Serra do Vulcão faz parte da Área de Proteção Ambiental de Gericinó-MendanhaDivulgação
Publicado 14/06/2022 18:05 | Atualizado 15/06/2022 16:42
Rio - O fogo resumiu à cinzas o trabalho de mãos solidárias. Na última terça-feira (7), um incêndio atingiu a Serra do Vulcão, que fica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. No último dia 27 de maio, foram plantadas na serra cerca de mil mudas de diversas espécies pela parceria entre o projeto Menino que Planta e o Instituo EAE, em homenagem ao Dia Nacional da Mata Atlântica. A porção de terra queimada pertence à Área de Proteção Ambiental (APA) Estadual de Gericinó-Mendanha, na Região Metropolitana do Rio, criada por um decreto estadual em 2005. O caso foi registrado na 52ª DP (Nova Iguaçu).
Fernando Cid, secretário do Meio Ambiente do município, informou que foram enviadas equipes da Guarda Ambiental e feito um pedido de reforço ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea), que também mandou equipe de combate ao incêndio. "Controlamos o fogo, mas não foi suficiente para evitar os danos nas árvores que foram plantadas", lamenta. "Mas não vamos desistir, vamos continuar insistindo."
O criador do Menino que Planta é Alexandre Bensabat Filho, o "Xandinho". Segundo seu pai, o menino ficou muito triste ao se deparar com as cinzas do local. "Os olhos dele brilharam quando ele viu da primeira vez o que ele achava que era a área queimada: um trecho pequeno. Mas quando ele viu que ela abrangeu quase 80% do plantio, ele ficou muito triste", conta o pai, Alexandre Bensabat, que compartilha do mesmo pesar do filho. "Foi um estado horroroso, uma coisa ruim, um sentimento horrível, porque fazemos aquilo com carinho. Estamos sempre plantando ali. Fazemos um trabalho de formiguinha"
Nas redes sociais, o projeto Menino que Planta escreveu pedindo ajuda das autoridades, "Não podemos deixar esse crime impune! Plantamos mil mudas na Serra do Vulcão e hoje (12) encontramos tudo queimado". 
Alex Vieira, biólogo do Instituo EAE, alerta para os impactos ambientais, como deslizamento, que o incêndio pode provocar. "Tem um impacto biogeoquímico. Biologicamente você mata toda a microbiota, os vegetais que estão ali colocados para recuperar a área. Quimicamente você modifica o pH do solo, você destrói os nutrientes com calor, porque o calor faz alteração das partículas químicas. Na geológica, é a lixiviação, porque o solo fica pobre não consegue segurar os minerais ali. Então, ocorre um deslizamento: escorre um material que vai para o asfalto, que entope os bueiros, que pode destruir casas. A água não fica retida lá em cima e desce com muita velocidade", explica.
O Instituto EAE registrou ocorrência no dia 9. Em uma rede social, o instituto também fez uma postagem e, ao final, pediu apoio da sociedade civil. "Precisamos mais do que nunca do apoio da sociedade, fazendo pressão para obtermos uma resposta concreta do que e quem praticou este terrível crime".
Edgar Martins, diretor do Parque Natural, recebeu a notícia do incêndio através do telefonema de um morador. "Imediatamente, nós fizemos contato com a Gerência de Guarda-Parques do Inea (GGPAR) do Inea e com a Guarda Ambiental de Nova Iguaçu, onde as equipes se prepararam e foram para o local para poder fazer o combate [do incêndio]." 
O diretor vê o caso de maneira triste. Ele conta que esse plantio era feito em parceria com a sociedade civil para a recuperação de áreas degradadas, num processo chamado de nucleação. Com o incêndio, o trabalho se torna um desafio. "Criamos núcleos de florestas para que, no futuro, eles se conectem através de pássaros, que vão comendo as frutas da Mata Atlântica e dispersando pelos outros núcleos. Um vai enriquecendo o outro. Quando acontece um incêndio, isso demora a acontecer." 
Segundo Martins, o Parque Natural do Município de Nova Iguaçu tem importância direta na preservação do que sobrou de Mata Atlântica e no clima da Baixada, levando ar fresco e produção de água. Já a Serra do Vulcão funciona como área de amortecimento do parque, funcionando como uma esponja para segurar a água e diminuir o número de enchentes na região.  
Questionada, a Polícia Civil explicou que a investigação está em andamento e que diligências estão sendo realizadas para esclarecer o caso.
* Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes
Leia mais