Publicado 09/11/2021 14:47
Rio - A Corregedoria da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) decidiu arquivar a sindicância que havia sido instaurada para apurar as circunstâncias da soltura do traficante Wilton Carlos Rabelo Quintanilha, o Abelha, no dia 27 de julho. Apontado como um dos líderes do Comando Vermelho (CV) e integrante do Conselho da facção, Abelha saiu pela porta da frente de uma das unidades do Complexo de Gericinó, em Bangu, mesmo estando com um mandado de prisão em aberto, expedido no dia 14 daquele mesmo mês.
A sindicância foi instaurada no início de agosto para investigar se algum servidor da Seap participou de forma ilegal na soltura irregular. Na época, Raphael Montenegro era o secretário da pasta. Montenegro chegou a ser preso em 17 de agosto, pela Polícia Federal, por suspeita de negociar acordos com a organização criminosa e só foi exonerado do cargo no dia de sua captura. Ele foi solto cinco dias depois.
No documento de despacho do corregedor Fernando Vila Pouca de Sousa, a qual O DIA teve acesso, "após a realização dos trabalhos apuratórios, não foi comprovado o cometimento de quaisquer irregularidades nos procedimentos realizados para o cumprimento do mandado judicial constante do alvará de soltura".
A pasta informou que a corregedoria se baseou em documentos elaborados pela Justiça para decidir pelo arquivamento. "A Justiça emitiu um parecer que, inclusive, está nos autos da sindicância, informando que de fato houve uma falha na alimentação do sistema de alvarás de soltura, não tendo incluído o alvará no banco de dados a tempo de impedir a soltura. Na ocasião, a Justiça informou não haver mandados de prisão pendentes.", disse, em nota.
O DIA divulgou a soltura irregular com exclusividade no dia 29 de julho. Na época, o Tribunal de Justiça afirmou a reportagem que no dia 14 de julho o juiz Alexandre Abrahao Dias Teixeira, da 3ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), assinou o mandado e decretou que ele fosse cumprido. De acordo com a assessoria do TJ, os ofícios sobre a decisão foram encaminhados à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), que teria confirmado o recebimento.
Sobre a possível participação de Montenegro no caso, a Seap declarou que a partir do momento que ele deixou de ser secretário da pasta, não existe mais a possibilidade do mesmo ser responsabilizado administrativamente pela Corregedoria do órgão, e que neste caso, o responsável pela investigação poderia ser acusado, inclusive, de abuso de autoridade. Desta forma, a instituição irá enviar a cópia do processo ao Ministério Público do Rio (MPRJ).
A secretaria ainda garantiu que em relação a outros fatos que envolvem a participação dos demais servidores da Seap, as apurações administrativas prosseguem através de processo administrativo disciplinar instaurado em Comissão permanente de inquérito.
Abelha foi acusado de coordenar da cadeia invasão ao São Carlos
O Tribunal expediu um mandado por homicídio contra Abelha, por conta da morte de Ana Cristina Silva, de 26 anos, atingida por um tiro durante uma invasão de criminosos do CV ao Complexo do São Carlos, na Zona Norte do Rio. Ela seguia para o bar onde trabalhava, quando ficou no meio do fogo cruzado e tentou proteger o filho de apenas três anos.
De acordo com investigações, Abelha, que é uma antiga liderança da organização criminosa, ordenou de dentro da Penitenciária Gabriel Ferreira Castilho, Bangu 3, a invasão ao conjunto de favelas.
Mesmo com a determinação para que Abelha seguisse preso em decorrência deste novo crime, ele foi beneficiado no dia 20 de julho com um alvará de soltura, devido a outro processo.
O traficante integra o grupo chamado de ‘conselho’, onde os criminosos com maior posição hierárquica dentro da facção tem poder de decisão. Esses líderes, mesmo presos, são os responsáveis por coordenar negócios clandestinos a nível estadual e nacional, pela organização financeira e por determinar invasões territoriais a comunidades controladas por rivais.
Abelha tem forte influência nas favelas do Santo Amaro, Mangueira, Manguinhos e Complexo do Alemão. Por conta do seu forte poder de decisão, ele, que estava preso desde 2002, chegou a ser transferido para presídios federais duas vezes.
Investigações da Polícia Civil apontam que ele buscou refúgio no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio.
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