Açaí, salgadinhos e manicure: veja a lista de cobranças da milícia de Zinho

Taxas estavam em caderno apreendido com braço direito de miliciano, preso pela Polinter

Rio de Janeiro

Bruna Fantti
Parte da contabilidade da extorsão de milicianos: nem o açaí escapava Divulgação

Rio - Anotações apreendidas com o responsável pelas finanças de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, mostram que nem o pequeno comércio ficava livre das cobranças de milicianos: taxas eram exigidas de vendedores de açaí, manicure, barbeiros e da barraquinha de churrasquinho, entre outros.
Os nomes dos estabelecimentos e até dos bairros estavam anotados em cadernos de contabilidade, aos quais O DIA teve acesso. Eles estavam com Antônio Lúcio Fernandes Forte, o Antônio das Casinhas, preso nesta terça-feira, dia 7, pela Polinter (Divisão de Capturas e Polícia Interestadual), em sua casa, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio.
Para funcionar, a barraca de celular tinha de pagar R$ 10; a padaria, R$ 30; o chaveiro, R$ 10. As anotações não mostram qual a periodicidade dos pagamentos, mas a polícia acredita que a cobrança fosse semanal.
Foram três meses de investigações para chegar até o comparsa de Zinho (miliciano que sucedeu Wellington Braga, o Ecko, após sua morte). A função de Forte era 'lavar o dinheiro' que vinha de atividades ilícitas, ou seja, tornar as quantias arrecadas legalizadas. Para isso, a polícia descobriu que ele operava o esquema a partir de uma empresa de fachada, que atuaria no setor de administração, segurança condominial e construção civil.
Para circular o dinheiro, os moradores e comerciantes da região onde o grupo atuava — Campo Grande, Paciência e Santa Cruz, na Zona Oeste —, eram obrigados a contratar os seus serviços.
Ainda durante as buscas foram encontrados uma pistola, munições, carregadores e fardamento militar. Forte foi preso com base em um mandado de prisão pelos crimes de porte irregular de arma de fogo de uso restrito, corrupção de menores, extorsão e organização criminosa.
Venda de terrenos
A polícia também apreendeu plantas de loteamentos de terrenos, algumas com mais de 50 lotes. Em um folder, terrenos em Seropédica, na Baixada Fluminense, eram vendidos em 72 parcelas e anunciados como "promoção de Natal". Funcionários da prefeitura teriam desconto na negociação, afirmava a propaganda.
O grupo também é investigado por parcelamento irregular de solo urbano para a construção civil, subtração de terrenos de propriedade privada, entre outros crimes. Alguns dos terrenos, que tinham demarcação com plantas profissionais, já teriam sido legalizados pelo bando na prefeitura para construções.
A prefeitura de Seropédica negou que tivesse envolvimento no crime.
A Polinter é uma das especializadas que integram a Força-Tarefa da Polícia Civil para combater as milícias e, que no último dia 25, ultrapassou a prisão de mil suspeitos de integrarem milícias no estado. Criado em outubro do ano passado, e com coordenação do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), o grupo foi responsável por capturar o então principal miliciano do Rio, Wellington da Silva Braga, o Ecko, morto ao resistir à prisão.