Publicado 17/09/2021 12:07 | Atualizado 17/09/2021 13:25
Rio - A 'Operação Batutinhas' que desmantelou nesta sexta-feira uma quadrilha que vendia drogas por aplicativos de mensagens em bairros nobres do Rio começou com uma troca de tiros entre seus integrantes e policiais na Lagoa Rodrigo de Freitas em abril deste ano. Apontado como chefe do grupo, Alluan de Almeida Brito Araújo, o Alfafa, foi preso na ocasião com 1,5 kg de maconha.
A Justiça soltou Alluan e deferiu as medidas cautelares para a Polícia investigar mais a fundo o caso, o que foi feito. Na sequência, a Justiça determinou as prisões preventivas e nesta sexta-feira "Alfafa" voltou a ser preso.
O esquema foi descoberto a partir da quebra de sigilo do celular de Alluan, apreendido na ocorrência, no qual o grupo de aplicativo de mensagens "Alfafa Batutinha Best Quality Drug's", em que a droga era negociada, foi identificado pela polícia.
"Essa investigação começou através de uma informação que a Desarme chegou no bairro do Leblon que haveria uma troca de drogas por um fuzil de assalto. Nessa abordagem houve uma troca de tiros, na época, muito noticiada pela imprensa. A partir dessas prisões, conseguimos avançar nos integrantes chaves dessa organização criminosa e descobrimos que essas armas de fogo adquiridas pela organização criminosa visavam dar um suporte logístico de segurança e de também domínio territorial do asfalto", explica o delegado titular da Desarme Gustavo Ribeiro.
Na ocorrência de abril, Alluan tinha pedido apoio ao ex-policial militar Edmilson, o Bolado, para acompanhá-lo em uma ação que temia ser uma emboscada de grupos rivais. O setor de inteligência da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) obteve a informação de que Alluan realizariam a entrega de um fuzil naquela data.
Ao abordarem o veículo utilizado por Alluan, um táxi Spin, foram atacados a tiros por indivíduos embarcados em outro carro, um Voyage prata. Os policiais perseguiram os agressores e parte da equipe permaneceu no local, onde apreenderam a droga dentro do táxi do Alluan.
As investigações demonstraram que quem disparou contra os policiais naquela noite foi Edimilson Gomes da Silva, ex-PM com passagens por disparo de arma de fogo, estelionato e homicídio qualificado. Edmilson, o "Bolado", trabalhava como "soldado" do grupo, fazendo escoltas em entregas de drogas. Ele também guardava as armas de fogo e munições da quadrilha.
No dia 8 de abril, dia da troca de tiros com os policiais da Desarme, Alfafa chamou Edmilson para apoiá-lo na entrega de drogas no Leblon. Às 17h45 daquele dia, Alluan disse que a operação seria rápida para entregar dois quilos de maconha "Colômbia Gold".
"Você consegue me encontrar? Que eu vou pegar outro material, tá ligado? É porque eu vou passar dois metrinhos de “Colômbia Gold”, tá ligado? Aí o maluco vai pagar. O maluco é amigo do pai de uma cliente minha. Tá ligado?", disse por áudio ao ex-PM.
Edmilson concorda em participar da ação e diz que vai usar o próprio carro, um Voyage. Já Alluan, avisa que vai com seu táxi, se passando por motorista para não levantar suspeitas ao circular pela Zona Sul da cidade. Os policiais identificaram que "Bolado" se passava por PM da ativa para o grupo, embora não pertença mais aos quadros da secretaria. Alluan queria que o comparsa o livrasse de eventuais abordagens policiais, utilizando-se de seus supostos contatos na corporação.
"Pode ir, que eu tô na fila amarelinho. Tá ligado? Aí que acontece, eu queria só isso mesmo, entendeu? Com medo de ser bote. Aí tu chega na hora também irmão. Tá Ligado? Ooou o moleque tá comigo, entendeu?"
No caminho, Edimilson envia a imagem do fuzil automático, similar ao Colt AR-15, calibre .556, mostrando que está portando a arma de alto poder de fogo durante a escolta, o que empolga o chefe: "Cara*** Papai !!! eu gosto disso p*** !!!".
Naquela noite, Alluan seria preso com 1,4 kg de maconha, após ser abordado por policiais civis da Desarme, que apuravam informe sobre uma negociação de armas de fogo. Durante a abordagem, os policiais foram atacados por disparos de arma de fogo, inesperadamente realizados pelos ocupantes de um Voyage cinza, que fugiram após a reação dos agentes. Parte da equipe policial que participava da operação iniciou perseguição aos agressores e encontrou o carro na saída do Leblon, sem os ocupantes.
Pagamentos em criptomoedas
A organização criminosa investia em ferramentas de tecnologia e recebia pagamentos até em criptomoedas. Segundo o delegado titular da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (DESARME), Gustavo Ribeiro Rodrigues, o objetivo da quadrilha era dificultar o trabalho de investigação policial, atrapalhando o rastreamento da movimentação financeira.
"É uma quadrilha muito sofisticada, eles utilizavam ferramentas modernas de aplicativo para poder processar esses pedidos dos consumidores de bairros de luxo na cidade e fazer integração com os estoquistas, entregadores. Eventualmente, em cargas maiores, que envolviam grandes quantidades de droga e dinheiro, os chamados seguranças da quadrilha também iam armados, para evitar que quadrilhas rivais interceptassem essa entrega de drogas", informou o delegado.
"É uma quadrilha muito sofisticada, eles utilizavam ferramentas modernas de aplicativo para poder processar esses pedidos dos consumidores de bairros de luxo na cidade e fazer integração com os estoquistas, entregadores. Eventualmente, em cargas maiores, que envolviam grandes quantidades de droga e dinheiro, os chamados seguranças da quadrilha também iam armados, para evitar que quadrilhas rivais interceptassem essa entrega de drogas", informou o delegado.
Ainda segundo Ribeiro, por conta dessa formas de pagamento, o Juízo da 19º Vara Criminal determinou que um novo inquérito policial fosse aberto para apurar uma suposta lavagem de dinheiro através das criptomoedas. A quadrilha também aceitava transferência bancária e PIX.
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