Publicado 11/05/2022 19:11 | Atualizado 11/05/2022 21:44
Rio - Uma placa de concreto com os nomes dos 28 mortos na Operação Exceptis, em maio do ano passado, foi retirada pela Polícia Civil, na tarde desta sexta-feira, dia 11, do interior da comunidade do Jacarezinho, com a justificativa de se tratar de apologia ao tráfico de drogas. O memorial, colocado por movimentos sociais, não tinha autorização da Prefeitura para ser construído em via pública. Além disso, continha o nome do agente André Frias, morto na operação, ao lado dos outros 27 mortos, apontados como traficantes pelas investigações.
A O DIA, a viúva do agente, Jaqueline de Souza, disse que não concordava com a inclusão do nome. "O André (Frias) confrontou para libertar os oprimidos pelo tráfico naquele ambiente hostil de criminalidade. Um homem íntegro, honesto, trabalhador e reconhecido policial. É um insulto à memória do nome dele, essa citação neste monumento em conjunto com os nomes de suspeitos e traficantes. Respeitem a minha dor", disse.
Para a ação de retirada, agentes da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) foram chamados. Uma corda foi amarrada ao concreto que continha os nomes fixados em pequenas placas de metal, sendo puxada por um veículo blindado. Após a queda, os agentes usaram marretas para destruir o restante do concreto fixado.
A placa havia sido colocada na última sexta-feira, ocasião de um ano da operação. Para alguns movimentos sociais, a ação se tratou de uma chacina. Para a polícia, foi uma operação legítima. As investigações feitas pela Força-Tarefa do Ministério Público se encerraram no mesmo dia da inauguração do memorial. Nela, 10 das 13 investigações foram arquivadas. Os arquivamentos são relacionados a 24 das mortes. Já três agentes foram acusados pelo Ministério Público de execução; um quarto por fraude processual.
Em relação à morte de Frias, o Ministério Público denunciou dois traficantes como os mandantes; o autor do disparo teria sido morto em outra operação.
Em nota, o Observatório Cidade Integrada, que fiscaliza as ações do projeto, lamentou a destruição do memorial. Confira a nota:
"O Observatório Cidade Integrada recebeu com surpresa, na tarde desta quarta-feira (11/05/2022), a notícia da destruição do Memorial às vítimas do Jacarezinho, inaugurado na última sexta (06/05/2022). O Memorial foi uma ação concreta para lembrar as 28 vidas perdidas, sejam elas de civis ou policiais. O Observatório reforça que todos são vítimas dessa ação, incluindo policiais que arriscam suas vidas em operações na chamada "guerra às drogas", que só têm como foco territórios pobres e negros.
O monumento fez parte da programação de atividades promovidas pelo Observatório Cidade Integrada na última semana, que contou ainda com mutirão de grafite e lambes, rodas de conversa para pensar o Jacarezinho que queremos - Agenda 2030, e intervenções urbanas. Acreditamos que isso deverá ser feito através do diálogo e construção de políticas públicas em conjunto com instituições como a Defensoria Pública, como fizemos até este momento.
Reforçamos que todas as vidas importam e que o Memorial é a representação do direito à memória que as famílias que perderam seus filhos têm, mesmo após o arquivamento das investigações sobre 24 das 28 mortes ocorridas no Jacarezinho no dia 6 de maio de 2021."
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