Publicado 29/08/2021 13:08
Rio - A reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) instaurou, na última sexta-feira (27), comissão de sindicância para apurar a denúncia de possível atuação imprópria e de conotação racista por professores do departamento de Ciência Política da instituição. O cientista político e historiador Wallace dos Santos de Moraes, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da UFRJ, relatou ao DIA ter sofrido discriminação de cunho racista durante reunião virtual da banca que iria escolher um novo professor adjunto para o instituto. O encontro aconteceu no dia 11 de agosto.
Segundo a universidade, em nota, a direção do IFCS procedeu com a abertura de processo a fim de investigar os fatos. A comissão que vai apurar as circunstâncias foi instaurada na sexta-feira com a presença de servidores negros na sua composição, após a formalização da denúncia feita na quinta-feira (26).
"A maior universidade brasileira reafirma o compromisso de diariamente aperfeiçoar procedimentos e práticas inclusivas e igualitárias, repudiando o racismo, estimulando e implementando condutas antirracistas. A Reitoria da UFRJ informa que serão tomadas as providências cabíveis para apurar o caso de maneira sigilosa, garantindo o direito à ampla defesa e ao contraditório", informou a instituição.
Relembre o caso
O professor Wallace dos Santos de Moraes conta que foi excluído da banca que iria escolher um novo professor adjunto para o instituto sob argumentos de que seria 'brigão', 'desequilibrado', e que não teria equilíbrio emocional para estar ali, além de se vitimizar constantemente por ser negro. Para Wallace, os ataques tiveram motivação racista.
O episódio gerou protestos na comunidade acadêmica. Na internet, circulou um abaixo-assinado criado pelo Coletivo de Docentes Negras e Negros da UFRJ pedindo que a universidade abrisse uma investigação interna para apurar situação de discriminação racial contra o professor Wallace dos Santos de Moraes. O documento contava com 1.864 assinaturas na tarde de quinta-feira (26).
Em resposta ao abaixo-assinado, professores do Departamento de Ciência Política (DCP) do IFCS/UFRJ afirmam que a decisão de excluir o professor Wallace dos Santos de Moraes da banca não foi individualizada. Segundo a nota, optou-se por excluir da banca todos os docentes do departamento, em razão de discordâncias internas diante do processo de renovação do DCP com a admissão de novos professores.
O advogado Gustavo Proença, que assessora juridicamente o professor Wallace dos Santos de Moraes, afirma que, além do pedido de investigação interna na UFRJ, vai dar entrada na Justiça Federal com uma ação criminal.
"A gente entende que houve uma conduta discriminatória, injuriosa e caluniosa. Considerando que ele era o único professor negro, que ele tinha a qualificação técnica e acadêmica para participar da banca, além da pertinência de suas pesquisas. A gente entende que a única coisa que explica essa postura discriminatória é a motivação racial", diz o advogado.
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