Publicado 16/03/2022 13:36
Rio - Há 22 anos trabalhando na mesma empresa de ônibus, o motorista Luis Carlos Ribeiro, de 69 anos, nunca havia imaginado sofrer a violência enfrentada na manhã de terça-feira (15). Além das lesões físicas, o idoso está abalado emocionalmente depois que um jovem entrou no coletivo que conduzia e lhe deu uma série de socos utilizando-se de um soco inglês, após uma colisão de trânsito. A vítima precisou levar catorze pontos no rosto.
"Eu entrei chorando na clínica (da família). O médico me atendeu rapidamente. Eu até comentei: 'Eu vou parar'", conta o motorista, apaixonado pela profissão, que agora avalia se aposentar. Luis Carlos foi amparado por um passageiro até o atendimento médico no Méier. Nesta quarta-feira, o idoso registrou o caso na 23ª DP (Méier) e foi ao IML fazer exame de corpo de delito.
O motorista da linha 476 (Méier-Leblon) foi espancado durante uma ação rápida, que durou menos de 1 minuto, às 7h37 de terça-feira. As imagens de segurança do veículo mostram quando o agressor, de camisa branca, estaciona o carro e caminha em direção ao ônibus. O motorista abre a porta e o jovem avança sobre o idoso deferindo uma série de socos. Na sequência, uma mulher, a namorada do agressor, tenta contê-lo e os dois deixam o local. Um passageiro conduz Luis Carlos para fora do ônibus para ser socorrido.
Confira as imagens:
Ao registrar ocorrência nesta quarta-feira, o motorista estava com o rosto enfaixado e inchado. Ao proteger a cabeça na hora da agressão, a vítima também sofreu ferimentos nos braços. Ele contou que o carro de passeio forçou uma passagem no trânsito engarrafado e o ônibus acabou colidindo com o veículo. O caso aconteceu na Rua Rio Grande do Sul, no Méier.
"Eu tinha acabado se sair do ponto final e estava indo para o Leblon. Peguei a rua com o trânsito todo fechado. Deixei dois carros de uma rua transversal passarem e saí atrás do segundo. Mas, o terceiro carro forçou passagem com duas rodas na calçada e só senti quando o ônibus bateu na porta dele. Estava no ponto cego, na hora não consegui ver", relata.
O motorista conta que o carro parou na sua frente e um rapaz veio em sua direção. Ele relata que abriu a porta do veículo para dialogar sobre o acidente. "Eu abri a porta para conversar. A empresa paga tudo", afirmou. "Mas, ele já subiu me dando soco. Meteu a mão no bolso e tirou o soco inglês", relembra.
"O soco foi tão forte que eu bati na lateral do ônibus. Quando voltei, ele deu outro. Eu me protegi com os braços e ele quebrou o vidro do relógio. O braço ficou em carne viva. Foi quando o pessoal do ônibus pulou a roleta para me socorrer, gritando e xingando ele", conta Luis Carlos Ribeiro. O motorista acrescenta que ficou ensanguentado e foi caminhando até a clínica. O agressor, segundo a vítima, foi embora e bateu em um muro de alumínio adiante.
Gerente da empresa Braso Lisboa, Raul Soares de Souza, 43, afirmou que as imagens das câmeras de segurança assustaram a todos. "Para a empresa foi assustador. A gente viu a imagem e tomou um susto. Foi muito brutal. A empresa colabora para que o caso não fique impune", afirma Raul. O chefe acrescenta que Luis Carlos se relaciona muito bem com os colegas, superiores e passageiros. " É um bom funcionário. Todos os passageiros elogiam. Tem convivência boa com todos", diz. O representante da empresa acompanhou a vítima à delegacia e ao IML nesta quarta-feira.
A ocorrência foi registrada na 23ª DP (Méier) como lesão corporal grave. Às 11h20, a Polícia Civil informou que o autor foi identificado e intimado para prestar depoimento, assim como sua namorada, que é menor de idade. O agressor foi ouvido na delegacia ao meio-dia. O autor do crime foi identificado como Leonardo Costa Mendes Nogueira, de 18 ano. Acompanhado de advogado, ele admitiu que agrediu o motorista e alegou um acesso de raiva, mas negou usar um soco inglês. Os investigadores descartaram o uso da arma branca na análise das imagens.
Genro da vítima, Andrey Lira, 28, pede justiça. "Ele sofreu uma perfuração bem profunda. Levou catorze pontos na testa. O agressor usou um soco inglês. Mas, ele (Luis Carlos) está bem. Fez tomografia. Fisicamente, está inchado, mas a empresa está dando suporte. Espero que ele seja preso ainda hoje e que a justiça seja feita. Foi um ato de covardia", afirma o genro.
O motorista de ônibus está há mais de 40 anos na profissão. Ao tomar conhecimento das agressões, a família ficou indignada. "Foi um medo. Uma indignação coletiva. A gente só teve acesso às imagens hoje. Foi de partir o coração. Ele nunca sofreu um acidente", desabafa Andrey Lira.
Leonardo Costa conduzia o veículo em companhia da namorada menor de idade, mesmo sem possuir habilitação. Os investigadores da 23ª DP vão responsabilizar quem lhe deu o veículo pelo crime de entrega temerária. A conclusão das investigações depende do laudo de exame de corpo de delito para classificar as lesões sofridas pela vítima. O agressor já foi autuado anteriormente por agredir um vizinho com um soco no rosto.
Em nota o sindicato das empresas de ônibus do Rio lamentou a ocorrência. "O Rio Ônibus lamenta e condena qualquer tipo de violência contra rodoviários", diz o texto.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.