Publicado 17/04/2022 09:41 | Atualizado 17/04/2022 14:32
Era primeiro de abril e, na vida de verdade, eu transitava calmamente do despertar para a agitação do dia que estava apenas começando. Enquanto tomava café da manhã, papeava por mensagem com a minha amiga Gisele, que precisou se afastar temporariamente das atividades físicas neste ano. Até que ela me perguntou: "Você vai ao pilates hoje?" Imediatamente, respondi que sim e logo me lembrei de que havia sonhado com ela no estúdio, ao fim de uma aula. Bem-humorada, a Gi comentou: "Eu também tenho esse sonho todos os dias".
Esse diálogo me fez refletir sobre os momentos em que embarcamos juntos nos desejos de quem nos cerca. E, muitas vezes, sonhamos bem acordados. Basta saber de uma grande vontade de quem a gente ama para que ela se torne um pouco nossa também.
Há também os sonhos literalmente coletivos. Vem das águas uma das maiores simbologias que já conheci desse desejo compartilhado. Mais especificamente da canoa havaiana, em Niterói, onde o lema "seis corpos, um só espírito" impulsiona remadores pela Baía de Guanabara. Já me aventurei no esporte e posso dizer que é linda a roda dos participantes, de braços entrelaçados, na areia, ao fim da remada. Afinal, o barco só vai adiante com a força de todos.
Na escola da vida, aprendi que um pequeno gesto pode virar o estímulo para um sonho gigante. Foi assim que um dicionário de Português saiu da minha casa como um presente da minha mãe para um aluno em que ela enxergava o dom da comunicação. A vida deu voltas e ele hoje estuda na Escola de Comunicação da UFRJ, onde eu me formei. Juntos, dividimos a convicção de que ela acompanha os seus passos de outro plano.
O destino vai sendo costurado assim, nos pregando peças até formar um imprevisível roteiro de sonhos. Ao captar o bailado solitário da catadora de recicláveis Adriana Salles num ensaio na Sapucaí, o fotógrafo Rafael Catarcione sintonizou a sua história à dela. Ao som do ziriguidum. O vídeo viralizou, dando a Adriana a chance de desfilar oficialmente pela escola Avenida pelo Império da Tijuca. Será também o primeiro Carnaval de Rafael atrás das lentes.
A engrenagem dos sonhos é mesmo assim: pode ter a cadência de um samba, a sincronia dos braços numa remada, o equilíbrio do pilates ou o olhar atento de um mestre em sala de aula. Só não combina com ponto final.
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