Publicado 18/02/2022 18:13
Rio - A inspetora da Polícia Civil, Ana Pina, que faz o acompanhamento da liberação dos corpos das vítimas da tragédia em Petrópolis, Região Serrana do Rio, explica que a demora na identificação das vítimas é devido ao grande volume de trabalho demandado assim que um cadáver chega ao IML. A demora estava sendo duramente criticada por familiares angustiados na porta do IML nos últimos dias. Em entrevista ao DIA, nesta sexta-feira, a inspetora explicou o longo processo que é feito até que as famílias consigam dar um final digno aos entes queridos que perderam a vida após a forte chuva que assolou a cidade.
Inicialmente, as autoridades pedem para que os familiares dos desaparecidos, cujo registro já passou de 200, entre em contato por telefone com o IML de Petrópolis e faça o cadastro dessa possível vítima. Em seguida, é solicitado dados do desaparecido como: nome da mãe ou do pai, nome completo e data de nascimento. Se a pessoa tiver o documento de identidade, facilita o processo, no entanto, não é um fator primordial nesta etapa.
Após o cadastro, o familiar deixa um telefone para contato e todas as informações passadas são inseridas no banco de dados do IML de Petrópolis.
Chegada dos corpos no IML
À medida que os corpos chegam no IML, eles passam por um processo de identificação. Segundo a inspetora Ana Pina, as características físicas informadas no cadastro ajudam bastante. "Por exemplo, se a pessoa tem uma tatuagem de frase em inglês ou um piercing no rosto, nós separamos os corpos como pessoas suspeitas [de acordo com as informações do cadastro]. O corpo encontrado também passa por um outro processo de identificação que é a coleta das papilas. Elas são analisadas e comparadas com os dados para depois nomear a vítima", diz.
Em seguida, o corpo passa pelo processo de pré-liberação e, quando um parente chega ao IML e há a confirmação, o médico legista de plantão faz a declaração de óbito e o nome da pessoa entra para a lista oficial. A inspetora reforçou que para fazer o reconhecimento não é necessário expor os familiares a uma situação de dor, eles podem reconhecer apenas pelo laudo. O caixão com a vítima é liberado sem estar lacrado também, para que a família, caso deseje, possa conferir a identificação.
Já na fase de sepultamento, Ana Pina explicou que foi montado um centro de apoio funerário na saída do IML. "Existem funerárias que podem auxiliar neste momento e as famílias podem escolher se querem fazer uso ou não. Alguns já possuem um plano funeral, por exemplo".
A educadora Margareth Pereira, de 41 anos, foi uma das pessoas que reclamou da demora na liberação do corpo. Ela contou que reconheceu a mãe, uma das vítimas da tragédia, na quarta-feira (16).
"Ela foi encontrada na quarta, por volta de 12h. Nós chegamos no IML, entregamos toda a documentação, saímos de lá muito tarde com a promessa de que eles ligariam para a gente voltar e liberar o corpo. Como eles não ligaram, fomos para lá às 6h da manhã de ontem e só saí às 22h com mais uma promessa de que liberariam o corpo hoje cedo, mas até agora nada", lamentou Margareth. Segundo a educadora, muitas famílias estão na mesma situação.
Identificação de crianças
A inspetora também explicou que o processo de liberação para os corpos de crianças é diferente, já que a maioria não possui documento de RG. "Neste caso, algum familiar precisa reconhecer o corpo. Foi montado um cartório para minimizar o trabalho e temos também um posto da Defensoria Pública para o caso de crianças que não têm documento de RG. Montamos um esquema para minimizar a dor", disse.
Por causa deste processo de reconhecimento, a identificação pode ser falha. Foi o caso da bebê Helena Leite de Carvalho Paulino, de 1 ano e 11 meses, que foi reconhecida por uma família que não era dela. A família verdadeira da menina já havia reconhecido o corpo e voltaram no dia seguinte para sepultar, no entanto, ao abrir o caixão no momento do enterro os pais viram que o corpo não era da menina.
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