Claudio Castro em PetrópolisDivulgação/ Rogerio Santana/GOV RJ
Publicado 24/02/2022 00:00
Há mais de uma semana liderando diversas frentes para socorrer Petrópolis e a sua população, o governador do Rio, Cláudio Castro, alerta para a necessidade de medidas futuras em uma força-tarefa com todos os setores da sociedade. As chuvas que devastaram Petrópolis completam uma semana. Com 204 mortos e 51 desaparecidos até a noite de ontem, a tragédia já se confirmou como a mais fatal da história da cidade. Em entrevista a O DIA, o governador Cláudio Castro detalha as ações que o governo estadual está implementando para mitigar os efeitos do temporal que assolou o município e para garantir assistência aos petropolitanos. Castro foi a primeira autoridade a chegar à cidade serrana, visitar as áreas afetadas e amparar as vítimas. Agora, o chefe do Executivo fluminense se coloca para liderar um pacto nacional de prevenção a desastres, que inclui soluções para a ocupação irregular de áreas de risco.
O senhor foi a primeira autoridade a chegar em Petrópolis. Qual situação o senhor encontrou quando chegou à cidade?
Era um cenário de guerra. Eu nunca havia visto nada igual na vida. Assim que fui informado, cancelei toda a minha agenda, e cheguei ainda na noite de terça-feira (15) para acompanhar o trabalho dos bombeiros e amparar as vítimas. Antes das 20h, 120 bombeiros do quartel da cidade já estavam nas ruas e 60 militares, em deslocamento. Foram 24 vítimas resgatadas com vida. Montei um centro de operações e mobilizei toda a estrutura do governo do estado para que as ações de resgate e salvamento, assim como a limpeza da cidade, fossem reforçadas para salvar vidas. Eu sou pai, filho, marido. Eu abracei quem perdeu nove pessoas da mesma família, outros que perderam casa, trabalho... É minha obrigação como homem público estar presente, garantir a assistência e dar uma resposta do Estado à população. Testemunhar toda essa destruição é uma experiência que deixa uma marca na alma para sempre. Aquelas cenas nunca mais vão me deixar sozinho.
Como o sr. recebeu a ajuda oferecida por outros estados para o reforço do trabalho do Corpo de Bombeiros?
Os trabalhos dos bombeiros militares do 15º Grupamento de Petrópolis ganharam reforço dos bombeiros que atuam nos municípios de São João de Meriti, Guapimirim, Duque de Caxias, Magé, Belford Roxo, Araruama e Saquarema, e também de maquinário. Além disso, já recebemos apoio de 125 bombeiros e 45 cães farejadores de 17 estados e Distrito Federal. E nesta quarta-feira (23), chega ainda reforço de mais dois estados: Mato Grosso do Sul e Amapá, somando 140 militares e 48 cães. Aproveito para agradecer, mais uma vez, a todos os governadores que estão nos apoiando em uma grande rede de solidariedade por Petrópolis. Esse efetivo se uniu aos 500 homens e mulheres do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro que trabalham sem parar nas operações de resgate. Não há ideia de autossuficiência. Toda ajuda é bem-vinda, sem dúvida, mas precisa ser coordenada pelo setor técnico. Ainda há regiões instáveis, com limite de pessoas que podem circular sob risco de o solo desabar, e os cães precisam de silêncio para localizar possíveis sobreviventes sob os escombros. Lotar a cidade, além de agravar a situação, congestionaria ainda mais as ruas, atrapalhando o escoamento de insumos, efetivos e doações. Eu confio no trabalho e na qualificação do Corpo de Bombeiros. O Rio de Janeiro tem a melhor e mais bem equipada corporação do país. Os bombeiros fluminenses têm minha total admiração - e estou certo de que de toda população também - pela forma como tem trabalho diligentemente em Petrópolis.
Como o poder público poderia ter atuado para evitar essa tragédia?
O que eu posso dizer é que os radares funcionaram, o sistema de alerta por sirenes também. Eu entendo que há uma sensação de que algo poderia ter sido feito, apesar de uma chuva histórica, como não acontecia há 90 anos. O momento é trágico e, agora, Petrópolis precisa de ajuda e não de condenações ou brigas políticas. O povo fluminense sabe disso e tem dado provas comoventes de solidariedade com as doações e trabalho voluntário. Eu prefiro trabalhar em favor da corrente do bem que se formou para ajudar as vítimas a se reerguerem. Também estamos com um olhar muito atento em relação às moradias em áreas de risco. É necessário que haja conscientização dos moradores dessas localidades, para que saiam desses pontos, juntamente com a assistência que o poder público já está prestando para auxiliar nesse processo. Vou fazer de tudo para salvar a vida das pessoas.
O que o seu governo vai fazer para que as famílias de Petrópolis não revivam esse pesadelo?
Logo depois que assumi o governo, em agosto de 2020, anunciei o Plano de Contingência de Chuvas, em outubro, muito antes de qualquer tragédia porque já era uma questão que me preocupava. O governo do estado se planejou para oferecer uma resposta rápida e eliminar contratos emergenciais, que aumentam os gastos públicos, não têm transparência e, por isso, são uma cobrança da sociedade, da imprensa e dos órgãos de controle. Mesmo com diversas restrições financeiras no ano passado, investimos mais de R$ 300 milhões em quase 30 ações relacionadas à prevenção de desastres e emergências na Região Serrana: contenção de encostas, limpeza de rios, melhoria nos equipamentos e ampliação da frota dos bombeiros, transferência de moradores de área de risco com aluguel social, entrega de 340 unidades habitacionais em Petrópolis e projetos de mobilidade urbana. Além disso, a Cedae destinou cerca de R$ 115 milhões para redes de distribuição de água, esgoto e em reflorestamento. O governo contratou mais de R$ 350 milhões em materiais e serviços para serem utilizados no Plano de Contingência para as chuvas de verão. Neste ano, em apenas dois meses já foram empenhados R$ 115 milhões, com perspectiva de investir quase R$ 1 bilhão na Região Serrana.
O sr. também tem feito reuniões com os outros Poderes e órgãos de controle para buscar medidas que acabem com a ocupação irregular de áreas de risco. Qual a sua proposta?
Esta é a ocasião para firmarmos um pacto nacional, com a união de todos os Poderes, e resolvermos essa questão de uma vez. Não adianta gastar um caminhão de dinheiro e não resolver o problema. Enquanto estiver no governo, quero liderar esse processo junto à sociedade civil, Judiciário, governo federal e municípios. Todo mundo tem que convergir nesse esforço para tirar as pessoas de áreas de risco. O governo do estado já está fazendo com o Casa da Gente, por exemplo, que prevê a construção de 10 mil unidades habitacionais/ano.
E o senhor considera que o Plano de contingências foi eficiente?
Se vidas se perderam, não foi suficiente. Famílias foram desfeitas. Uma neta não pode morrer como a sua avó na mesma tragédia 50 anos depois. É inaceitável que uma criança morra hoje pela mesma tragédia que matou outra anos atrás.
Qual a prioridade do governo do estado nesse momento?
A prioridade é salvar vidas e devolver a normalidade ao município e seus cidadãos. Para isso, estamos atuando em diversas frentes com medidas de assistência e ainda auxiliando a prefeitura na limpeza da cidade. Os bombeiros vão seguir com as ações de resgate e salvamento diuturnamente. O governo está preparado para lutar contra o tempo em busca de sobreviventes, além de prestar toda assistência aos desalojados e desabrigados na retomada de suas vidas. Nós já abrimos várias frentes de trabalho de limpeza e desobstrução da cidade. Ao todo, já foram retiradas cerca de 25 mil toneladas de resíduos e definidas cinco áreas prioritárias para receber as primeiras intervenções com um investimento inicial de R$ 150 milhões. A Secretaria de Infraestrutura e Obras também liberou mais de 60% das vias, com operações que têm se estendido pela madrugada. É o início para nós reconstruirmos Petrópolis.
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