Publicado 25/05/2021 17:24
Rio - Após a denúncia contra maus-tratos a idosos em uma casa de repouso na Freguesia ser noticiada, leitores de O DIA começaram a enviar mais relatos sobre novos casos no local. Uma corretora de seguros conta que, à época da morte de seu pai, desconfiou de que ele vinha tendo a saúde negligenciada no Residencial da Terceira idade Braga Filho e, agora, diz ter certeza. Em agosto de 2019, o idoso deu entrada no Hospital Municipal Lourenço Jorge, falecendo um dia depois. No atestado de óbito, a causa da morte informada foi broncoaspiração e Alzheimer. No entanto, segundo a corretora, o médico que acompanhou a internação constatou que o idoso estava desnutrido.
"Ele entrou na casa no fim de 2018 com demência e alzheimer. Tinha um comportamento agressivo e por diversas vezes tentou fugir da casa. Se chegássemos lá de surpresa para visitar, as funcionárias não gostavam, mas às vezes fazíamos para ver a situação e na maioria das vezes o local estava sujo e com cheiro de urina insuportável, elas alegavam que ainda estavam fazendo a limpeza", relata a mulher.
A filha conta que os funcionários enganavam os familiares dos idosos, dizendo que eles eram bem alimentados e que a higiene era realizada corretamente. "Sempre que eu ia levava um bolo para ele ou uns salgadinhos e ele comia como se estivesse faminto. Uma vez chegou a engasgar porque colocou muito na boca de uma vez só. Elas falavam que essa fome era por conta da medicação e da doença. Infelizmente, somos leigos. Tudo era muito novo para gente e acabávamos acreditando", lamenta.
Ao longo dos meses, o idoso foi ficando mais debilitado e magro, mas a equipe da casa de repouso dizia que ele comia muito bem. A família só foi avisada de que o idoso estava doente quando avisou que precisava levá-lo ao banco. A equipe dizia ao longo dos dias que ele estava melhorando, mas os parentes resolveram conferir a saúde do paciente.
"Foi quando o encontraram em cima da cama completamente debilitado, praticamente desfalecido. Ficamos com aquela sensação de que houve negligência, pois eles poderiam ter avisado para que levássemos ao médico logo. Mas, não tínhamos como provar nada, porque na semana anterior, na visita, ele estava bem. Nada iria trazer o meu pai de volta e com isso acabamos deixando para lá, mas agora eu não podia deixar de relatar o que aconteceu com a nossa família. Não desejo que nenhum idoso passe por esse tipo de tratamento", completa a corretora.
O Instituto Municipal de Vigilância Sanitária (Ivisa-Rio) informou nesta terça-feira (25), que passou a fazer uma fiscalização semanal na casa de repouso e foi exigida a presença de um médico para assistência dos idosos ainda institucionalizados. Além disso, foram feitos quatro termos para adequações estruturais e de processo de trabalho. A reabertura da casa está condicionada ao cumprimento de todos os termos.
Policiais da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (DEAPTI), com apoio da Vigilância Sanitária e da Secretaria Municipal do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida (SMESQV) realizaram, na última quarta-feira (19), uma operação para cumprir mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça na casa de repouso, na Freguesia, Zona Oeste do Rio.
Foram apreendidos no local mantimentos impróprios para consumo, receitas médicas com irregularidades, além de constatarem diversos problemas que iam de encontro às normas exigidas por lei para o funcionamento de uma casa de repouso para idosos, diz a polícia.
A Vigilância Sanitária classificou o local como de risco sanitário elevado. A casa foi multada em R$ 3.937 e está vedada a receber novos pacientes até que as medidas necessárias para adequação às normas sanitárias sejam tomadas.
O DIA entrou em contato com a defesa da casa, mas não obteve retorno. O espaço está aberto para manifestação.
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