Publicado 04/03/2022 14:40
Rio - O filho do humorista Mussum (1941-94) Igor Palhano, 30, registrou ocorrência no início da tarde desta sexta-feira na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), no Centro do Rio. O caso foi registrado como crime de racismo. O dentista denunciou que foi impedido de deixar o Park Shopping Jacarepaguá com sua moto na noite de quarta-feira (3).
Ao chegar na Decradi, Igor contou que se sentiu humilhado e impotente. Os seguranças do shopping lhe pediram habilitação e documento da moto, e mesmo após a apresentação dos documentos, ele ainda permaneceu no local por 30 minutos.
"Eu mostrei documento e habilitação, mesmo não devendo mostrar. Eu me senti humilhado. Eu já estava tão acostumado (com situações de racismo) que tentava levar: 'isso acontece, é da nossa sociedade'. Mas, dessa vez, me privaram de sair. Estou humilhado, impotente. Mesmo tendo vários amigos, uma família que me apoia, passei por isso", afirmou
Igor não tem dúvida de que foi privado de ir embora por ser negro: "Essa medida de segurança só coube a mim. Só pode ter sido racismo. Se fosse uma pessoa branca em uma moto CBR vermelha, não teria sido abordado. Não teve nenhum relato de roubo a moto no shopping".
Ele conta que decidiu registrar para colaborar para que a situação não aconteça com ele de novo ou com outra pessoa.
"Fiz esse registro porque um crime foi cometido e eu não tenho como ficar calado. Eu tenho que ter pelo menos um documento confirmando que isso aconteceu porque, se não, acaba ficando a palavra do shopping contra a minha. Preciso correr atrás do direito porque não fui a primeira pessoa. Acho que tem muita gente que passou por isso antes de mim também", afirma.
O dentista ressaltou que outras vítimas podem ter sofrido racismo, mas não tiveram apoio para levar o caso adiante. " Nem todo mundo que sofreu isso pode correr atrás, ou, quando tentou, não teve êxito. Então, pelo menos, estou tendo apoio e tenho que fazer isso de qualquer forma. Não é por dinheiro, ou fama. É por pleno direito de isso não acontecer mais. Não quero que isso aconteça de novo comigo nunca mais", diz Igor Palhano.
"Fiz esse registro porque um crime foi cometido e eu não tenho como ficar calado. Eu tenho que ter pelo menos um documento confirmando que isso aconteceu porque, se não, acaba ficando a palavra do shopping contra a minha. Preciso correr atrás do direito porque não fui a primeira pessoa. Acho que tem muita gente que passou por isso antes de mim também", afirma.
O dentista ressaltou que outras vítimas podem ter sofrido racismo, mas não tiveram apoio para levar o caso adiante. " Nem todo mundo que sofreu isso pode correr atrás, ou, quando tentou, não teve êxito. Então, pelo menos, estou tendo apoio e tenho que fazer isso de qualquer forma. Não é por dinheiro, ou fama. É por pleno direito de isso não acontecer mais. Não quero que isso aconteça de novo comigo nunca mais", diz Igor Palhano.
O segundo mais novo dos cinco filhos de Mussum, Igor conta que sempre teve a referência negra do pai, mas foi criado pela mãe e padrasto brancos. Ele nunca havia passado por uma situação tão violenta, em que teve o direito de ir e vir violado mesmo com a documentação em dia.
"Nunca passei por isso por ser dentista, ser filho de quem sou, mas mesmo tendo condição a gente passa por esse problema. Meu pai brincava com isso (com a questão do racismo). Ele tirava o humor para conscientizar as pessoas. Isso acontece com muita gente, mas eu tenho voz e vou encaminhar o caso da melhor forma possível", afirmou.
Após estacionar a moto, Igor procurou a central de atendimento ao cliente, mas, segundo ele, não havia ninguém para atendê-lo. Outro segurança negro o perguntou se poderia ajudar e concordou que a conduta não teria sido a mesma se ele fosse branco. Igor afirmou que após um período impedido de sair do local, foi escoltado até a saída por quatro seguranças.
O ParkJacarepaguá afirmou em nota que solicitou a documentação de Igor porque ele não estava com o ticket. Confira a nota:
"Em relação ao caso divulgado em rede social sobre um possível ato de discriminação, a administração do shopping esclarece que, ao tentar sair do estabelecimento sem a apresentação do ticket de estacionamento, foi solicitado ao cliente apresentar a documentação. Tal procedimento é comum a qualquer pessoa que queira deixar o estacionamento sem a apresentação do ticket e é prevista na Lei Municipal nº 6.468/ 2019. O shopping reforça ainda que repudia veementemente qualquer tipo de discriminação e que está aberto ao diálogo com o cliente e à disposição das autoridades caso seja necessário qualquer esclarecimento."
A defesa de Igor, no entanto, afirma que o dentista não recebeu o ticket ao entrar no shopping. Em nota, a Polícia Civil afirmou que um inquérito foi instaurado para apurar o crime. A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância vai intimar a depor um funcionário e o responsável pelo shopping. Imagens das câmeras de segurança serão solicitadas para esclarecimento dos fatos.
Mussum é homenageado em Carnaval e no cinema
Antônio Carlos Bernardes, o Mussum, completaria 80 anos no ano passado. O humorista dos 'Trapalhões' e sambista fundador do grupo 'Originais do Samba' será homenageado neste Carnaval pela escola Lins Imperial, da Série Ouro (antigo grupo de acesso). Mangueirense, o artista nasceu no Lins, na Zona Norte do Rio. Filho de empregada doméstica, ele virou um ícone da televisão. A personalidade também será representada nas telinhas. O ator Ailton Graça vai interpretar Mussum no longa-metragem 'Mussum, o Filmis', que está sendo produzido e ainda não tem data de estreia divulgada.
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