos que colocar um outro cabo passando pela casa toda até chegar no quarto dela".
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Pais lidam com depressão dos filhos
O governo do estado do Rio soltou um decreto, válido até hoje, que permite a retomada às aulas presenciais em escolas particulares das Redes Pertencentes ao Sistema Estadual de Educação, o Sindicato dos Estabelecimentos de Educação Básica do Município do Rio de Janeiro (Sinepe). A decisão de receber os alunos fica por conta de cada instituição de ensino. De acordo com a situação epidemiológica de cada município, o funcionamento será híbrido, com a continuidade de aulas remotas e atendimento presencial máximo de 50% da capacidade da unidade de ensino.
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Para Maria Fernanda Lamim, que vive a situação do ensino remoto nas duas pontas - como mãe e professora de teatro da rede municipal do 7º, 8º e 9º anos, um dos principais desafios que os mestres vêm enfrentando com as aulas remotas é chegar nos alunos. "Eles têm muitas limitações de equipamentos, internet e espaço", conta. A psicóloga Maria Cristina Urrutigaray explica que nesse período de isolamento, os pais precisaram lidar bastante com a depressão dos filhos, e que muitos estavam querendo mesmo que eles voltassem para a escola.
"O que conta é a questão da socialização. Os filhos vinham frequentando escola de natação, escolinha de ginástica, skate. A gente não mora mais em casas com quintal", conta ela, recomendando que os pais sempre contem histórias para seus filhos, desenhem com eles e busquem incentivar a imaginação deles. "Que eles tenham bastante paciência porque é um período difícil. A criança pode até ser levada a um parquinho, para correr, mas a aglomeração é perigosa. Tem que usar máscara e álcool gel".
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Coordenadora do Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio), Izabel Costa diz ter ficado surpresa com a autorização da reabertura, e ressalta que os profissionais da rede estadual estão em greve pela vida, justamente pelo risco de contaminação. "Consideramos que essa questão é uma disputa política, não é mais uma disputa científica. A prefeitura do Rio precisa responder às demandas dos pais, que vêm expressando uma grande preocupação com a contaminação. Fazemos nossa parte, que é enviar denúncias à Secretaria de Educação toda semana", conta ela.
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