Publicado 14/04/2022 13:25
Rio - Para conseguir entrar e sair de sua casa, na localidade Beco do 199, na comunidade da Rocinha, Zona Sul, a cabeleireira Cláudia Oliveira, de 40 anos, precisa de uma escada de madeira, dessas usadas em obras. Com a porta interditada por lama, pedras, entulhos, telhas e fiação elétrica, a escada é a única maneira de ela entrar na residência. Além de Cláudia, outras famílias que moram na mesma localidade temem os novos deslizamentos que podem ocorrer com as chuvas.
Segundo moradores da Rocinha, há duas semanas, quando ocorreram as últimas chuvas, parte de uma encosta deslizou e levou junto lama e entulhos para o Beco do 199, que serve de passagem para dezenas de pessoas. Conforme Cláudia, a outra parte dessa mesma encosta deslizou nas chuvas de 2019, quando uma moradora da vizinhança morreu.
"Estou morando com a minha mãe, mas sempre vou para minha casa ver como estão as minhas coisas. Nessa madrugada, estava dormindo quando começou a chover. Peguei a escada de madeira e saí de lá às 3h", lamentou Cláudia.
Já a comerciante Maria Socorro Santos, de 49, lamenta ter que deixar a casa onde morava com o marido e dois filhos, que levou anos para terminar a obra. Atualmente, ela vive em outro endereço da comunidade e recebe aluguel social: "A prefeitura ficou oito meses sem pagar o aluguel social para as pessoas que moravam próximo da encosta, com isso, muita gente voltou amorar nas suas antigas casas. O aluguel social retornou no início do ano, mas algumas pessoas ainda vivem nesta situação", desabafou.
Maria contou ainda que tem feito vídeos pedindo providências do poder público, já que transitar pelo beco é um transtorno. Uma árvore e um poste estão inclinados na porta das casas dos moradores.
"A gente precisa de ajuda imediata. Estamos sem energia no beco há mais de três anos. A fiação está bem próxima do chão, as crianças não podem passar porque podem tomar um choque elétrico. O restante da encosta, que não está em obras, pode descer novamente com essas chuvas", alerta.
O presidente da Associação de Moradores da Rocinha, Wallace Pereira, disse que está ciente da situação da localidade assim como a prefeitura. Ele afirmou que a área é de risco e não deveria estar servindo como moradia porque está interditada pelo município.
"Eu converso com os moradores sobre os riscos, mas alguns deles não entendem. A Defesa Civil e a Geo-Rio já fizeram vistorias na localidade. Me informaram que não é possível fazer obra, neste momento, do outro lado da encosta por causa de riscos de deslizamentos. As providências estão sendo tomadas", garantiu Pereira.
Procurada, a Geo-Rio informou que vistoriou várias localidades da Rocinha, incluindo o Beco do 199. "No momento, a Fundação está desenvolvendo projeto para em breve licitar a obra. Ressaltamos que equipes atuaram no local mitigando riscos”, disse a nota. Já a Defesa Civil disse que realizou uma vistoria neste endereço no último dia 2, e interditou um imóvel que se encontrava fechado. No Beco do 199, segundo moradores, há pelo menos 10 casas próximas da encosta.
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