Cerca de 96% de todas as hospitalizações no município de São Gonçalo foram provocadas por pacientes não vacinados de janeiro até o final de agosto de 2021.Foto: reprodução internet

Rio - Uma filtragem feita pelo DIA nos dados abertos do sistema federal Sivep-Gripe do SUS indicam mais uma confirmação de que as vacinas contra a covid-19 protegem a população contra óbitos, hospitalizações e casos graves da doença. No mês de agosto, das 4.353 pessoas que foram hospitalizadas com problemas relacionados à síndrome gripal e síndrome gripal aguda grave (SRAG) em todo o Estado do Rio, apenas 1.468 pessoas informaram terem sido vacinadas com a primeira ou segunda dose da covid-19. Isso significa que 66% de todos os que deram entrada nos hospitais fluminenses não confirmaram se receberam a vacina e podem não ter se imunizado.

Se forem considerados todos os 4.353 fluminenses hospitalizados registrados no sistema Sivep-Gripe, apenas 903 informaram ter tomado duas doses da vacina. O número equivale a 20% do total de pessoas que tiveram problemas respiratórios e podem ter precisado de internação médica.

A filtragem dos dados brutos possuem uma margem relativa de imprecisão e erro, mas a mesma lógica que indica o poder de proteção da vacina se repete quando a análise é feita em outros municípios fluminenses. De todos que foram procurados, apenas São Gonçalo disponibilizou informações internas para a reportagem. Os indicadores medidos pela prefeitura local mostram que 2.640 pessoas foram internadas entre janeiro e agosto deste ano. Deste total, 2.529 pacientes não tomaram qualquer tipo de imunizante contra a covid-19. Os números surpreendem e mostram que 96% de todas as hospitalizações do município foram provocadas por gonçalenses não vacinados.

Segundo a Prefeitura de São Gonçalo, 1.650 pessoas morreram por covid-19 desde janeiro até o final de agosto deste ano. Desse total, 1.436 pacientes (equivalente a 87%) não tomaram nenhuma vacina contra a covid-19. A contagem do município mostra que 214 não resistiram mesmo tomando a primeira dose e outros 65 com as duas doses. Em nota, o município esclareceu que todos os completamente imunizados eram idosos e tinham algum tipo de comorbidade. A idade média de óbitos de pessoas que não relataram ter tomado qualquer tipo de vacina é de 64 anos.

No município do Rio de Janeiro, a filtragem de dados indicou que 59,5% dos cariocas que deram entrada nos hospitais com sintomas respiratórios, especificamente do mês de agosto, não informaram ter tomado nenhum tipo de vacina contra a covid-19. Os dados do Sivep-Gripe mostram que 2.566 cariocas foram hospitalizados na cidade, e que 1.039 destes receberam uma ou duas doses da vacina. Entre os pacientes que confirmaram ter tomado duas doses, indicando inclusive a data da vacinação, apenas 698 de 2.566 (equivalente a 27%) foram parar no hospital com sintomas respiratórios.

Em Niterói, cerca de 79,6% de todos os moradores que precisaram procurar os hospitais no mês de agosto com sintomas respiratórios não informaram ter recebido nenhuma vacina contra a covid-19. De um total de 295 pessoas, apenas 60 que precisaram de atendimento médico receberam uma ou duas doses da vacina. Só 14 pacientes vacinados confirmaram ter tomado as duas doses, indicando a data de imunização.

A taxa de ocupação dos leitos de UTI e enfermarias dos hospitais no Estado do Rio tem indicado registros de estabilidade nas duas últimas semanas, após um forte aumento provocado pela variante Delta, e se encontra em 67% de acordo com o painel de monitoramento estadual. Na capital, o índice é de 84%.
A SES foi questionada sobre os dados mencionados na matéria retirados do Sivep-Gripe do Sus, mas até o fechamento desta matéria não se posicionou.
Importância da vacina
O médico infectologista Alberto Chebabo, que é vice presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e membro do Comitê Científico do Rio, pontua que os dados refletem a prática do que é visto nos hospitais. Segundo ele, já está comprovada a eficácia da vacina na redução de casos graves e de internações. 
"A gente sabe que o risco de uma pessoa vacinada adoecer, mas principalmente de forma grave, é muito baixo. Principalmente quando se compara aquela população que não se vacinou. Então o maior risco de adoecimento de forma grave e morte é da população não vacinada. Estamos vendo isso não só aqui no Rio, mas também em países com alta taxa de vacinação", garante. 
Ainda segundo ele, os dados do Sivep-Gripe só confirmam essa realidade que já vem sendo vista em outro países, como nos Estados Unidos, que tem tido surtos da doença em estados onde a cobertura vacinal é reduzida.  "Esse dado do Sive mostra exatamente isso: o poder de proteção que a vacina tem, principalmente em casos graves", conclui.
Estagiário sob supervisão de Gustavo Ribeiro
Colaborou Lucas Cardoso