Publicado 16/12/2021 18:56
Rio - Após as redes municipal e estadual de Educação do Rio anunciarem, nesta quinta-feira 16), que os alunos serão aprovados em 2021 mesmo com notas baixas, o DIA entrevistou alguns especialistas para debaterem sobre o assunto. Vale lembrar que a única possibilidade de reprovação acontecerá em caso de pouca frequência. O estudante precisa ter comparecido no mínimo em 75% das aulas; tanto as onlines, quanto as presenciais.
Cláudia Costin, diretora do Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), disse à reportagem que o maior dano para os alunos já aconteceu por conta da covid-19. "A maior parte dos estudantes brasileiros ficaram praticamente dois anos letivos inteiros com escolas fechadas. Durante essa grave crise, não cabe falar em reprovação. Num contexto em que a evasão escolar está explodindo, não podemos fingir que está tudo bem e reprovar todo mundo. Não dá para atrasar mais um ano".
Além disso, Cláudia alertou para que tanto o município, como o estado, criem um sistema de "resgate de aprendizagem". Ela deu a dia de cursos de férias e pós escola.
"Eles (órgãos responsáveis) têm que mobilizar todas as energias para recuperar os alunos. Não podemos esquecer da situação que eles passaram. Há de ter uma atenção sobre o conjunto, não só para aqueles que não conseguiram aprender por falta de conectividade e livros. Acho que a 'não reprovação' é certa, desde que as secretarias criem um mecanismo sólido para ajudar os estudantes", finalizou.
O DIA também entrou em contato com o Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe-RJ). Flávio Lopes, que é coordenador, afirmou que não é a favor da reprovação em massa, mas ressaltou que a aprovação automática acaba desqualificando o trabalho feito pelas escolas.
"Isso esconde a real situação da educação, de evasão e pouca apreensão dos conteúdos por conta da precariedade do ensino remoto e online", afirmou.
Ele alegou ainda que os profissionais de educação não foram consultados sobre a não reprovação dos alunos com notas baixas. "Eles não foram consultados. Estávamos fazendo todo um trabalho de organização para tentar recuperar e garantir a aprendizagem dos estudantes e a Seeduc (Secretaria Estadual de Educação) vem do nada com essa medida autoritária, sem nenhum tipo de debate".
Maria Beatriz Lugão, diretora do Sepe, concordou com Flávio sobre a falta de comunicação entre as secretarias de educação e os professores.
"O processo de avaliação deveria ter sido negociado e discutido com os profissionais. Os professores nunca foram a favor da reprovação em massa, mas a aprovação automática não é muito favorável. Pode mascarar todo o processo pedagógico que aconteceu durante a pandemia, inclusive as dificuldades que os alunos tiveram, como por exemplo o acesso às aulas por conta de não terem as tecnologias e internet, que foi coisa que os governos não investiram".
Ao finalizar, a diretora ressaltou que o que o município e o estado estão fazendo é "muito ruim". "Está se tornando uma coisa completamente superficial. Isso se deve pelo pouco investimento à Educação na pandemia. Foi todo um processo imposto sem discutir as realidades".
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