Publicado 10/04/2022 08:00
Rio - O fechamento de 54 estações de trem por mais de quatro horas na quarta-feira foi o estopim que fez o Governo do Rio lançar medidas mais rígidas para exigir a melhoria de um serviço que deixa a população ‘na pista’ há muito tempo. A primeira decisão do governador Cláudio Castro após o episódio foi interromper as conversas com a SuperVia até que a concessionária ofereça um atendimento digno aos passageiros. Na sexta-feira, o governador já deu início à operação Estação Segura, um conjunto de fiscalizações realizadas por diversas secretarias e órgãos estaduais. Novas ações voltarão a ser feitas no sistema ferroviário ao longo desta semana.
"É a hora de o Estado agir com pulso firme, já que a SuperVia não cumpre o que é obrigação dela. O governo respeita os contratos de concessão, mas não aceitaremos que a população seja desrespeitada por nenhuma concessionária. A operação Estação Segura vai continuar pelo menos até sexta-feira que vem, quando faremos a primeira avaliação das próximas medidas a serem tomadas. O objetivo é devolver ao povo fluminense a garantia de ir e vir com dignidade, previsibilidade e segurança", Cláudio Castro, que considera inviável o reajuste da passagem enquanto o serviço não for corrigido.
A operação Estação Segura conta com a mobilização das secretarias de Estado de Defesa do Consumidor (Sedcon), de Transportes (Setrans) e Polícia Militar (SEPM), além do Procon-RJ, da Agetransp - agência reguladora dos serviços de transportes concedidos - e da Central Logística. São realizadas três frentes de atuação, visando a qualidade do serviço de transporte, a garantia dos direitos do consumidor e o restabelecimento da segurança pública. Em setembro de 2021, o governo já tinha iniciado uma força-tarefa para combater o furto de cabos, atribuído pela empresa como causa das frequentes paralisações, mas foi necessária uma medida mais firme agora.
"É inadmissível atribuir todas questões a furto de cabos. Falta manutenção, conservação, temos composição sem controle invadindo plataforma de embarque, viagens são interrompidas por queda de rede área e os atrasos se tornaram rotina para os usuários. A Segurança Pública e as forças policiais não serão usadas como desculpa para os problemas da SuperVia", ressaltou o governador ao suspender as negociações com a concessionária.
População sofre atrasos, superlotação e desrespeito para ir e vir
A recepcionista Bianca Alcântara, 25 anos, que usa os trens da Supervia diariamente, aprovou a medida do governo e apontou problemas que enfrenta. "Faltam trens expressos em alguns ramais, como o de Santa Cruz, que tem muitas estações. A alternativa é partir para o ramal de Japeri e enfrentar os frequentes atrasos de mais de 30 minutos. Isso me prejudica no trabalho", disse.
Outra queixa de Bianca é que os trens ficam muito lotados e os homens não respeitam as normas de utilização dos vagões que deveriam ser exclusivamente femininos. Outras mulheres também reclamaram de assédio nos vagões e o uso por homens foi constatado pela fiscalização de sexta-feira. Em um vagão feminino, por exemplo, os fiscais encontraram mais homens que mulheres.
O eletrotécnico aposentado Jorge Oliveira, de 70 anos, citou os atrasos e superlotação como os principais entraves no transporte ferroviário. Ele mora em Queimados, na Baixada Fluminense, e tem optado mais por viajar de ônibus devido aos problemas diários nos trens. "Até eu, que não trabalho com horário certo, fico incomodado com os atrasos. Os passageiros são prejudicados. As composições chegam tão cheias que é impossível se locomover e não dá nem pra respirar direito" comentou o passageiro.
Muitos problemas identificados no primeiro dia
Na sexta-feira, primeiro dia da operação Estação Segura, muitos problemas foram constatados durante vistoria da Sedcon com o Procon-RJ nas estações Deodoro, Madureira, Nova Iguaçu, Maracanã e Central do Brasil: superlotação e falta de segurança, homens viajando em vagões destinados a mulheres, desníveis entre os vagões e a plataforma, banheiros interditados e ausência de piso tátil para pessoas com deficiência visual. O Procon-RJ autuou a concessionária e a multa pode chegar a R$ 12 milhões ao fim do processo.
A Setrans e a Central Logística, em conjunto com a Agetransp, fiscalizaram os ramais de Deodoro e Belford Roxo. Nos trechos visitados, foi verificada falta de manutenção da via permanente e de sinalização, principalmente no ramal de Belford Roxo. Existe ainda a indicação de falta de reposição de cabos. Por isso, o governador Cláudio Castro solicitou à SuperVia que levante os contratos de compra.
Já a Polícia Militar começou a operação em quatro das 12 estações indicadas pela SuperVia como controladas pelo crime organizado. Foram elas: Suruí, Parada Angélica, Guapimirim e Manguinhos. A operação mobilizou 130 PMs que fizeram cerca de 100 abordagens e recuperaram dois carros roubados em Manguinhos. Na mesma localidade, foram encontradas drogas em uma casa próxima à estação ferroviária, a partir de informações do Disque Denúncia.
Nesta semana, a Setrans, junto com a Central Logística e a Agetransp, vai direcionar suas ações para os ramais de Santa Cruz, Japeri e Saracuruna, com o objetivo de verificar condições de sinalização, manutenção permanente da via e furto de cabos. A Sedcon e o Procon-RJ também continuarão as fiscalizações nesta semana. Já a PM dará sequência, de forma gradual, ao plano de retomada das 12 estações apontadas como críticas em relação à segurança pública. O Grupamento de Polícia Ferroviária (GPFer) já vinha se colocando à disposição da concessionária sempre que necessário desde o início da força-tarefa instalada em setembro.
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