Grupo de traficantes que faziam delivery de drogas usava imagens do seriado 'Os Batutinhas'Divulgação
Publicado 17/09/2021 13:23
Rio - Os traficantes que faziam delivery de drogas para áreas nobres da Zona Sul e da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, realizavam a comercialização através de um grupo em um aplicativo de mensagens. As investigações apontam que Alluan de Almeida Brito Araújo, chefe do quadrilha, adotou um "modelo de gestão empresarial" e divulgava ofertas de todos os tipos de substâncias ilícitas no aplicativo. No relatório final da Polícia Civil obtido pelo DIA aponta que eles também ofereciam uma espécie de 'cardápio' de drogas para os clientes. Nesta sexta-feira (17), o bando foi alvo de uma operação que cumpre 18 mandados de prisão e 31 de busca e apreensão. Até o momento, 14 pessoas foram presas. 
O 'menu' oferecia diversas variedades de maconha, haxixe, skunk, cocaína, anfetamina, LSD e ecstasy. De acordo com os valores de fevereiro deste ano, o preço de dez gramas do 'Haxixe Supreme' estava em R$ 500. Já a "White Colômbia 97%", estava avaliada em R$ 150 por grama. Drogas como a "Skank Sourdiesel", chegavam a custar R$5500 por 100 gramas. As opções de LSD variavam em R$ 70 por a R$ 350 por grama.
Grupo 'Alfafa Batutinha' tinha 'cardápio' de drogas para clientes em grupo de aplicativo de mensagens - Reprodução
Grupo 'Alfafa Batutinha' tinha 'cardápio' de drogas para clientes em grupo de aplicativo de mensagensReprodução
 
A quadrilha usava o aplicativo de mensagens para facilitar o contato com os usuários, os quais acessavam a conta comercial do aplicativo "Alfafa Batutinha Best Quality Drugs" para realizar a encomenda da droga. O relatório mostra que "a fim de seduzir maior número de usuários, o investigado utiliza a imagem ingênua do personagem do seriado infantil 'Os Batutinhas'" na conta.
Ao acessar a conta, o cliente é recebido por uma mensagem automática: "Olá, tudo bem? Obrigado pelo seu contato. Como posso ajudar você? Caso queira algo, por favor agilize o pedido com endereço de entrega e forma de pagamento. Todos os pedidos são feitos e finalizados com o Alfafa, jamais com motorista do dia".
Logo após a mensagem, o cliente também recebe um formulário, para que seja preenchido os detalhes do pedido da droga. O usuário precisa informar alguns dados, como nome, endereço para entrega, o tipo de droga encomendada e forma de pagamento. Como forma de pagamento, o grupo liderado por Alluan aceitava transferências bancárias, PIX e até criptomoedas. O delegado titular da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme), Gustavo Ribeiro Rodrigues, aponta que o uso das criptomoedas também tinha como objetivo atrapalhar possíveis investigações policiais. 

Todos os denunciados responderão por associação ao tráfico e alguns também irão responder por tráfico de drogas, receptação e resistência qualificada.
'Alfafa Batutinha'
A 'Operação Batutinhas' começou com uma troca de tiros entre seus integrantes e policiais na Lagoa Rodrigo de Freitas em abril deste ano. Apontado como chefe do grupo, Alluan de Almeida Brito Araújo, o Alfafa, foi preso na ocasião com 1,5 kg de maconha. O esquema foi descoberto a partir da quebra de sigilo do celular de Alluan, apreendido na ocorrência, no qual o grupo de aplicativo de mensagens "Alfafa Batutinha Best Quality Drug's", em que a droga era negociada, foi identificado pela polícia.
Na ocorrência de abril, Alluan tinha pedido apoio ao ex-policial militar Edmilson, o Bolado, para acompanhá-lo em uma ação que temia ser uma emboscada de grupos rivais. O setor de inteligência da Delegacia Especializada em Armas, Munições e Explosivos (Desarme) obteve a informação de que Alluan realizariam a entrega de um fuzil naquela data.
Ao abordarem o veículo utilizado por Alluan, um táxi Spin, foram atacados a tiros por indivíduos embarcados em outro carro, um Voyage prata. Os policiais perseguiram os agressores e parte da equipe permaneceu no local, onde apreenderam a droga dentro do táxi do Alluan.
As investigações demonstraram que quem disparou contra os policiais naquela noite foi Edimilson Gomes da Silva, ex-PM com passagens por disparo de arma de fogo, estelionato e homicídio qualificado. Edmilson, o "Bolado", trabalhava como "soldado" do grupo, fazendo escoltas em entregas de drogas. Ele também guardava as armas de fogo e munições da quadrilha.
No dia 8 de abril, dia da troca de tiros com os policiais da Desarme, Alfafa chamou Edmilson para apoiá-lo na entrega de drogas no Leblon. Às 17h45 daquele dia, Alluan disse que a operação seria rápida para entregar dois quilos de maconha "Colômbia Gold".
"Você consegue me encontrar? Que eu vou pegar outro material, tá ligado? É porque eu vou passar dois metrinhos de “Colômbia Gold”, tá ligado? Aí o maluco vai pagar. O maluco é amigo do pai de uma cliente minha. Tá ligado?", disse por áudio ao ex-PM.
Naquela noite, Alluan seria preso com 1,4 kg de maconha, após ser abordado por policiais civis da Desarme, que apuravam informe sobre uma negociação de armas de fogo. Durante a abordagem, os policiais foram atacados por disparos de arma de fogo, inesperadamente realizados pelos ocupantes de um Voyage cinza, que fugiram após a reação dos agentes. Parte da equipe policial que participava da operação iniciou perseguição aos agressores e encontrou o carro na saída do Leblon, sem os ocupantes.
*Estagiária sob supervisão de Cadu Bruno
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