Publicado 16/08/2021 20:10
Rio - Os mais de três quilômetros de extensão de linha do Teleférico do Alemão prometeram interligar, ao longo de seis estações, as comunidades que fazem parte do complexo de favelas da Zona Norte do Rio. Cinco anos após o abandono por falta de pagamento ao consórcio que administrava o serviço, o Governo do Estado prometeu retomar os investimentos no sistema, conforme foi divulgado na coluna Esplanada, desta segunda-feira. A Secretaria de Infraestrutura e Obras (Seinfra) afirmou que o governo estadual faz estudos preliminares que irão diagnosticar as necessidades do teleférico. fotogaleria
Inaugurado em 2011, o Teleférico do Complexo do Alemão teve o investimento de R$ 253 milhões. Durante o período de funcionamento, estima-se que transportava, em média, dez mil pessoas por dia e passou a ser o principal meio de transporte dos moradores das comunidades, que ganhavam duas passagens gratuitas e, no Bilhete Único, pagavam apenas R$ 1 por viagem.
Nascida e criada no Complexo do Alemão, a empreendedora social Mariluce Mariá de Souza organizava visitas para grupos com cerca de 100 pessoas. Por causa do fim do serviço, a agência Turismo no Alemão deixou de atender os quase mil visitantes que recebia por dia. "Para nós, o importante era a pessoa conhecer o Complexo do Alemão, de verdade, de dentro. Saber como é que isso tudo funcionava, ter contato com o morador, a troca cultural. Os moradores tiveram uma forma de gerar uma renda porque os turistas consumiam muitas coisas por aqui", lembrou.
Apesar do teleférico não ser a parte mais importante das visitas da empresa de Mariluce, ele se tornou uma forma de convidar as pessoas para o turismo local. "Agora que ele está parado, a gente faz questão de ter funcionando, nem que a gente precise pagar passagem, mas a gente quer ter ele funcionando. Ele dá mobilidade para as mães poderem matricular seus filhos em outras escolas que não dá para chegar perto no momento", pontuou a empresária, que completou:
"As pessoas ainda economizavam na passagem, já que, descendo ali na estação de Bonsucesso, conseguiam logo pegar o trem. Saindo da estação de teleférico, em meia hora já estava no centro da cidade. Hoje em dia, para descer o morro, leva mais de uma hora e ainda tem que pegar um trânsito de quase duas horas para chegar até o Centro. Olha a diferença que fez. Além de ser um transporte que dá mobilidade para o morador, era um equipamento turístico. Não era só um transporte de massa, era multifuncional. Conectava pessoas com projetos sociais, com negócios. Então, para a gente, o teleférico criou uma ponte".
Moradora de Bonsucesso, Zona Norte, Daiana dos Santos Clementino criticou a dificuldade de mobilidade entre as comunidades da região com a falta do teleférico. A estudante de Serviço Social da UFRJ contou que costumava visitar familiares que moram no complexo. "Ele é uma peça fundamental na ida e na vinda em termos de transporte, já que as pessoas podem ir para seus trabalhos a partir daqui. Bonsucesso é central para tudo e, com a perda do teleférico, realmente incapacita as pessoas e faz com que elas peguem dois ou três transportes para seus trabalhos", afirmou.
Ao O DIA, a Seinfra esclareceu que o estudo feito pelo governo estabelecerá o valor do investimento no teleférico. "Apenas depois desse levantamento que vamos ter a noção de valores para a licitação das obras. Concluídas as obras, o teleférico volta para a Secretaria de Transportes, para que faça a licitação para a contratação da empresa que irá operar o equipamento. Nesse momento, acredito, se dará a definição de valores", explicou a secretaria, em nota.
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