Publicado 02/05/2022 11:03 | Atualizado 02/05/2022 11:06
Rio - O babalorixá Rodney William, de 47 anos, denunciou ter sido vítima de discriminação racial ao ser barrado de retornar a um camarote na Marquês de Sapucaí. O caso aconteceu durante o Desfile das Campeãs, neste sábado (30), depois que ele cruzou a Avenida com a Beija-Flor e pretendia voltar para o Camarote Nº 1, de onde acompanhava a passagem das outras agremiações. Mesmo com sua credencial, ele foi impedido de entrar no espaço por não estar vestindo a camiseta do estabelecimento, ainda que outras pessoas não estivessem com a roupa.
"Meu corpo também é atravessado por essa estrutura racista e isso me fez tomar todos os cuidados para não passar de novo por uma experiência assim. Antes de sair, perguntei sobre todos os procedimentos para retornar e fui informado que só precisaria da credencial, mas na prática me cobraram a camiseta e me impediram de entrar por tê-la deixado na chapelaria. Expliquei calmamente o que haviam me informado antes, ainda assim não me deixaram entrar", contou o babalorixá.
Rodney relatou ainda que outras três pessoas da produção do camarote tentaram barrar sua entrada. "Como se eu representasse um risco", disse a vítima. Ele então decidiu ligar para seu assessor, Fábio, um homem branco, para o ajudar. Por conta da proporção que a situação havia tomado, já que diversas pessoas acabaram em volta deles, um dos funcionários decidiu acompanhar o babalorixá até a chapelaria, onde ele havia deixado a camiseta.
"Preferi aguardar o Fábio, para não acontecer um desencontro. E questionei: por que não me propôs isso desde o início? Qual a necessidade de causar tamanho constrangimento? (...) (O Fábio) já viveu inúmeros episódios como esse comigo. Ele está sempre alerta e por isso atendeu rapidamente ao telefone. Um branco aliado sempre encontra facilidades para resolver essas coisas. Fábio aprendeu a lidar com o racismo na convivência com as pessoas negras", afirmou Rodney, que reforçou que foi vítima de racismo.
"Sempre que me perguntam se foi racismo, respondo: nunca é, embora sempre seja. Para quem comete, de fato nunca é racismo, mas sabemos que a estrutura movimenta os corpos e impõe reações. Um homem negro, vestido de macumbeiro, depois de passar por todos as conferências tenta entrar novamente no camarote e é interpelado. Havia elementos de negritude reforçados em mim e isso me coloca em maiores riscos de violência, a intolerância religiosa é uma delas. Ironicamente, desfilei pela Beija-flor, num samba que falava exatamente sobre essas coisas. É preciso naturalizar a presença de pessoas negras para além das relações de serviço".
Os desfiles das escolas de samba do Rio no Carnaval deste ano foram marcados pela exaltação da cultura negra e as religiões de matriz africana. A campeã Grande Rio, apresentou na Avenida um enredo que desmistificou a demonização atribuída ao orixá Exu. Já a vice Beija-Flor, desfilou com o enredo "Empretecer o Pensamento", enquanto o Salgueiro, sexto colocado, passou pelo Sambódromo com o tema "Resistência".
"Foi o Carnaval mais preto e mais macumbeiro de todos os tempos. Isso faz soar o episódio quase como ironia. O samba da Beija-flor clamava: "Nada menos que respeito, não me venham sufocar." Volto do desfile e passo por isso. A primeira sensação é de desesperança. Poxa, aplaudiram Exu e Oxóssi, ergueram o punho com Tuiuti, Salgueiro e Beija-flor e eu ainda tenho que passar por isso? É parte da nossa luta apontar as contradições da sociedade, mas com a consciência de que as pessoas devem ser responsáveis e assumir seu papel na construção de um novo tempo de paz e justiça. Aí eu respiro, esqueço e sigo, porque nossa luta não tem fim", desabafou.
Também doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autor do livro "Apropriação Cultural", o babalorixá disse que não pretende tomar medidas legais contra a organização do camarote ou contra os envolvidos no caso, mas que suas providências serão educacionais.
"Fui procurado pelos organizadores do (camarote) Nº 1 e recebi os pedidos de desculpa, mas meu desabafo foi para instruir e colaborar para que outras pessoas como eu não tenham que passar por isso. (...) A minha medida é pedagógica e já está tomada. Sigo consciente e com esperança renovada. Ano que vem tem mais Carnaval e é um espaço no qual pessoas como eu precisam e merecem estar. Que esse episódio sirva para que nada estrague a nossa festa", concluiu o doutor.
Procurada, a organização do Camarote Nº 1 informou que entrou em contato com a vítima por telefone, lamentando profundamente o ocorrido. "Anualmente, centenas de profissionais são treinados pela produção de forma cuidadosa, a fim de que situações de desconforto não aconteçam". A nota diz ainda que "apesar de ainda haver quebra de regras, a produção reforça a obrigatoriedade da camisa para acesso ao evento além da credencial e digital, assim como em todos os espaços na Sapucaí".
A medida, segundo o Camarote, tem o objetivo de "garantir maior controle, organização e conhecimento das pessoas convidadas". "O Camarote N°1 se preocupa com todos os convidados e a experiência negativa de Rodney não será esquecida e servirá de aprendizado e atenção para que novos episódios de constrangimento não ocorram e haja melhorias no fluxo operacional, privilegiando um ambiente democrático e harmônico para todos", concluiu a nota.
"Meu corpo também é atravessado por essa estrutura racista e isso me fez tomar todos os cuidados para não passar de novo por uma experiência assim. Antes de sair, perguntei sobre todos os procedimentos para retornar e fui informado que só precisaria da credencial, mas na prática me cobraram a camiseta e me impediram de entrar por tê-la deixado na chapelaria. Expliquei calmamente o que haviam me informado antes, ainda assim não me deixaram entrar", contou o babalorixá.
Rodney relatou ainda que outras três pessoas da produção do camarote tentaram barrar sua entrada. "Como se eu representasse um risco", disse a vítima. Ele então decidiu ligar para seu assessor, Fábio, um homem branco, para o ajudar. Por conta da proporção que a situação havia tomado, já que diversas pessoas acabaram em volta deles, um dos funcionários decidiu acompanhar o babalorixá até a chapelaria, onde ele havia deixado a camiseta.
"Preferi aguardar o Fábio, para não acontecer um desencontro. E questionei: por que não me propôs isso desde o início? Qual a necessidade de causar tamanho constrangimento? (...) (O Fábio) já viveu inúmeros episódios como esse comigo. Ele está sempre alerta e por isso atendeu rapidamente ao telefone. Um branco aliado sempre encontra facilidades para resolver essas coisas. Fábio aprendeu a lidar com o racismo na convivência com as pessoas negras", afirmou Rodney, que reforçou que foi vítima de racismo.
"Sempre que me perguntam se foi racismo, respondo: nunca é, embora sempre seja. Para quem comete, de fato nunca é racismo, mas sabemos que a estrutura movimenta os corpos e impõe reações. Um homem negro, vestido de macumbeiro, depois de passar por todos as conferências tenta entrar novamente no camarote e é interpelado. Havia elementos de negritude reforçados em mim e isso me coloca em maiores riscos de violência, a intolerância religiosa é uma delas. Ironicamente, desfilei pela Beija-flor, num samba que falava exatamente sobre essas coisas. É preciso naturalizar a presença de pessoas negras para além das relações de serviço".
Os desfiles das escolas de samba do Rio no Carnaval deste ano foram marcados pela exaltação da cultura negra e as religiões de matriz africana. A campeã Grande Rio, apresentou na Avenida um enredo que desmistificou a demonização atribuída ao orixá Exu. Já a vice Beija-Flor, desfilou com o enredo "Empretecer o Pensamento", enquanto o Salgueiro, sexto colocado, passou pelo Sambódromo com o tema "Resistência".
"Foi o Carnaval mais preto e mais macumbeiro de todos os tempos. Isso faz soar o episódio quase como ironia. O samba da Beija-flor clamava: "Nada menos que respeito, não me venham sufocar." Volto do desfile e passo por isso. A primeira sensação é de desesperança. Poxa, aplaudiram Exu e Oxóssi, ergueram o punho com Tuiuti, Salgueiro e Beija-flor e eu ainda tenho que passar por isso? É parte da nossa luta apontar as contradições da sociedade, mas com a consciência de que as pessoas devem ser responsáveis e assumir seu papel na construção de um novo tempo de paz e justiça. Aí eu respiro, esqueço e sigo, porque nossa luta não tem fim", desabafou.
Também doutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autor do livro "Apropriação Cultural", o babalorixá disse que não pretende tomar medidas legais contra a organização do camarote ou contra os envolvidos no caso, mas que suas providências serão educacionais.
"Fui procurado pelos organizadores do (camarote) Nº 1 e recebi os pedidos de desculpa, mas meu desabafo foi para instruir e colaborar para que outras pessoas como eu não tenham que passar por isso. (...) A minha medida é pedagógica e já está tomada. Sigo consciente e com esperança renovada. Ano que vem tem mais Carnaval e é um espaço no qual pessoas como eu precisam e merecem estar. Que esse episódio sirva para que nada estrague a nossa festa", concluiu o doutor.
Procurada, a organização do Camarote Nº 1 informou que entrou em contato com a vítima por telefone, lamentando profundamente o ocorrido. "Anualmente, centenas de profissionais são treinados pela produção de forma cuidadosa, a fim de que situações de desconforto não aconteçam". A nota diz ainda que "apesar de ainda haver quebra de regras, a produção reforça a obrigatoriedade da camisa para acesso ao evento além da credencial e digital, assim como em todos os espaços na Sapucaí".
A medida, segundo o Camarote, tem o objetivo de "garantir maior controle, organização e conhecimento das pessoas convidadas". "O Camarote N°1 se preocupa com todos os convidados e a experiência negativa de Rodney não será esquecida e servirá de aprendizado e atenção para que novos episódios de constrangimento não ocorram e haja melhorias no fluxo operacional, privilegiando um ambiente democrático e harmônico para todos", concluiu a nota.
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