Publicado 23/05/2022 18:59
Rio - A noite de diversão de três amigos, moradores de Manguinhos, terminou em tragédia na madrugada de sábado, dia 21. Fabrício dos Santos Silva, 24, foi morto com pelo menos sete disparos de fuzil nas costas. O seu corpo foi encontrado na rua Leopoldo, no Andaraí, somente com a calça jeans. Faltava a camiseta e o casaco do seu time preferido, o Flamengo, conforme aparece em última foto tirada, momentos antes do crime. Na fotografia, está ao seu lado um dos amigos que foi com ele até o Morro do Cruz, na Zona Norte, e que conseguiu fugir. A localidade é dominada por uma facção rival à que atua na comunidade de residência do trio: teria sido esse o motivo da execução do jovem por traficantes.
Ao Dia, esse amigo, que prefere não se identificar por segurança, relembrou os últimos momentos ao lado de Fabrício. "Estávamos no Manguinhos e fomos até a Mangueira, para um baile. Lá bebemos, a gente estava muito feliz, se divertindo. Foi quando o Fabrício recebeu uma ligação, de um amigo, que estava no Borel. Como a gente nunca se separava, resolvi ir com ele. Um amigo meu de trabalho também foi junto", disse.
Eles desceram, então, e entraram em um carro que faz corridas por demanda, ou seja, não é contratado por aplicativo. "O motorista levou a gente para o Morro do Cruz, que é uma favela do Terceiro Comando Puro. A gente só foi saber depois que desceu do carro, porque uma moradora chamou a gente e perguntou para onde a gente queria ir. Nós falamos: 'pro Borel'", relembrou. O Morro do Cruz fica ao lado do Borel, na Tijuca.
Ele relembra que, nesse momento, a moradora passou a ficar visivelmente assustada, e disse: "'Meninos, vão embora. Agora, aqui, é tudo terceiro. Todo mundo que entra aqui desconhecido eles matam'".
Nesse momento, ele se afastou. "Eu já comecei a me afastar, vi meu amigo puxando o Fabrício; ele não estava escutando porque achava que estava no Borel. A gente não conhecia nada de lá. Então, um cara começou a descer e aí a moradora falou pra gente ir embora, que esse menino era vigia deles (traficantes). Ela disse: 'Corre, vocês vão morrer, vão embora'. Só vi o Fabrício indo na direção desse vigia". O outro amigo, que estava mais próximo a Fabrício, contou à mãe da vítima que ouviu a moradora dizer que falaria ao vigia que ele era seu sobrinho.
Ao correr, já fora do morro, ele encontrou uma amiga que já foi moradora do Jacarezinho. Ela chamou um carro, via aplicativo, para ele o amigo de trabalho fugirem dali. Foi quando foi realizado o contato com a mãe de Fabrício, que chegou a ir no Morro do Cruz atrás do filho. "Encontrei o chinelo dele, não achei a moradora. Fui até a delegacia e depois reconheci o corpo no IML (Instituto Médico Legal)", contou Sueli Santos.
"A gente era amigo de infância, desde pequeno jogando bola junto. Somos do mesmo time, São Caetano Futebol Clube, iríamos jogar as oitavas de final no domingo. A gente estava muito feliz naquela noite, falava um pro outro que a gente se amava, a gente era muito irmão mesmo, desde menor. Muita covardia o que fizeram", desabafou o amigo. Na memória do celular, ele guarda a última mensagem do amigo: uma foto, que Fabrício mandou, cortando o cabelo.
O caso segue sob investigação da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
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