Publicado 24/05/2022 15:22
Rio - Carlos Eduardo Ribeiro e Karolaine Vitorino, pais de Maria Thereza Vitorino Ribeiro, de apenas um ano, que morreu engasgada com um pedaço de maçã Centro de Educação Infantil Carolina Amorim, em Petrópolis, no último domingo (22), informaram que vão deixar o Estado do Rio. O casal, que sempre viveu no município da Região Serrana, agora irá embora para refazer a vida.
"Vamos embora pro Sul assim que resolvermos alguns assuntos aqui, e tentar se reerguer. Nós iríamos os três essa semana visitar meus irmãos que moram em Criciúma (SC). Agora, vou para ficar lá, eu e a Karol", disse Carlos.
Emocionado, o pai detalhou como era Maria Thereza, primeira filha do casamento dele com Karolaine (Carlos tem mais dois filhos, de 9 e 10 anos). "Maria era saudável e extremamente carinhosa. Minha filha era muito apegada à mãe. Brincava e andava pela casa inteira. Não estamos nem dormindo em casa mais", relatou.
Ainda de acordo com Carlos, a família está arrasada, principalmente Karolaine. "No momento estamos péssimos e não deve melhorar tão cedo. A irmã está arrasada, pois eram muito chegadas. Já o irmão está triste, mas ele é mais forte", detalhou.
Pai acusa creche de negligência e pretende processar município
Para Carlos Eduardo, nem tudo o que aconteceu no Centro de Educação Infantil Carolina Amorim foi contado. Segundo ele, uma testemunha que esteve no local informou que houve demora no socorro. "Minha filha ficou cerca de meia hora sem oxigenação e deu entrada na UPA sem pulso. Elas ficaram com nossa filha apagada na sala da direção gritando 'aqui não!'. A UPA fica a 5 minutos da creche. Foi a mãe de uma aluna que tomou a atitude de ir na rua pedir por socorro", disse.
Segundo o pai, a direção da creche só informou a eles do ocorrido após chegarem ao pronto-socorro. "Disseram para a minha esposa que nossa filha estava bem. Mentiram o tempo todo".
Na manhã da última segunda-feira, Carlos Eduardo e Karolaine Ribeiro, mãe da menina, foram até a 105ª DP (Petrópolis) para prestar depoimento. Segundo Carlos, logo após, uma pessoa que estava no local durante o acontecido o procurou e deu detalhes do que ocorreu. A testemunha também foi ouvida na delegacia na parte da tarde.
Ainda de acordo com ele, a família não teve, em nenhum momento, suporte dos órgãos públicos, e a Prefeitura só mandou um funcionário para pagar o funeral, além de uma coroa de flores. Eles pedem por justiça e pretendem processar a creche e o município pela negligência. "Já vimos que nem tudo é verdade, e queremos a verdade e a justiça", disse Carlos.
Em nota, a 1ª Promotoria de Justiça da Infância e da Juventude de Petrópolis disse que instaurou um Procedimento Administrativo para apurar as circunstâncias dos fatos.
"Para embasar as investigações, foram emitidos ofícios para a UPA Cascatinha e para o Hospital Alcides Carneiro, onde Maria Thereza foi atendida, solicitando os prontuários médicos relativos aos atendimentos.
A Secretaria Municipal de Educação também foi oficiada para esclarecer se foi instaurada sindicância interna para apurar os fatos, e para informar se vem sendo cumprida a Lei 13.722, de 2018, que torna obrigatória a capacitação em noções básicas de primeiros socorros de professores e funcionários de estabelecimentos de ensino públicos e privados de educação básica e de estabelecimentos de recreação infantil", informou o MP.
"Para embasar as investigações, foram emitidos ofícios para a UPA Cascatinha e para o Hospital Alcides Carneiro, onde Maria Thereza foi atendida, solicitando os prontuários médicos relativos aos atendimentos.
A Secretaria Municipal de Educação também foi oficiada para esclarecer se foi instaurada sindicância interna para apurar os fatos, e para informar se vem sendo cumprida a Lei 13.722, de 2018, que torna obrigatória a capacitação em noções básicas de primeiros socorros de professores e funcionários de estabelecimentos de ensino públicos e privados de educação básica e de estabelecimentos de recreação infantil", informou o MP.
Testemunha também decidiu falar
A testemunha mencionada por Carlos Eduardo na reportagem também decidiu contar o que aconteceu no local. A pessoa, que é mãe de uma aluna e não quis se identificar, contou com detalhes o que houve. "Cheguei por volta de 14h05 na creche. Lá, a diretora disse que tinha uma criança engasgada com um pedaço de maçã".
Ela também tentou socorrer Maria, e informou à direção da creche que a menina estava com a respiração fraca. "Fui até a sala da diretora onde estava algumas professoras que trabalham lá. Peguei a Maria, e com o dedo tentei desobstruir a garganta dela, pois já havia desengasgado minhas filhas por diversas vezes. Ela (Maria) já estava desmaiada, e eu senti nada na garganta da menina. Informei que a respiração da menina estava muito fraquinha e a devolvi para as professoras. Enquanto isso, a diretora estava no telefone com o SAMU e eles estavam fazendo os primeiros socorros pelo telefone", informou a testemunha.
Segundo a mãe, uma moça que trabalha em uma escola ao lado da creche também tentou reanimar Maria Thereza, mas não obteve sucesso. Depois disso, levaram a menina para a UPA de Cascatinha. "A creche não fica nem cinco minutos de carro para UPA", disse.
Ainda de acordo com a testemunha, a demora no socorro fez com que Maria Thereza acabasse morrendo. "A demora fez com que a menina não aguentasse muito tempo sem respirar. Quando eu cheguei na creche a menina já estava toda molinha. Talvez, mesmo sem o preparo, se corressem com a menina, ela estaria viva agora".
Na tarde da última segunda-feira (23), a Polícia Civil realizou a exumação do corpo de Maria Thereza. Segundo o delegado titular da 105ª DP (Petrópolis), João Valentim dos Santos Neto, a exumação foi feita para subsidiar a investigação que está em curso na delegacia. Os exames foram realizados no IML de Petrópolis e o corpo foi liberado de volta ao Cemitério Muncipal de Itaipava ainda na tarde de segunda. Os pais de Maria não quiseram acompanhar a exumação do corpo.
O delegado também informou que a delegacia está ouvindo várias testemunhas e envolvidos para entender a dinâmica e compreender com exatidão o que de fato aconteceu, se houve negligência, demora no atendimento, etc.
Em nota, a Secretaria de Educação da Prefeitura de Petrópolis informou que abriu sindicância para apurar a morte da menina Maria Thereza Vitorino Ribeiro. A secretaria acrescentou que psicólogos conversam com a família e com a equipe do CEI Carolina Amorim.
A Prefeitura de Petrópolis decretou luto oficial de três dias e acompanha a família de Maria Thereza desde o primeiro momento. Equipes das secretarias de Saúde e de Educação se mobilizaram para prestar apoio psicológico aos familiares. "A Prefeitura é a maior interessada em apurar o caso. Não mediremos esforços para entender o que de fato ocorreu", disse o prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo.
A secretaria também informou que nesta quarta-feira (25), uma equipe fará uma roda de conversa com os colaboradores do CEI Carolina Amorim, promovendo atendimento psicológico para os servidores da unidade. E Na quinta-feira (26), haverá uma reunião com os pais. Em respeito ao luto, as atividades serão retomadas após quatro dias.
Matéria de Wellington Melo, sob supervisão de Adriano Araújo
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