Publicado 21/12/2021 00:44 | Atualizado 21/12/2021 00:51
Rio - 'Devemos contaminar os bostileiros com radiação'. Assim, utilizando um termo depreciativo para se referir aos brasileiros, Matheus Hades NS, apelido de um integrante de um grupo neonazista, justificou o recrutamento de jovens para o que chamou de 'ataque kamikaze' a uma das usinas nucleares de Angra dos Reis.
A mensagem foi obtida pelo Ministério Público durante as investigações que culminaram com a Operação Bergon, na quinta-feira, e consta na denúncia apresentada ontem à Justiça. A ação é resultado de uma parceria da Dcav (Delegacia da Criança e Adolescente Vítima) com o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) e desarticulou três grupos neonazistas, espalhados em sete estados. Matheus Hades NS foi um dos quatro presos na ação, que teve 31 mandados de busca e apreensão.
O grupo do Whatsapp, ao qual Matheus fazia parte, foi intitulado 'A Division' e criado em fevereiro deste ano pelo filho de um desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Conforme O DIA revelou em junho, a prisão do filho do magistrado ocorreu em maio, cinco dias após o massacre na creche de Saudades. Ele chegou, de forma indireta, a conversar com o Fabiano Mai, jovem que matou três bebês e duas professores, sobre possíveis ataques a escolas e, por isso, detido e alvo de busca e apreensão. Atualmente, o filho do magistrado está internado em uma clínica psiquiátrica.
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Foi através da prisão do filho do magistrado pela Dcav, com a apreensão dos seus celulares, que as mensagens de grupo neonazistas foram encontradas.
No diálogo, Matheus pergunta: 'Quantos você acha que têm coragem de fazer um ataque kamikaze na Usina de Angra dos Reis?'. Um usuário responde: "Uns três". No mesmo diálogo, o filho do desembargador indaga o motivo do ataque. E, Matheus explica: "Por causa da radiação. Devemos contaminar os bostileiros com isso. Se o mundo não é para ser dos costumes NS, então não será de ninguém". NS é sigla para Nacional-Socialismo, termo com o mesmo significado histórico do Nazismo.
Eletronuclear: usinas são seguras e resistentes
Procurada, a Eletronuclear, responsável pelas usinas nucleares de Angra dos Reis, afirmou que não há possibilidade de vazamento de radiação. As unidades foram construídas para aguentar explosões de TNT, terremotos e até uma queda direta de avião.
Confira a nota:
"Em mais de 35 anos de operação das usinas da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), nunca houve um acidente ou evento externo que pusesse em risco os trabalhadores das usinas, a população ou o meio ambiente da região. Um dos principais conceitos empregados na indústria nuclear é o de defesa em profundidade, ou seja, de barreiras em série.
Por se tratar de uma forma de energia concentrada, a segurança das instalações nucleares vai muito além das grossas paredes de aço (interna) e concreto (externa) que cercam os reatores das usinas e protegem contra o aumento de pressão no interior do reator. As instalações nucleares contam com sistemas de segurança passivos, que entram automaticamente em ação em situações de emergência para impedir acidentes, desligando e resfriando o reator de forma segura.
As usinas nucleares de Angra dos Reis também foram projetadas e dimensionadas para resistir a vários tipos de acidentes externos. Entre eles, considera-se o maior terremoto que poderia ocorrer no sítio onde se encontram as usinas e o efeito da explosão de uma carga de TNT num caminhão trafegando próximo à central, por exemplo.
Eventos como maremotos, inundações, explosões e até a queda de um avião sobre as instalações nucleares também foram considerados no projeto das usinas e não comprometeriam a segurança das barreiras de contenção do reator, que impedem a liberação de radiação para o meio externo.
Além disso, há a proteção física de um sítio nuclear, que conta com medidas adicionais de segurança, de fora para dentro. Medidas estas que vão se tornando mais rigorosas quanto mais próximas das usinas (cercas concêntricas monitoradas; corpo de guarda; guaritas externas e internas e de acesso às usinas; sistema de circuito fechado de televisão; sistema de alarme para abertura de portas; etc.).
Portanto, cabe ressaltar que o projeto das usinas nucleares brasileiras possui margens de segurança bastante satisfatórias para resistir a situações externas extremas, como as acima mencionadas, sem comprometer a estrutura onde fica o reator das usinas".
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