Publicado 02/01/2022 09:00
Assim que o verão chegou, em 21 de dezembro, o meu coração entrou numa contagem regressiva bem íntima. Intuitivo por natureza, ele já estava à espera do dia em que eu e a minha família pegaríamos a estrada rumo ao Réveillon. O destino era a casa de praia em Rio das Ostras, na Região dos Lagos, onde construí lembranças bem calorosas desde a adolescência.
Essa cidade abrigou várias alegrias minhas, como a dos blocos de Carnaval com as amigas na juventude e a de ver os meus sobrinhos crescerem. É mágico relembrar como os pequenos mudaram diante da sua relação com o mar. Lembro os primeiros passos temerosos do mais velho na beirinha da água, ainda bebê. Hoje vejo ele surfando sobre as ondas, já adolescente, e fico tentando imaginar quantas cenas se passaram nesse intervalo de tempo desde o medo desenfreado e agora domado.
Essas recordações da pré-viagem se entrelaçaram com várias outras no dia de colocar o pé na estrada, mais precisamente na hora de arrumar o porta-malas do carro. Sempre dizíamos que a minha mãe levava muita coisa, inclusive comidas já preparadas e congeladas. E lá estávamos nós — eu e minha irmã — abarrotando o possante com os nossos pertences.
Meu pai e os meus sobrinhos completaram a turma na viagem da última terça-feira pela manhã, enquanto o meu cunhado nos encontrou à noite. Ainda na garagem de casa, em Duque de Caxias, percebi que o caçula se agarrava a duas bolas de futebol, uma delas para jogar altinha, enquanto eu segurava os meus dois chapéus de praia. E quem ousaria dizer o que é prioritário?
No fim, coube tudo e pegamos a estrada. O céu estava azulzinho, estendendo o seu tapete de boas-vindas aos veranistas. E o trânsito já era intenso. Aliás, engarrafamento para a Região dos Lagos sempre foi um clássico na nossa família. E casa cheia também. Até hoje eu e meus primos sorrimos de saudade da época em que a turma toda estava junta. Desta vez, em Rio das Ostras, já nos esperavam a Lurdinha e sua família, todos mineirinhos de Conselheiro Lafaiete.
Assim, as lembranças viajavam na minha mente enquanto o carro seguia pela estrada. Até que chegou a hora do almoço numa parada já tradicional, com direito a compra de cartela de ovos caipira. Retomamos a travessia e, já na reta final da viagem, mandamos mensagem para a Lurdinha para avisar que estávamos chegando. Em poucos minutos, começaríamos mais um capítulo das histórias de sol. Como as tantas que eu já havia guardado no coração, constatando que os grandes verões da vida são experimentados ao lado de companhias calorosas.
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