Publicado 27/05/2022 13:44 | Atualizado 27/05/2022 13:57
Rio - Uma menina de 4 anos morreu na madrugada do último dia 20, após receber uma injeção no Hospital Municipal Porphirio Nunes de Azeredo, em Saquarema, na Região dos Lagos. Ela havia dado entrada na unidade com os sintomas leves de vômito e diarreia e seria liberada após tomar uma dose de dipirona, um tipo de analgésico.
O pai da menina, no entanto, denuncia que sua filha morreu por erro médico. A principal suspeita é de que uma injeção de adrenalina tenha sido aplicada em Ana Luiza Cardozo Pereira em vez da dipirona. Cozinheiro e dono de um buffet em Saquarema, Romilson Santos também acrescenta que os profissionais fraudaram o boletim médico para se eximirem da responsabilidade.
Romilson, 42, quer esclarecer o que houve com a filha para evitar que a dor que assola sua família se repita. "Eu não desejo essa dor nem a quem errou com a minha filha. A dor é muita grande. Eles ainda tentaram forjar uma coisa que não havia", contou emocionado.
Na quinta-feira (19) da semana passada, a família foi passear no Centro de Bacaxá, em Saquarema. Romilson e a esposa Rosalva Cardozo compraram um tênis que brilhava no sol a pedido de Ana Luiza, além de roupas para o inverno. A menina passou o dia bem, mas, durante a madrugada, ela, que sempre dormia deitada no peito do pai, vomitou. Diante do quadro de vômito e diarreia, o casal levou a filha ao Hospital Municipal Porphirio Nunes de Azeredo.
Ana Luiza recebeu atendimento e foi liberada com uma receita médica. Antes, de deixar a unidade, ela só precisaria tomar uma injeção de dipirona. Mas, segundo o pai, minutos depois de receber a dose, a menina desfaleceu nos braços da mãe.
"Ela veio a óbito na hora. Eu perguntei à médica o que tinha havido. A minha filha tinha sido liberada. Ela estava bem, falando", contou Romilson. Ele ainda relata que ficou ajoelhado à maca pedindo socorro. Os enfermeiros se esforçavam, mas não havia desfibrilador na unidade e houve demora na chegada de um médico que pudesse fazer um procedimento capaz de salvá-la.
A versão narrada no registro de ocorrência, no entanto, é diferente. O boletim foi feito por um funcionário ligado à administração do hospital. O declarante afirmou que a menina morreu na ambulância a caminho de outra unidade.
Romilson afirma que a filha tinha anemia falciforme e que a condição sempre era informada quando ela dava entrada em uma unidade de saúde. Naquele dia, no entanto, ela estava bem, com sintomas leves e recebera alta. Ele conta que no IML confirmaram que a criança não estava desidratada.
"Afirmaram no boletim médico que ela chegou desidratada, com anemia profunda. E minha filha não estava com anemia, nem nada", rebateu.
Médicos ouvidos pelo pai afirmaram que pela reação da menina, o frasco de dipirona provavelmente foi trocado pelo de adrenalina. Os dois recipientes são parecidos. O laudo do exame realizado pelo IML, no entanto, ainda não ficou pronto .
"Quero que o caso seja esclarecido. Eles não têm pena, mentem só para se livrar da culpa. Não quero que outras famílias passem por essa dor. Eu não quero dinheiro. Nada disso vai trazer minha filha de volta", afirmou.
Romilson era uma referência para Ana Luiza, que aos quatro anos já escrevia o próprio nome e o dos pais. Dono de um buffet na cidade, o pai lembra de uma vez que a mãe disse que menina seria doutora quando crescesse e ela retrucou que seria cozinheira como o pai: "Eu era o espelho dela", emocionou-se.
"A minha família estava tão boa. A gente passeou no centro da cidade. Minha filha era tratada que nem uma boneca. Inteligente demais. Sabia escrever o nome dela, o meu, o da mãe. Ela pediu tanto que nós demos um cachorro para ela uma semana antes (da morte). Ela estava numa felicidade", contou o pai emocionado.
"A minha família estava tão boa. A gente passeou no centro da cidade. Minha filha era tratada que nem uma boneca. Inteligente demais. Sabia escrever o nome dela, o meu, o da mãe. Ela pediu tanto que nós demos um cachorro para ela uma semana antes (da morte). Ela estava numa felicidade", contou o pai emocionado.
A mãe de Ana Luiza está em choque, sem ler notícias ou se comunicar sobre o caso. Os cinco irmãos da menina, abalados, têm dificuldade de voltar à casa do pai.
O caso foi registrado na 124ª DP (Saquarema). A Polícia Civil informou que o administrador do hospital foi ouvido e a equipe médica foi intimada a prestar depoimentos. Os agentes aguardam o resultado do laudo da necropsia.
A Prefeitura de Saquarema, responsável pelo hospital, não retornou a reportagem até a publicação deste texto.
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