Mestre Monarco é velado na Quadra da Portela, em Oswaldo CruzReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Publicado 12/12/2021 07:28 | Atualizado 12/12/2021 13:52
Rio - Berço do samba e da alegria, neste domingo, a quadra de uma das mais tradicionais escolas de samba amanheceu de luto, com o 'coração em desalinho', como diz a canção de Hildemar Diniz, o Mestre Monarco, que morreu neste sábado. Ao som de sambas de sua autoria, centenas de pessoas se despediram do sambista. Canções como 'Vai vadiar", "O Quitandeiro" e "Portela Querida" foram puxadas pelos ritmistas da escola no velório que começou às 11h.
Dezenas de coroas de flores foram colocadas na quadra, além das bandeiras da Império Serrano, Unidos de Jacarepaguá, Mangueira e Viradouro. Ele tinha 88 anos estava internado desde outubro no Hospital Federal Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio, para fazer uma cirurgia no intestino, mas não resistiu às complicações.

Famosos também estiveram na quadra da Portela pra se despedirem do presidente de honra da escola. Diogo Nogueira ressaltou a importância de Mestre Monarco. "Nosso papel hoje é manter vivo o legado dele e continuar cantando as canções desse homem imenso que sempre valorizou os jovens compositores do samba. A memória dele continua viva através de suas canções e sua elegância. Ele era a própria Portela".
Marisa Monte, uma das primeiras a chegar, relembrou encontros com Monarco. "Ele foi um brilhante compositor que deixou sambas que serão cantados pra sempre nas rodas de samba. Sempre era muito gostoso conversar com ele. Tinha a cabeça muito lúcida. A educação a gentileza a altivez, foram sua marca. É uma perda muito grande, mas também foi um privilégio para nós termos convivido com um homem tão brilhante".

Amigos há 57 anos, Paulinho da Viola falou sobre a amizade dos dois e ressaltou a inteligência do baluarte. "Monarco era história, era a voz de um tempo que não temos mais. Cada encontro com ele a gente descobria que não sabia nada. Já tem um grupo preocupado em que os mais novos não dependam apenas da oralidade e da história dos mais velhos. Monarco estava sempre presente na Portela".

Paulinho da Viola relembrou o samba de autoria de Monarco que mais o marcou. "Quando eu cheguei na Portela, em 1964, o samba mais cantado dele era 'Portela, passado de Glória', um samba muito bonito".

Emocionado, o prefeito Eduardo Paes também prestou homenagens à Monarco, a quem considerou como amigo e conselheiro. "Eu perdi um grande amigo, um conselheiro. Perdemos um grande patrono do samba, a mais brasileira de todas as músicas. Monarca era uma figura importante para a Portela, vai deixar muita saudade ".

Importante personalidade na escola, a sala de troféus da escola, inaugurada na última sexta-feira, recebeu o nome do Mestre Monarco. "Eu via Monarco e eu via o samba. Perdemos uma grande referência", disse
Elmo José dos Santos, diretor de carnaval da Liesa.

História no mundo do samba

Monarco possui composições que marcaram a história do samba em 60 anos de uma trajetória marcada pela fidalguia e a valorização do samba. Obras como "De Paulo a Paulinho"; "Lenço"; "Nunca vi você tão triste"; "Passado de glória"; "Portela desde criança"; "Proposta amorosa"; "Quitandeiro"; "Tudo menos amor" e "Vai vadiar".

Presidente de honra da Portela desde 2013, Monarco deixa um legado imensurável para a cultura brasileira. Ainda jovem fez parte do grupo de sambistas que era perseguido pela polícia, pois samba era considerado uma manifestação marginal.
Monarco foi criado no bairro de Oswaldo Cruz, onde desde muito pequeno frequentava as rodas de samba da Portela. O apelido Monarco chegou aos seis anos de idade. Aos 17 anos, Monarco ingressou na ala de compositores da azul e branca de Oswaldo Cruz e Madureira. Seu padrinho e incentivador foi Alcides Malandro Histórico, um dos maiores poetas da história da Portela.
O baluarte portelense ingressou em meados dos anos 40 no Bloco Primavera e também chegou a atuar como diretor de harmonia da Portela. Monarco nunca teve um samba-enredo de sua autoria levado pela escola na avenida em um carnaval.
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