A equipe que atuou no estudo que descobriu novo tratamento para o câncer de placentaDivulgação
Por Bernardo Costa
Publicado 29/06/2021 20:36 | Atualizado 29/06/2021 21:31
Rio - Um estudo coordenado pelo ginecologista e obstetra Antônio Rodrigues Braga Neto, professor de obstetrícia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), aperfeiçoa o tratamento do câncer de placenta em todo o mundo, após ter sido publicado, na última sexta-feira, na revista médica Lancet Oncology. A partir da análise de 5.025 prontuários médicos de pacientes do Rio; de Londres, na Inglaterra; e de Boston, nos Estados Unidos, a pesquisa comprovou a eficácia de um tratamento quimioterápico menos agressivo, que elimina efeitos colaterais de longo prazo, como leucemia, linfoma e menopausa precoce: resultado provável da quimioterapia mais agressiva, a única disponível até então.
"Antes desse estudo, só era aplicado o tratamento mais tóxico que, além do efeitos colaterais imediatos, como vômito, náuseas e queda de cabelo, pode trazer os efeitos colaterais mais graves, que podem se manifestar em até 30 anos após o tratamento", explica Antonio Neto, que atua na Maternidade Escola da UFRJ e na maternidade do Hospital Universitário Antonio Pedro, da UFF.
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Com início em 2018, o novo tratamento substitui a quimioterapia mais agressiva, que utiliza cinco medicamentos em doses elevadas, por outra mais leve com aplicação de um medicamento apenas, e em dose reduzida. No estudo, a quimioterapia menos agressiva se mostrou eficaz em 60% dos casos analisados. Os outros 40% tiveram que ser tratados com o método anterior.
A pesquisa também apontou o perfil das mulheres que respondem com eficácia ao tratamento menos agressivo. Segundo o professor e pesquisador, há uma combinação de três fatores, que devem ser interpretados pelo médicos em cada caso:
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"Casos de mulheres sem metástase, com níveis de HCG não tão elevados e resultado de biópsia do útero que não apresente o tipo de tumor coriocarcinoma têm indicação para responderem com eficácia à quimioterapia menos agressiva".
Câncer de placenta

O câncer de placenta, explica Antonio Neto, surge na gravidez a partir de um tumor benigno no útero, conhecido como mola. O aparecimento desse tumor, que caracteriza a chamada gravidez molar, é identificado no exame de ultrassonografia. Caso não seja tratado, pode evoluir para o câncer de placenta, que causa a morte do bebê e da mulher em até seis meses.
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"Caso esse tumor benigno seja identificado, a mulher deve procurar os locais de referência para o tratamento o mais rápido possível. No estado do Rio, esses locais são a Maternidade Escola da UFRJ e a maternidade do Hospital Antonio Pedro (UFF)", alerta o especialista.
Segundo Antonio Neto, os sintomas do câncer de placenta são sangramento genital e do útero e o surgimento de câncer em outros órgãos, como os pulmões.
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A doença é considerada rara e tem grandes possibilidades de cura. Porém, ela é mais comum no Brasil, onde acomete uma em cada 200 mulheres grávidas. Em outras regiões do mundo, a ocorrência é menor. Na Europa, ela é verificada em uma a cada duas grávidas. Já nos EUA, em uma a cada mil gestantes.
O estudo coordenado pelo médico e pesquisador Antônio Rodrigues Braga Neto teve a participação de especialistas de Harvard, nos Estados Unidos, e do Imperial College, em Londres.
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Na Maternidade Escola da UFRJ, que fica em Laranjeiras, na Zona Sul do Rio, são tratados cerca de 30 novos casos de câncer de placenta por mês.
"Atendemos gestantes de todo o estado, inclusive as que têm planos de saúde. Os centros de referência para o tratamento são as instituições públicas, o que reforça a importância do Sistema Único de Saúde (SUS)", destaca Antonio Neto.  
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