Publicado 14/05/2021 14:46 | Atualizado 18/05/2021 15:00
Rio - O Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-RJ) demonstra preocupação ao informar o desabastecimento de vacina antirrábica no Estado do Rio de Janeiro. A falta de imunizantes em algumas localidades causa receio nas autoridades, após a cidade registrar o primeiro caso da doença em animais desde 1985.
O vice-presidente do CRMV-RJ, Diogo Alves, disse que enviou dois ofícios, na quarta-feira (12), para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e para o sindicato relatando o desabastecimento no estado de vacina antirrábicas.
"Os estabelecimentos veterinários como consultórios, clinicas e hospitais estão tendo muita dificuldade de comprar a vacina para oferecer para a sociedade. Quem ainda tem, é de estoque antigo. E entrando em contato com os laboratórios que produzem as vacinas, os mesmos alegaram não haver previsão para o término deste desabastecimento", argumenta Diogo, que completou:
"É inadmissível estarmos passando por um caos na saúde pública face a pandemia da covid-19 e agora passarmos por casos de raiva urbana, por um simples desabastecimento de vacinas. O impacto na saúde pública fluminense pode ser devastador".
Ele ainda ressaltou que o desabastecimento ocorre no Ministério da Agricultura, que é o responsável pela liberação da comercialização das vacinas e faz o repasse para o Ministério da Saúde.
Diogo afirma que a vacinação ainda é a medida mais eficaz contra a raiva, doença que pode afetar a maioria dos mamíferos, incluindo, os humanos. "A medicina cura o homem, a medicina veterinária cura a humanidade. A relação da medicina veterinária com a saúde pública é intrínseca. Vivemos o que chamamos hoje de One Healthy/Saúde única, envolvendo a saúde animal, ambiental e humana", conclui o vice-presidente do CRMV-RJ.
A reportagem de O DIA apurou com um grande laboratório estrangeiro que produz a vacina o motivo do desabastecimento relatado por Diogo.
"O grande problema dessa falta de abastecimento de vacina, infelizmente acontece pela burocracia do Ministério da Agricultura. Quando a gente traz a vacina de fora, ela passa por testes na Europa e a gente faz via transporte aéreo para que o biológico chegue rapidamente aqui e a gente não tenha esse gap de desabastecimento no Brasil. Mas, infelizmente a gente bate nessa barreira grande que é o Mapa que nos impõe dois testes. Um deles é feito por um laboratório terceirizado, que eles mesmos indicam e solicitam que a gente faça e com um custo altíssimo, cerca de R$ 20 mil. O segundo teste feito por eles que também tem um custo. Isso também atrapalha a cadeia de busca e preço do produto. Enquanto isso, o produto fica parado no depósito, então, esse tempo é relativamente alto. Temos aí quatro meses de espera do produto parado no depósito esperando a solicitação e a boa vontade da liberação do Mapa. E aí, a gente faz a pergunta: Por que não otimizar esses testes? Porque dois testes? Essas são as perguntas que todo laboratório que traz a vacina para o Brasil faz".
O Ministério da Agricultura disse que não terceiriza o teste de análise fiscal. "Todas as etapas são realizadas no Laboratório Federal de Defesa Agropecuária de São Paulo (LFDA-SP), que integra a estrutura do Mapa".
Em resposta ao ofício enviado pelo CRMV-RJ, o Ministério da Agricultura também informou que a pasta acompanha o andamento dos testes oficiais, nos quais são realizadas as análises fiscais das vacinas antirrábicas, não havendo nenhuma interrupção. "O ministério está em contato com o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sidan), entidade que tem entre seus associados todos os fabricantes e importadores de vacinas antirrábica - e que eles estão cientes de eventuais faltas pontuais no abastecimento. É de competência do Mapa apenas a fiscalização da produção e autorização para importação e comercialização dessas vacinas".
O presidente da Comissão de Defesa dos Animais da Câmara dos Vereadores, Luiz Ramos Filho (PMN), defende que a vacinação é essencial para a saúde dos pets.
"Muitos tutores não estão levando os animais para vacinar. Em 2019, o ministério da Saúde não fez a sua parte: deixou de nos enviar as vacinas, apesar dos nossos protestos e constantes pedidos. Mas no ano passado tivemos campanha de vacinação e o município vacinou apenas 390 mil cães e gatos. Isso é muito pouco. Deveríamos ter vacinado ao menos 80% da população, algo em torno de 520 mil animais. Eu faço um apelo para que os tutores não deixem de levar os animais para vacinar. A raiva não tem cura, mata", afirmou Luiz Ramos Filho, que completou:
"A vacina é gratuita. Se não der para levar no sábado, durante a semana tem vacinação permanente no instituto Jorge Vaitsman e no Centro de Controle de Zoonoses em Santa Cruz. Não deixe de vacinar o seu animal. Raiva mata".
Apesar da preocupação das autoridades veterinárias do Rio, a Secretaria Municipal de Saúde negou que falte vacina contra a raiva no município.
"O insumo está disponível durante todo o ano no Centro de Controle de Zoonoses Paulo Dacorso, em Santa Cruz, e no Instituto Municipal de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, na Mangueira. Este ano já foram vacinados mais de 3 mil animais na rotina das unidades. A expectativa é realizar a campanha de vacinação antirrábica em agosto ou setembro. A Secretaria Municipal de Saúde aguarda a confirmação do calendário pelo Ministério da Saúde".
O Ministério da Saúde informou, ao O DIA, que o abastecimento da vacina antirrábica canina (VARC) está regular no país e é feito de acordo com as demandas dos estados. Em 2021, a pasta já enviou mais de 556 mil doses da vacina para várias localidades.
"Em 2020, foram mais de 26 milhões de doses distribuídas. Cabe ressaltar que a Campanha de Vacinação Antirrábica é planejada pelos gestores locais do SUS, considerando as características epidemiológicas e a necessidade de cada estado ou município", disse a pasta.
"Em 2020, foram mais de 26 milhões de doses distribuídas. Cabe ressaltar que a Campanha de Vacinação Antirrábica é planejada pelos gestores locais do SUS, considerando as características epidemiológicas e a necessidade de cada estado ou município", disse a pasta.
Vacinação
A Prefeitura do Rio disse, nesta quinta-feira, que irá intensificar a vacinação contra a Raiva Animal, neste sábado, 15, em bairros próximos ao local em que o cachorro morreu. A campanha de imunização acontecerá entre às 9h e às 15h em Jardim América, Parada de Lucas e Vigário Gera, Zona Norte.
Locais de vacinação:
Clinica da Família Eidimir Thiago de Souza - Rua Cordovil , 1242 - Parada de Lucas
CMS Nagib Jorge Farah - Praca Miguel Cheib S/N - Jardim América
Praça Catolé da Rocha - Vigário Geral
Clinica da Família Eidimir Thiago de Souza - Rua Cordovil , 1242 - Parada de Lucas
CMS Nagib Jorge Farah - Praca Miguel Cheib S/N - Jardim América
Praça Catolé da Rocha - Vigário Geral
De acordo com o tutor do animal, o cão teve contato com um morcego no dia 26 de março, mas só apresentou os primeiros sintomas da doença, como baba e falta de coordenação, na última semana. O pet chegou a ser levado a dois veterinários, mas não resistiu. O cachorro vivia com o dono em um bairro de Belford Roxo e costumava passear com o mesmo em bairros da Zona Norte do Rio, como Jardim América.
Sintomas da raiva
Os primeiros sintomas da doença são a paralisação parcial dos músculos da garganta. O animal deixa de beber água, baba e tem o chamado latido botonal (um grave e um agudo). Em estágios mais avançados da doença, o bicho apresenta falta de coordenação motora e alteração da visão e da audição, o que provoca irritabilidade e fúria.
A raiva pode ser transmitida por cães, gatos e morcegos, através do contato com a secreção infectada. O mais comum é o contágio por mordida de cão ou arranhão de gato.
A raiva pode ser transmitida por cães, gatos e morcegos, através do contato com a secreção infectada. O mais comum é o contágio por mordida de cão ou arranhão de gato.
A transmissão da raiva ocorre por meio da saliva de animais infectados, principalmente por mordidas, mas também podem ocorrer via arranhões e lambidas desses animais.
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