Publicado 03/06/2022 15:09
Rio - Da Zona Norte à Zona Sul, do Centro à Zona Oeste, não importa a região: o Rio é um caldeirão cultural múltipo. Essa diversidade se reflete também no fazer gastronômico espalhado pela cidade: do paladar simples ao requintado; da comidinha leve à mais pesada... Alheio a modismos, porém, certos pratos resistem ao tempo e vencem, inclusive, as distâncias geográficas, fazendo as pessoas irem de um bairro a outro só para comer aquela iguaria desejada. De tão famosas, algumas dessas comidas ganharam o honroso título de "Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro". A mais recente da lista foi a batata frita de Marechal Hermes, que virou patrimônio, no último dia 23, por um decreto do governador Cláudio Castro.
E você, se pudesse escolher uma comida para também virar patrimônio do Rio, qual seria? Pegando carona nessa "eleição" pra lá de saborosa, O DIA conversou com 12 personalidades para fazer essa mesma pergunta.
A tradicional Feijoada da Tia Surica, baluarte da Portela, por exemplo, já possui o "status" de patrimônio histórico e cultural do Estado desde em novembro do ano passado. O famoso Angu do Gomes ostenta o título desde 2017. Além de anônimos, clientes famosos como Tom Jobim, Tim Maia e Beth Carvalho eram fãs do famoso prato, assim como o compositor João Nogueira. É dele, inclusive, a música "Espere, ó nega", de 1968, que cita tal prato em sua letra: "por enquanto, quando sentir fome, um angu do Gomes, já dá pra enganar, a digestão é caminhando à beira-mar."
O cantor e compositor Moacyr Luz brinca que, como amante do Rio, é suspeito para escolher apenas uma. Depois de um tempo pensando, ele decreta: "Vou falar de dois pratos especiais que, pra mim, merecem o título de patrimônio cultural da nossa cidade, também: o polvo do Adonis, em Benfica, e as empadas do Belmonte. Nossa, a de palmito é maravilhosa. As empadas de lá são um patrimônio nosso. Pelo menos pra mim, já são há muito tempo (risos)."
De comida, o empresário Raphael Vidal, dono dos badalados Casa Porto, Bafo da Prainha e outros restaurantes no Largo da Prainha, na Zona Portuária, entende e muito bem. O voto dele é no feijão do Botequim do Joia, no Centro. "O paio no feijão da Dona Alayde é uma tradição. É um prato com a cara do nosso Rio de Janeiro e que é referência da nossa gastronomia carioca, popular e saborosa."
Omar Júnior, dono do Bar do Omar, no Santo Cristo, point da esquerda carioca, também entende de petiscos deliciosos. Na hora de dar seu voto, escolhe o torresmo do Bode Cheiroso, no Maracanã. "É simplesmente incomparável. E lá é um bar com pegada bem carioca, despojado, de beira de rua, cerveja de garrafa, preço acessível e esse torresmo que, sim, deveria ser reconhecido como patrimônio cultural do Rio."
Luiza Souza, do canal no You Tube "Musa das Panelas", que tem mais de 33 mil inscritos, e chef do Bar da Gema, na Tijuca, e também do Da Pedra, na Pedra do Sal, também é fã incondicional do torresmo do Bode Cheiroso. "É uma coisa maravilhosa. Engraçado que ele é chamado de barra de cereal (risos). Nossa, tem um sabor que você come e aquela sensação deliciosa não sai da sua cabeça, você quer comer mais e mais. Até criança adora. É atrativo, saboroso, bem sequinho. É muito especial, mesmo. Merece virar patrimônio cultural, com certeza!"
Morador de Jacarepaguá, o repórter Genilson Araújo, da TV Globo, conta que adora as sardinhas do Beco das Sardinhas. "De vez em quando, para matar o desejo, dou um pulo no Centro da cidade só para comer a iguaria. É sensacional. Merece o título de patrimônio cultural do Rio. É muito gostosa, honesta, bem fritinha, crocante. Hum, uma delícia. E, na minha avaliação, pode ser acompanhada por qualquer bebida, seja uma cervejinha, vinho, cachaça, o que a pessoa preferir."
O jovem Tom Karabachian, ator e cantor, filho do músico Paulinho Moska, também elegeu o prato que, na opinião dele, merece ganhar o título. "Ah, pra mim o sanduíche de pernil do Cervantes é um clássico. Aquilo ali é um patrimônio. Tem anos e continua com a mesma qualidade de sempre", diz ele citando ainda os sucos do Bibi Lanches, na Zona Sul.
Também moradora da Zona Sul, a atriz Nina Tomsic elege o bife à milanesa do Joia Carioca, tradicional bar do Jardim Botânico: "Cara, o 'pf' de milanesa deles é um clássico. Além de ser uma delícia, o lugar é super tradicional e muita gente boa já passou por lá. Acho um passeio incrível, carioquérrimo."
Do outro lado da cidade, o cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz, tem na ponta da língua a comida que para ele mereceria tal honraria. "Ah, com certeza, a tradicional rabada da Dona Neném, que é algo assim imperdível. E tem carioca que não conhece. Tem que ir lá na Feira das Yabás conhecer e se deliciar com esse prato. Desde que ela morreu, quem faz é a Áurea Maria, filha dela, que segue essa mesma receita de família, que é de dar água na boca. Uma beleza, mesmo", exalta o compositor, lembrando a saudosa baluarte portelense, que morreu em 2020, aos 95 anos.
Tia Surica também é fã da rabada que era feita por Dona Neném, viúva do compositor Manacéa. "Olha, minha filha, a rabada da Dona Neném era uma coisa de louco. Agora, a filha dela, quando pode, faz, também. É um prato delicioso e bem tradicional. Ficaria muito feliz se também fosse considerado patrimônio cultural do Rio. Pra gente aqui, com certeza, já é."
No recorte gastronômico pela cidade, a autora Júlia Spadaccini, que escreveu as premiadas séries "Segunda Chamada" e "Tapas & Beijos", da TV Globo, cita a feijoada do Mineiro, em Santa Teresa. "Que comida maravilhosa. Todo mundo que experimenta, ama. Sem contar que ir lá é um passeio completo porque Santa Teresa é um charme e respira cultura por todos os cantos. Moro na zona sul e, sempre que posso, adoro ir lá só para passear e comer, de novo, essa feijoada incrível."
Já a cantora e compositora Teresa Cristina cita o bolinho de arroz do Bar do Momo, na Tijuca: "Eu amo! É uma unanimidade, mesmo."
E Zeca Pagodinho, eterno apaixonado por Xerém, diz que para ele o prato que merece ganhar o título de patrimônio cultural é a feijoada do Berê Refeições, na Praça da Pedreira, que fica, claro, em Xerém: "A feijoada deles é maravilhosa! É servida há anos, todas as sextas-feiras. Sou fã."
O governador Claudio Castro reafirma a variedade culinária do Rio: "Do Sul ao Norte Fluminense, é espetacular a variedade culinária do nosso estado. O peixe com banana de Paraty, o chuvisco de Campos e o quibe de Italva são exemplos de comidas que representam tão bem a cultura e a identidade de suas cidades, com um impacto cultural que deu origem a receitas tradicionais imperdíveis para qualquer um que visite esses locais."
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