Publicado 11/07/2021 00:00 | Atualizado 31/01/2022 14:06
Rio- Casos de intolerância religiosa são comuns no país, mas no Rio têm uma característica que chama a atenção: o envolvimento de traficantes evangélicos em perseguições, principalmente a praticantes de religiões de matriz africana. A situação é tão preocupante que uma CPI está apurando os casos. De acordo com a Comissão Permanente de Combate às Discriminações e à Intolerância da Alerj, 177 denúncias, entre agressões e ameaças, foram feitas em 2019 e 2020.
As denúncias mais recentes são de comunidades Cidade Alta, Vigário Geral, Parada de Lucas, Cinco Bocas e Pica-Pau, na Zona Norte do Rio, onde traficantes formaram o chamado "Complexo de Israel". Segundo a CPI, traficantes evangélicos que exibem nestas localidades a estrela de Davi e a bandeira de Israel, proíbem os cultos de umbanda e candomblé, fecham terreiros e ameaçam os fiéis. Trata-se de uma característica específica dessa facção, chefiada por Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão.
De acordo com a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), de 2018 a 2020, crimes de intolerância religiosa chegaram a 26% das ocorrências registradas na especializada, sendo 3% ligadas a questões envolvendo o tráfico.
No ano de 2020, o Instituto de Segurança Pública (ISP) contabilizou 23 casos de ultraje a culto religioso em todo o estado do Rio de Janeiro. O número é um pouco menor que o de 2019, ano pré-pandemia do coronavírus, em que 32 casos foram registrados. No total, as delegacias da Secretaria de Polícia Civil fizeram 1.355 registros de ocorrência de crimes que podem estar relacionados à intolerância religiosa em 2020, ou seja, mais de três casos por dia.
De acordo com a Comissão de Discriminação da Alerj, 176 terreiros fecharam as portas por ação do tráfico até setembro de 2019. Segundo levantamento do Ceplir (Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos, da Alerj), de setembro de 2019 a novembro de 2020, o total de terreiros atacados e expulsos pelo narcotráfico foi de 97 no município de Duque de Caxias, 58 em Campos do Goytacazes, onde dois pais de santo foram assassinados, 12 no município de Nova Iguaçu e 10 em São Gonçalo.
O deputado Noel de Carvalho (PSDB) vai pedir à CPI da Alerj que obtenha os dados da Comissão Permanente de Combate às Discriminações e à Intolerância e do Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos, divulgados pelo DIA.
"Os dados são graves e devem ser analisados pela CPI", afirma o deputado, que é integrante da Comissão. Segundo Noel, tão logo a CPI retome o trabalho após o recesso parlamentar, vai requerer a obtenção dos dados.
"Intolerância religiosa é inadmissível. É um racismo religioso cruel. A CPI papel importante para combater estes crimes", disse Noel, através de nota.
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