Publicado 22/02/2022 19:58
Rio - O radialista Rubem Confete, de 85 anos, foi demitido da Rádio Nacional, onde trabalhava há 42 anos. Na segunda semana de fevereiro, ele foi informado, por telefone, que seria desligado da empresa a partir do dia 4 de março. A decisão desagradou jornalistas e a comunidade do samba. Uma manifestação será realizada em frente à Radio Nacional, na Rua Gomes Freire, às 16h desta quinta-feira (22).
Rubem é considerado uma enciclopédia viva do samba e do Carnaval, trabalhando como jornalista, compositor, roteirista e passista. O griô do samba também foi amigo de grandes personalidades da sua geração, como Cartola, Pixinguinha, Jamelão e João Donato. Além dele, cerca de 150 funcionários que completaram 75 anos ou mais serão desligados da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), responsável pela Rádio Nacional.
Em um vídeo publicado nas redes sociais na última sexta (18), sua esposa, Zélia Confete, falou sobre a difícil situação e a devoção do radialista em sua vida profissional. "Estamos juntos há 36 anos e, nesses 36 anos, o Rubem só faltou o trabalho uma vez, quando teve conjuntivite. Esse trabalho para ele é a vida dele. Não estão tirando o trabalho do Rubem, estão tirando o sentido de viver. Ele produz muito, tem uma cabeça privilegiada. Então, foi uma surpresa muito grande para nós quando veio essa notícia", contou Zélia.
No dia seguinte, Rubem publicou outro vídeo. Ele diz que ainda se sente apto para trabalhar e aparentou descontentamento com a forma que a rádio tratou os funcionários idosos.
"Estamos aqui há 42 anos, mas a Rádio Nacional, de 4 em 4 anos, de acordo com o governo, muda toda a direção. Muda tudo, que a cúpula está em Brasília, EBC, e determinaram que os funcionários com mais de 75 anos parassem. São 148 e estou entre eles. Tenho 85 anos, mas estou em pleno gozo de minha saúde, não tenho problema. O único problema que eu tenho é retinose pigmentar, mas isso não me impede de trabalhar e desenvolver minhas funções."
A Assessoria Brasileira de Imprensa (ABI) divulgou uma nota de repúdio contra a demissão do radialista e dos demais funcionários. Nela, reclama da postura do Governo Federal e da EBC ao lidar com a situação.
"Ele será desligado sem direito a nenhuma indenização e perderá, inclusive, o direito ao plano de saúde dele e da esposa Zélia, pagos parcialmente pelo salário, parte pela empresa. (...) Recentemente, a EBC aprovou uma espécie de “bônus”, de 35 mil a 40 mil aos diretores que cortassem “custos”. De lá para cá, a EBC retirou parte do adicional noturno, de área especial, acabou com o auxílio deficiente e permanece descontando parte do auxílio creche ilegalmente", diz a nota.
Um dos fundadores da Confraria dos Amigos da Rádio, o radialista Fernando Sergio lamentou a demissão do colega de profissão. Ele também acredita que a questão política tem influenciado nas decisões da Rádio Nacional. "Eu lamento profundamente a demissão do Rubem Confete, mas, para mim, isso não é surpresa. Ali entrou muita política. Muda de governo, muda de apadrinhado para ser diretor e mudam os valores, o que é muito pior. Eu lamento porque a maioria das nossas emissoras de rádio estão nas mãos de políticos, que não prestigiam os radialistas."
Além disso, Fernando Sergio falou sobre os radialistas de idade mais avançada. "Estou falando da Europa. Eu canso de ver e fico feliz por ver profissionais de meia idade, e até de mais idade, ainda na ativa nas emissoras de rádio e TV na Europa. No Brasil, infelizmente, isso nem sempre acontece. Lamento muito, profundamente."
Personalidades da música também se manifestaram. Em um comentário na página de Rubem, o compositor Edu Krieger disse: "Um grande valor de nossa cultura tratado com absoluto desrespeito e descaso. Que vergonha". Teresa Cristina e Ana de Hollanda utilizaram seu perfil oficial para contestar a demissão do radialista. Quem também não concordou a decisão foi o professor e vereador Chico Alencar.
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