Publicado 09/12/2021 10:51
Rio - Ao longo de oito meses de investigações a Polícia Civil reuniu interceptações telefônicas e áudios que levaram à conclusão de um crime bárbaro: os primos Alexandre da Silva, 10, e Lucas Matheus da Silva, 8, e Fernando Henrique Ribeiro Soares, 11 anos, foram mortos por traficantes do Castelar, na Baixada Fluminense. Nesta quinta-feira, a Polícia Civil realiza operação para prender 56 traficantes que atuaram, direta ou indiretamente, na morte das crianças. Até às 11h, 32 haviam sido presos.
A reportagem do DIA teve acesso a alguns desses depoimentos. No dia 27 de dezembro, uma testemunha afirma que viu Alexandre com uma gaiola. "Que neste momento viu Alexandre com uma gaiola de passarinho dentro e viu também Luiz Fernando com outra gaiola, porém vazia. (...) Que no dia seguinte os três meninos haviam sumido".
A mesma testemunha disse que ouviu os meninos se programando para "fazer um rolo com os passarinhos na feira". A feira de Areia Branca é conhecida pela negociação de passarinhos, conforme a reportagem mostrou em outubro.
Uma outra testemunha disse que ouviu de Wille de Castro, o Estala, então gerente do tráfico do Castelar, que ele havia matado as crianças por elas terem pego o passarinho do seu tio. "Nós pegamos as crianças, matamos elas, elas estavam roubando no morro, pegaram o passarinho do meu tio para vender na feira", segundo o relato.
A polícia reuniu provas de que os meninos foram autorizados a passar por uma sessão de espancamento como castigo; uma das crianças não resistiu e, as outras, foram mortas como queima de arquivo.
A autorização teria partido dos traficantes Piranha e Doca, chefes do Comando Vermelho. Piranha teria sido morto em um tribunal do tráfico após repercussão do caso; Doca continua atuante no Complexo da Penha.
Uma outra testemunha afirmou que a traficante Ana Paula da Rosa Costa, a Tia Paula, parou uma moto e foi até o carro onde os corpos estavam no porta-malas. Ela teria dirigido o veículo até um rio, onde os corpos, esquartejados, foram jogados. Assim como Estala e Piranha, Paula teria sido morta por traficantes do Complexo da Penha, por ordem de Wilson Quintanilha, o Abelha, conforme O DIA revelou em outubro.
Na época, traficantes chegaram a enviar uma mensagem para a reportagem afirmando que "o traficante Piranha (chefe do tráfico do Castelar) foi executado por ordem do chefe do Comando vermelho Abelha, não por ter sido culpado pela morte das criancinhas, e sim por ter sido negligente nos fatos que envolveram o caso das mortes das criancinhas" e que "havia indícios da morte das crianças no Castelar".
Após a publicação da reportagem, Abelha, através da sua defesa, negou envolvimento no chamado tribunal do tráfico.
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