Publicado 29/11/2021 05:00 | Atualizado 29/11/2021 15:16
Rio - Em setembro de 2013, um engarrafamento se formou na Rio-Santos, na altura de Santa Cruz. O motivo da retenção: a polícia deixou o fluxo em meia pista pois quatro corpos foram encontrados carbonizados. Para burlar o trânsito, um motorista dirigiu no acostamento e se deparou com a equipe da Delegacia de Homicídios. Sem conseguir dar marcha à ré, ele desceu do carro, se ajoelhou, e disse: "Sou da firma e tenho uma arma". Tratava-se de Danilo Dias Lima, o Tandera, um dos milicianos mais procurados do estado, atualmente.
"Essa foi a primeira prisão dele, por acaso. Na época, eu estava no local como plantonista da Delegacia de Homicídios", relembra o delegado William Penna Júnior, que atualmente é titular da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas), e tem Tandera como um dos seus principais alvos. O miliciano saiu da prisão em 2016 com um benefício e não retornou.
A Força-Tarefa da Polícia Civil chegou, na semana passada, à marca de mil suspeitos de milícia presos. Entre as prisões estão importantes lideranças, como Edmilson Gomes, o Macaquinho, além de líderes secundários. A cada ação, pistas são apreendidas. Uma delas foi um caderno de anotações de Tandera que a Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) apreendeu e ao qual O DIA teve acesso e cruzou com dados do Disque Denúncia.
Na brochura, além da distribuição do arsenal de quase cem fuzis, há os apelidos de parte de matadores e cobradores da quadrilha.
Um deles, de apelido Fofo, aparece em uma denúncia, levantada pela reportagem, como de nome Moisés. A denúncia diz que ele iria se reunir com a quadrilha para realizar um ataque a um show de pagode no dia 14 de novembro, no bairro Cosmos, na Zona Oeste. Na apresentação, que aconteceria em um clube, estavam integrantes da quadrilha de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho. A ação foi suspensa após reforço da polícia na região. Fofo, além de assassino da milícia, tem em suas mãos 12 fuzis e é responsável por comprar munições, segundo dados do caderno. Ele teria gasto, em uma semana, R$ 63 mil com a aquisição. Além disso, também é responsável por acharcar comerciantes e moradores no Jesuítas e Manguariba. "Ele vive armado, cobrando taxas de seguranças aos comerciantes, moradores, coordena central clandestina de internet e atua como agiota", diz uma das denúncias.
Um outro apelido que está no caderno é o de Bebezão. Ele seria, segundo as anotações, responsável por arrecadar R$ 320 mil com invasões a terrenos para obras. Também já foi denunciado à Justiça por desmonte de veículos e foi chamado por Fofo para o ataque que ocorreria ao show.
Outros apelidos que aparecem no caderno são investigados por homicídios e extorsões: Varão, Naldinho, TH Bode, Mutante, Iago e Delsinho.
Delsinho: irmão de Tandera usaria Jacaré para torturas
O apelido de Delsinho é referência a Delson Lima Neto que, apesar de não ter mandado de prisão ativo, é procurado por ser evadido do sistema prisional. Delson é investigado por uma série de assassinatos, alguns com crueldade, com o uso de facas. Algumas mortes teriam sido filmadas, e há uma força-tarefa específica para a sua captura, com unidades da Baixada Fluminense.
Neste mês, a DRE encontrou um jacaré em uma das suas casas e suspeita que o animal seria usado para gerar medo nas vítimas, como forma de tortura.
Polícia apura ligação entre Toni Ângelo e Tandera
Uma das denúncias feita ao Disque Denúncia reforça a linha de investigação que aponta a influência do miliciano Toni Ângelo, preso desde 2013, com Tandera. Segundo a informação, Ângelo tinha conhecimento do ataque ocorreria no show, em Cosmos.
Já no caderno de Tandera está escrito o apelido Toni B8, o que poderia ser referência a um dos presídios de Bangu, complexo onde ele se encontra detido. Mas, até agora, segundo a polícia, não há nada de concreto na ligação entre Toni e Tandera, com exceção do inimigo em comum: Zinho.
Isso porque, no ano passado, Ecko (1986-2021) teria determinado que o irmão de Toni, Thiago de Souza Aguiar, fosse executado. Após a morte de Ecko, Zinho, um dos seus irmãos, o sucedeu no comando do
grupo miliciano. Tandera também rompeu com Ecko, por briga de fuzis.
grupo miliciano. Tandera também rompeu com Ecko, por briga de fuzis.
No caderno, o apelido Toni B8 está associado ao controle de cinco pistolas, 11 fuzis e 34 carregadores de diferentes calibres. Toni foi preso dentro de um hospital na Zona Oeste do Rio, após se ferir em uma briga de bar. Ao lado de Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, e Marcos José Lima, o Gão, comandou a Liga da Justiça. Ao longo dos anos, o grupo paramilitar se transformou na milícia de Ecko.
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