Ex-secretário da Seap, Raphael Montenegro, é preso por suspeita de ligação com lideranças do Comando VermelhoReginaldo Pimenta
Publicado 18/08/2021 12:10 | Atualizado 18/08/2021 12:18
Rio - Preso na terça-feira (17) em operação da Polícia Federal com o Ministério Público Federal (MPF), o ex-secretário da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária), Raphael Montenegro, sabia da entrada e do uso de aparelhos celulares nas cadeias do estado do Rio. Em gravações ambientais captadas pelo Departamento de Penitenciária Nacional (Depen), Montenegro admite ao traficante Marcinho VP ter conhecimento sobre a entrada dos telefones, e reconhece a falha da própria secretaria.
"Mermão (sic), deixa eu te falar, telefone, a gente sabe que entra telefone, a gente tenta lutar pra não entrar? Tenta. Mas sabe que uma hora entra. Se eu te pegar usando telefone eu vou te mandar para a (cadeia) Federal? Claro que não, cara", comenta. O então secretário dá o exemplo de Marco Antonio Pereira Firmino, o My Thor, que em maio deste ano chegou a fazer uma videochamada de dentro da cela de Bangu 3, no Complexo de Gericinó. Para o ex-secretário, a atitude de My Thor expôs "todo o sistema" e prejudicou o "diálogo" entre a Seap e os líderes do Comando Vermelho.
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"A gente mandou o My Thor para a Federal? É claro que não, cara. My Thor, o excesso dele não foi falar no telefone, o telefone é um erro nosso, que a gente não coibiu a entrada, aí é um erro nosso, que a gente tem que entender como corrigir e coibir a entrada. Cara, uma vez que entrou você falar ou deixar de falar? Tá no jogo, tá tudo certo, agora o My Thor, quando ele faz um vídeo, ele expõe todo o Sistema, ele expõe a forma como a gente tá ali conduzindo o Sistema no diálogo, sabe por quê? Todo mundo sabe que a gente tá conduzindo no diálogo, aí aparece o My Thor no telefone. Aí falam, p..., o diálogo é tão bom que nego já tá até deixando entrar telefone. Prejudica todo o coletivo", argumenta Raphael Montenegro, em gravações captadas e expostas na decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2). 
Na visita ao traficante Luiz Claudio Machado, o Marreta, o ex-secretário da Seap volta a admitir o uso corriqueiro de celulares dentro da cadeia, mas avisa que tentará coibir. "Eu não vou falar para você que não vai entrar telefone, vai entrar! Agora, mas também tem o seguinte, eu vou tentar segurar esse telefone, e vou dar geral", diz. 
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Ex-secretário prometia 'vista grossa' à expansão internacional do Comando Vermelho
Gravações ambientais captadas no presídio federal de Catanduvas (PR) mostram que o ex-secretário da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária), Raphael Montenegro, sabia da atuação do Comando Vermelho em outros estados e países, mas não entregaria à polícia. A contrapartida da 'vista grossa' seria o bom comportamento dos líderes da facção a partir do momento que fossem transferidos para cadeias do Rio. Montenegro e outros dois subsecretários foram presos na quarta-feira (17) em operação da Polícia Federal. Eles respondem por associação ao tráfico, advocacia administrativa e falsidade ideológica.
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Em um diálogo captado pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) e pela Polícia Federal - e que consta na decisão de prisão do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) -, Raphael Montenegro conversa com José Cláudio de Souza Fontarigo, o Claudinho da Mineira, sobre a parceria do Comando Vermelho com a Família do Norte (FDN), facção que domina os presídios do norte do país. Montenegro diz que sabe da atuação de criminosos do CV até em outros países, como Peru e Paraguai.
"A gente já conversou com colegas, com irmão seus, e falaram ó: estado tal é fulano, estado tal é de ciclano, Peru... Tem braços no Peru, no Paraguai, eles falam, assim, eles falam e não sai da nossa relação, eu não vou pegar e 'polícia, tá aqui ó'", comenta Montenegro. Em troca de não denunciar, o ex-secretário cobra atitudes de 'sujeito homem' a Claudinho.
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"Da mesma forma que eu te cobro ser sujeito homem, ter o papo reto, eu aceito que você me cobre isso, que eu tenha papo reto... E o dia, o dia que eu quebrar isso, quando eu entrar na cadeia, você virar para mim e falar 'tu não tá podendo', eu vou aceitar".
Claudinho da Mineira é um dos remanescentes do Comando Vermelho da década de 1990, considerado um dos líderes da facção. Segundo a Polícia, Claudinho tem domínio do Complexo do Estácio, Morro da Mineira, Complexo do Lins e Chapadão. Até 2013, ele cumpria pena em uma unidade estadual de Rondônia, mas recebeu progressão para o semiaberto e não retornou. Em 2015, voltou a ser preso durante uma ação do Bope.
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Em outro diálogo com Marcio Nepomuceno dos Santos, o Marcinho VP, Raphael Montenegro volta a falar sobre a atuação da facção no Peru. "Você vai me perguntar, isso me importa? Nem um pouco, cara!", diz o ex-secretário.
"A gente sabe que vocês já tomaram a Família do Norte (FDN), que o irmão 1, que o irmão X, tá não sei aonde, o irmão Y tá não sei aonde, a gente sabe isso tudo [...]. O Charles já falou 'pô, a gente conseguiu chegar no Peru, cara', tudo isso a gente sabe. Você vai me perguntar, isso me importa? Nenhum um pouco, cara! Mas, mas, mas a minha preocupação não é se você vai continuar vendendo ou deixar de vender teu negócio, até porque o negócio que você vende, se você sair alguém vai vender, essa p... vende no mundo inteiro".
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