No Rio, 66% dos pacientes hospitalizados com sintomas respiratórios não tem registro de vacina cotra a covid-19 no sistema Sivep-Gripe, do SUS.Foto: reprodução internet
Publicado 09/09/2021 15:57
Rio - Independente das convicções políticas, a perda de uma pessoa pela covid-19 representa uma tragédia. E ela acontece em maior número com as pessoas que não se vacinaram, seja por opção própria ou pelo imunizante não ter chegado a tempo. Familiares ouvidos pelo O DIA lamentam a perda de parentes, compartilham suas memórias e falam sobre o sentimento de ver uma vida ceifada por uma doença que já provocou 63 mil óbitos no estado do Rio de Janeiro, o segundo com a maior quantidade de mortes do Brasil e o primeiro com o maior índice de letalidade de acordo com os dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Uma das pessoas que não se vacinaram por opção e não resistiu foi o ex-candidato a vereador Carlos Almeida (PSL), de 56 anos. Ele iria fazer aniversário nesta sexta-feira (10), mas uma contaminação repentina pela covid-19 fez com que em pouco mais de uma semana seu quadro de saúde apresentasse uma piora muito grande, indo a óbito. Descrito como uma pessoa muito afetuosa, Carlos trabalhava na área da mecânica e tinha problemas de hipertensão. Seu enterro aconteceu no último domingo (5), em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio.

“Ele era uma pessoa muito tranquila, do bem, da família, era gente boa. Há um tempo ele vinha tentando se candidatar na política e acredito que o sonho dele era esse. Não acompanhei muito, mas sei que foi uma tragédia. Conversei com uma pessoa próxima no dia do falecimento e todos eles estavam muito tristes. Eu estava há tempo sem falar com ele, eu não sei o porquê ele não tomou. Posso até imaginar, pois ele tinha conexão com esses grupos que… Sei lá. Não sei explicar…”, afirmou um parente do ex-candidato. 

Carlos poderia ter se vacinado na primeira semana de junho. Ele confirmou ter contraído a doença no dia 20 de agosto e se manifestou publicamente defendendo o governo federal. “Infelizmente estou com covid, fui diagnosticado ontem e estou me cuidando na casa da minha mãe tomando todas as ações sanitárias de prevenção. Não culpo o governo federal e nem o presidente pela minha contaminação”, disse.


Do outro lado da história, o servidor público Vinicius da Silva Antônio, 40, lamenta e atribui à lentidão do governo federal à perda dos seus familiares. Quatro de seus familiares não resistiram a covid-19 e não estavam elegíveis para receber a vacina durante os primeiros meses do ano de 2021. Duas tias, uma avó e um primo.

“Minha avó, Creuza, de 91 anos, [tinha] sempre aquele carinho de avó materna, sempre cuidando dos netos. Ela já estava debilitada, não se comunicava mais. O Marcio [primo de Vinícius], 44, foi uma grande surpresa, ele foi internado e em 2 semanas veio a falecer. Ele teve uma vida muito difícil e sempre foi muito batalhador. Foi uma pessoa extremamente divertida, a presença dele era uma diversão certa. Ele não tinha comorbidade, sempre gostou muito de futebol, lutava capoeira... É assustador você saber que por causa de uma ineficiência na distribuição da compra e aquisição das vacinas, aqueles que são mais vulneráveis sofrem e vão embora”, lamentou.

2,65 milhões de pessoas elegíveis sequer tomaram a primeira dose no RJ

A partir dos dados informados pelo Sistema de Informações do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI), é possível estimar que existem em todo o estado do Rio cerca de 2,65 milhões de pessoas maiores de idade que não se vacinaram contra a covid-19 e estão elegíveis. Isso significa que de todos os adultos fluminenses, 19,8% ainda não tomaram sequer a primeira dose.

Reportagem do O DIA publicada na quarta-feira (8) mostrou que 66% dos leitos de enfermarias e UTIs em todo o estado foram ocupados, em agosto, por pessoas que não possuem registro de vacinação no Sistema Nacional Sivep-Gripe, do SUS. Entre quem recebeu a primeira ou segunda dose da vacina, apenas um terço dos pacientes em todo no Rio ocupam os hospitais.

Em São Gonçalo, segundo município mais populoso do Rio, a prefeitura informou que de todos os pacientes que foram a óbito na cidade, 87% não estavam vacinados. Entre os 13% imunizados, a maioria era idosa e tinha severa comorbidade.
Estagiário sob supervisão de Mário Boechat
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