Publicado 07/02/2022 13:28
Rio - O sinal do recreio é abafado pelo barulho de tiros em escolas da cidade do Rio. Em 2019, 1.154 unidades da rede municipal de ensino fundamental foram afetadas por pelo menos um tiroteio com a presença de agentes de segurança pública. O número corresponde a cerca de 74% das instituições de educação do município.
O estudo inédito "Tiros no futuro: Impactos da guerra às drogas na rede municipal de Educação do Rio de Janeiro", realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), apontou que houve uma média de 19 tiroteios nas 30 escolas no 5º ano do primeiro ciclo do fundamental com alta exposição à violência. As unidades mais afetadas apresentavam maior número de alunos negros (77%) durante o período.
"A gente está divulgando esse relatório em um momento especial. Não é só um momento de volta às aulas, mas também tivemos uma decisão do STF. O que nós queremos é que o governador Cláudio Castro determine a proibição de operações policiais nas áreas de escola", afirma a socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do CESeC.
Para chegar a esses dados, o estudo avaliou a suspensão das aulas ou fechamento das mais de 1.500 instituições de ensino da rede pública carioca em 2019, último ano em que houve aulas totalmente presenciais antes da pandemia da Covid-19. A partir dos registros de ocorrências armadas do Instituto Fogo Cruzado, foram comparados dois grupos: 32 escolas com pelo menos seis operações policiais e 37 que não vivenciaram essas ocorrências.
Quando comparado o aprendizado em Língua Portuguesa e em Matemática nos dois grupos, a pesquisa revela que estudantes do 5º ano de instituições com entorno violento, que registraram 6 ou mais ocorrências de operações policiais, têm uma redução média de 7,2 pontos no desempenho em Língua Portuguesa e 9,2 em Matemática. Considerando o ganho médio anual de compreensão esperado, a exposição à violência resulta em uma perda de 64% do conhecimento esperado em Língua Portuguesa e, em Matemática, a perda é de todo o aprendizado que o aluno deveria adquirir.
"A pesquisa nos apresenta números de 2019, o que já é grave. Porém, agora com pandemia e tudo, a violência da polícia através da 'guerra às drogas' continuou nos atingindo com brutalidade, inclusive tendo que haver grande mobilização da sociedade civil para pressionar o STF, que agora acata algumas das nossas desesperadas buscas por uma vida menos violada", avalia Raull Santiago, midiativista e morador do Complexo do Alemão.
Confira outros dados do estudo
As escolas mais expostas à violência registraram, em média, no seu entorno, 10 operações policiais em 2019;
Alunos de 5º ano do ensino fundamental que vivenciaram 6 ou mais operações policiais neste mesmo ano tiveram uma redução no aprendizado esperado de, aproximadamente, 64% em Língua Portuguesa e, em Matemática, perderam todo o aprendizado que deveriam absorver no ano letivo;
O déficit de aprendizagem no 5º ano resulta numa perda financeira na vida produtiva do aluno de até R$ 24.698,00, o equivalente a 48 cestas básicas ou 377 botijões de gás.
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