Publicado 30/03/2022 21:13 | Atualizado 31/03/2022 14:54
Rio - Foram divulgados mais dois vídeos onde o vereador Gabriel Monteiro e funcionários simulam situações para criação de conteúdos e postagem em seus canais oficiais na Internet. O material foi recebido em um pen drive pelo gabinete do deputado estadual Giovani Ratinho (PROS), nesta terça-feira (30), na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), e a entrega, segundo os representantes do deputado, foi feita de forma anônima. Estes dois últimos vídeos estão à parte do outro conjunto de arquivos que o deputado já havia tido acesso e que chegou a entregar à polícia.
"Eu recebi as denúncias em meu gabinete em São João de Meriti. Minha obrigação como parlamentar é investigar e denunciar esses atos. O vereador Gabriel Monteiro cria falsas narrativas simulando um assalto com um morador de rua em um dos vídeos. Também demonstra total desprezo e preconceito contra população LGBTQIA+ no vídeo, proferindo palavras horríveis que demonstram clara LGBTfobia. Estou pedindo que as comissões da Alerj me ajudem com essa situação absurda. Ele precisa ser investigado e responsabilizado por suas atitudes", explicou o deputado.
No primeiro vídeo que O DIA teve acesso, um funcionário de Gabriel aparece induzindo um morador em situação de rua a pegar a bolsa de uma mulher. Ele orienta ainda que homem aproveite o momento em que a mulher possivelmente espera por um carro de aplicativo e ainda afirma que a vítima não vai perceber porque "é autista, largada, e nem se liga nas coisas".
Os dois chegam a acertar um valor de R$ 400 para executar a ação proposta. Quando o morador de rua segue para fazer o combinado, pega a bolsa da mulher "desatenta" e joga por cima de um veículo, o objeto cai no meio da rua. É o momento em que Gabriel Monteiro aparece interrogando o morador em situação de rua. Confira:
No segundo vídeo, pedestres estão sendo entrevistados por um funcionário de Gabriel, identificado como Rick Dantas, chefe de gabinete do vereador, informação confirmada pelo gabiente do mesmo, cuja a pauta seria "O que as pessoas acham dos LGBTQIA+", as respostas são agressivas e preconceituosas. Veja o vídeo:
Procurado pelo DIA, o vereador Gabriel Monteiro respondeu por meio de sua assessoria de imprensa. "São experimentos sociais, um quadro difundido mundialmente em inúmeros canais na internet, nos visando desconstruir pensamentos e ideias preconceituosas, propomos uma situação em que as pessoas são testadas. O intuito é resultado é sempre o mesmo, a conscientização da pessoa com a intervenção do Gabriel que muitas vezes as auxilia a buscar um melhor caminho, bem como, ser pedagógico para a sociedade em geral que assiste o vídeo".
Sobre o conteúdo de cunho LBTfóbico, o vereador também enviou resposta pela assessoria, explicando que "de maneira nenhuma reflete qualquer pensamento meu a comunidade LGBTQIA+. Era justamente para avaliar como as pessoas lidam com o tema relacionado a homossexuais. Tanto que todas as pessoas que foram contra eu abordei e as orientei em relação ao preconceito. Todo o meu respeito a comunidade LGBTQIA+, meu intuito foi orientar as pessoas o quão péssimo é ter qualquer preconceito contra gays e etc".
A assessoria do vereador informou ainda que o video está no canal de Gabriel Monteiro e tem uma mensagem final contra o preconceito a comunidade LGBTQIA. "Esse vídeo faz parte do material que foi roubado do acervo de videos do Vereador e YouTuber Gabriel Monteiro e já foi feito o boletim de ocorrência", diz a nota.
Procurado, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) informou que "as publicações passarão por análise criteriosa, para avaliação de seu conteúdo e verificação se as cenas simuladas pelo vereador nas redes são exibidas com esse devido esclarecimento, de que são apenas 'experimentos sociais', ou vendidas como se fossem situações reais. A partir daí, nos casos de flagrante ilegalidade, será feita a tipificação penal".
A Polícia Civil, que também teve acesso ao material, não deu retorno até a publicação desta reportagem.
Vereadores comentam o caso
Para o vereador Tarcísio Motta (Psol), "os vídeos divulgados hoje mostram um comportamento inaceitável de manipulação de depoimentos que difundem o ódio e a e LGBTfobia. Quem defende não falsifica cenas de ódio. Não há mais qualquer fundamento para que a Câmara do Rio não instaure imediatamente um rigoroso procedimento apuratório, ainda mais diante os fortes indícios de que esses vídeos, que geram receitas privadas para o vereador por meio de monetização, foram feitos a partir da estrutura pública de um gabinete parlamentar".
A vereadora Mônica Benício, também do Psol, falou: "O que as imagens mostram é muito grave. A postura LGBTfobica de Gabriel Monteiro é o reflexo de uma sociedade que não valoriza a vida LGBT e faz com que o Brasil seja um dos países que mais mata LGBTs no mundo. Além de LGBTfobico Gabriel utiliza de má fé ao incitar sua política de ódio, que infelizmente é presente estruturalmente em nossa sociedade. Se o conselho de ética da Câmara Municipal precisava de mais elementos para apurar as graves denúncias contra o Vereador, espero que estejam atentos a essas imagens".
A ativista transexual Indianara Siqueira, uma das idealizadoras da Casa Nem, abrigo para pessoas LGBTIs em situação de vulnerabilidade, também comentou sobre o segundo vídeo e a intenção das entrevistas. "Na atual conjuntura, é crime inafiançável como o STF já definiu. É inaceitável e absurdo. É incitar o ódio contra a comunidade LGBTIAPNB+. Isso precisa ser denunciado. E nós (Grupo Transrevolução/CasaNem e Fórum TTRJ ) vamos entrar com uma ação no ministério público contra ele se isso for comprovado pela justiça", disse.
Conselho de Ética da Câmara
O Conselho de Ética da Câmara de vereadores do Rio informou, nesta quarta-feira (30), que em "continuidade à apuração das denúncias envolvendo o vereador Gabriel Monteiro, o Conselho de Ética da Câmara Municipal do Rio receberá, nesta quinta-feira (31), 18h, a delegada Gisele Espírito Santo, titular Delegacia de Atendimento à Mulher (DEAM) de Jacarepaguá, que apura ocorrência envolvendo o parlamentar". Na próxima segunda-feira (4), promotores do Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) responsáveis pelos inquéritos instaurados para apurar as denúncias veiculadas pela imprensa nos últimos dias.
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