Medida do Supremo Tribunal Federal para reduzir a letalidade policial restringiu operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro até o fim da pandemiaMarcos Porto / Agência O Dia
Publicado 11/03/2022 18:28
Rio-A violência armada atingiu também as ações humanitárias nestes dois anos de pandemia. De acordo o Instituto Fogo Cruzado, houve oito casos de interrupções de distribuição de cestas básicas, por conta de tiroteios, em operações policiais na Região Metropolitana do Rio. Ao todo, sete voluntários foram baleados. Cinco deles não resistiram e morreram.
Ainda conforme o Fogo Cruzado, a ADPF 635, também chamada de ADPF das Favelas , decretada em 5 de junho de 2020, foi uma medida do Supremo Tribunal Federal para reduzir a letalidade policial, restringindo operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro até o fim da pandemia.
A Organização Mundial da Saúde declarou a pandemia da Covid-19 no dia 11 de março. E desde então, movimentos sociais, igrejas e voluntários do Rio de Janeiro passaram a buscar formas de ajudar a população.
Desde que a pandemia começou, conforme levantamento do instituto, houve 8.865 tiroteios na Região Metropolitana do Rio. Destes, 2.410 (27%) ocorreram durante ações/operações policiais. Nos dois anos anteriores à pandemia (11/03/2018 a 10/03/2020), houve 16.372 tiroteios, sendo 4.112 deles (25%) em ações/operações policiais.
“Tais números mostram que não somente os tiroteios caíram 46% durante a pandemia, mas os tiroteios em ações policiais também reduziram 41%. Apesar da queda, a porcentagem de tiroteios em ações policiais (27% e 25%, respectivamente) se manteve praticamente estável.”, avaliou o Fogo Cruzado.
Para Maria Isabel Couto, diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado, segue sendo urgente a criação de um plano de atuação das polícias em operações. No início de fevereiro, dentro do escopo da ADPF 635, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu um prazo de 90 dias para que o governo do Rio apresentasse um plano de redução da letalidade policial.

“A criação de um protocolo de atuação mais seguro é fundamental não só para os moradores de favelas, que sempre estão na linha do tiro, como também para os próprios policiais. Segurança pública é feita também com inteligência”, afirma Maria Isabel.
Unidades de saúde também foram atingidas
De acordo com o levantamento do Fogo Cruzado, 2.465 unidades de saúde como hospitais, clínicas da família e UPAs foram afetadas por tiroteios nesses dois anos de pandemia. Desde o começo de março de 2020, houve 2.945 tiroteios no entorno de unidades de saúde da Região Metropolitana do Rio.
Referência para o tratamento de pacientes com covid, o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, em Acari, na Zona Norte, teve queda de energia após um tiro atingir a linha que abastece a unidade, em maio de 2020. Na UPA da Rocinha, na Zona Sul do Rio, computadores da unidade foram atingidos por tiros durante ação policial em junho de 2020.
Nos dois anos anteriores à pandemia, houve 5.326 tiroteios no entorno de unidades de saúde. Ao todo 3.071 unidades foram afetadas.
Vítimas de tiros
Mesmo durante a pandemia, quando foi recomendado que as pessoas ficassem em casa, 92 pessoas foram baleadas na Região Metropolitana, quando estavam dentro de casa:57 morreram e 35 ficaram feridas. Em média, três pessoas foram baleadas dentro de casa por mês. No período pré-pandemia, 164 pessoas foram vítimas de balas perdidas, sendo 122 mortas e 42 feridas.
Ainda de acordo com o Fogo Cruzado, 80 adolescentes entre 12 e 17 anos foram baleados no Grande Rio nos últimos dois anos. Destes, 29 morreram e outros 51 ficaram feridos. Entre as vítimas está João Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, morto durante operação da Polícia Civil e da Polícia Federal no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, em maio de 2020. Nos dois anos antes da pandemia, 176 adolescentes foram baleados - sendo 95 mortos e 81 feridos.
Outras 31 crianças (menores de 12 anos) foram baleadas durante a pandemia: 12 morreram e 19 ficaram feridas. No período pré-pandemia foram 53 vítimas: 10 mortas e 43 feridas.
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