Publicado 02/06/2022 14:23
Rio - Com paredes rosas, letreiro iluminado e crepes doces em forma de genitálias, uma pequena loja chamada "La Putaria", no bairro de Ipanema, Zona Sul do Rio, deu o que falar entre moradores da região, que se indignaram com o conceito. A Associação de Moradores de Ipanema, em parceria com a Câmara de Dirigentes Lojistas do Rio de Janeiro, entrou com um pedido de avaliação sobre o caso para a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (Senacon).
Em resposta, o órgão enviou uma nova regulamentação, publicada no Diário da União na última quarta-feira (1º), no qual o Ministério da Justiça e Segurança Pública proíbe a venda desse tipo de produto para menores de idade. A loja recebeu nesta quinta-feira (2) uma notificação do Procon informando que o responsável tem seis dias para regularizar o estabelecimento de acordo com a nova portaria.
Segundo Carlos Monjardim, presidente da Associação de Moradores de Ipanema, o estabelecimento está gerando polêmica desde sua criação. A O DIA, ele contou que um grupo de moradores queria fazer manifestação na porta do local quando o anúncio da inauguração foi feito.
Segundo Carlos Monjardim, presidente da Associação de Moradores de Ipanema, o estabelecimento está gerando polêmica desde sua criação. A O DIA, ele contou que um grupo de moradores queria fazer manifestação na porta do local quando o anúncio da inauguração foi feito.
"Eu evitei isso porque a gente verificou com os órgãos públicos e a loja estava licenciada, tudo certo, direito, dentro da lei", contou. "Meu pensamento na época era esse: por mais que fiquem indignados, o estabelecimento estava com tudo ok. Também puxei para o ângulo que qualquer loja nova no bairro gera emprego e pode ser bom para todos", explicou Monjardim.
A lanchonete funciona há cerca de um mês e, segundo Monjardim, as reclamações não param em seu Whatsapp. "A revolta vem aumentando de forma assustadora. Eu tenho sido parado nas ruas, cobrado por senhoras com raiva que pedem que a associação entre com alguma providência". Ele informou que a preocupação principal de quem vive no bairro não é a loja em si, mas a exposição dos produtos que são vendidos nela. "Temos uma lei que regulamenta letreiros de cinema pornô, por exemplo. Não pode ter um título ofensivo, essas coisas. O nome dessa loja, exposto em via pública, é o que está mais causando alvoroço", declarou. "Ipanema é um bairro tradicional, ali do lado da loja tem a Igreja Nossa Senhora da Paz, uma praça com crianças, mães e babás. Colocar 'Putaria' assim, no meio da rua, é complicado", concluiu.
Além do nome, a preocupação dos moradores é a exposição da pessoa que compra um crepe em formato de genitália e sai comendo na rua, podendo ser visto de forma ofensiva. "Baseado nessas reclamações constantes, nós, da Associação de Ipanema, em conjunto com a Câmara de Dirigentes Lojistas, entramos em contato com a Secretaria do Consumidor. Ontem, tivemos como resultado a nova regulamentação. Nós não pedimos para tomarem providência, apenas queríamos uma avaliação do caso. Eles estudaram a situação e, de acordo com a análise, fizeram essa portaria", revelou Monjardim.
A nova portaria, divulgada no Diário Oficial da União e assinada pela diretora substituta Laura Tirelli, da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), destaca que a creperia precisa fixar cartazes informando sobre a restrição de acesso à loja e a venda dos produtos a menores de 18 anos. A regulamentação também ressalta que, após o quinto dia contado a partir da sua publicação, acometerá multa diária de R$ 500 ao estabelecimento. Além da "La Putaria", o texto também inclui outras lojas no país, como o "Ki Putaria", em Salvador (BA); "Assanhadxs Erotic Food", em São Paulo e "La Pirokita", em Maringá (PR).
A história do "La Putaria" começou na pandemia, quando o austríaco Robert Kramer e a namorada Juliana Lopes decidiram criar um empreendimento do zero. "Um amigo do meu namorado fez uma viagem para Bangkok (Tailândia) e mandou uma foto para ele, com um carrorro-quente em um formato desse. Robert achou o máximo e disse que ia abrir um negócio assim. No início, eu achei loucura, pensei que fosse brincadeira, passado uns dias ele apareceu com uma máquina de waffle com formato de genitália", contou Juliana. "Chamei minha mãe e minha cunhada e começamos a desenvolver testes para a receita e encontramos uma. Robert já tinha o nome: La Putaria, não por causa do sentido pornográfico, mas porque, como não fala português direito, ele acha a pronúncia dessa palavra engraçada", explicou.
O conceito da marca, segundo Juliana, não tem nada a ver com erotismo, mas é um deboche. A primeira loja foi em Portugal, depois Belo Horizonte e, atualmente, no Rio de Janeiro também. "O nome fez o público ficar curioso, todo mundo queria saber o que se trata, o que vende. Tipo, o que vem desse lugar? Em três dias de inauguração da loja de Portugal, já estávamos nos noticiários e com filas na porta. A proporção foi incrível, fomos em programas de televisão, estivemos nos jornais e levamos até waffle nesses formatos a um programa aberto às 16h, com todo tipo de público", explicou.
Ao trazer a loja para o Brasil, o casal viu êxito na inauguração da unidade de Minas Gerais, mas no Rio de Janeiro foi a primeira vez que enfrentaram tantos problemas. "Minas tem uma fama de ter público conservador, mas lá deu super certo. Os primeiros questionamentos foram de pessoas políticas, não gente que se sentia incomodada com a marca", disse. "Essa questão de sentir a reação negativa só veio acontecer em Ipanema mesmo. Conheço pouco o Rio, sou de Minas e moro há cinco anos em Portugal, mas o carioca sempre teve fama de ser descolado. Fiquei surpresa", declarou. "Eu imaginei que a modernidade ia conversar bem com o perfil da população, principalmente porque estamos próximos da Farm, que tem um público mais descolado e LGBTQI+. O fato é que nunca fizemos venda para público infantil, mas jovens, idosos e até mesmo casais. Em geral, adultos", concluiu.
Juliana afirmou que considera a portaria um "absurdo", principalmente "porque parece ser um tipo de censura". "Quer que a gente anuncie que não vendemos para menores de 18 anos? Ok. Mas, encobrir o letreiro e a loja, proibir o cliente de sair comendo, entre outras coisas, acho demais. Com certeza vai prejudicar a marca", finalizou.
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