Confecção dos tapetes de sal na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro Sandro Vox / Agência O Dia
Publicado 16/06/2022 16:02
Rio – Os tapetes de sal retornaram, nesta quinta-feira (16), a colorir as ruas do Rio de Janeiro. A tradição, que ocorre no dia de Corpus Christi, volta a ser celebrada após um hiato de 2 anos, por conta da pandemia. Este ano, a celebração ocorre em diversos pontos do Rio, como a entrada e o corredor central da Catedral de São Sebastião, no Centro do Rio, e em São Gonçalo, na Região Metropolitana, considerado um dos mais tradicionais e o maior da América Latina, com 2 quilômetros de extensão.

O feriado de Corpus Christi é uma celebração feita pela Igreja Católica do sacramento da Eucaristia, considerada o ápice dos sacramentos (simbolizando o corpo de Cristo através do pão e do vinho), para a veneração dos fiéis. Na missa católica, é representada pela hóstia. Os tapetes de sal são uma homenagem, representada por imagens e figuras bíblicas, relembrando a passagem bíblica em que Jesus passa, entrando em Jerusalém, sobre os mantos em que as pessoas colocaram para ele passar, sendo considerada uma grande honraria.


No centro do Rio, fiéis e voluntários iniciaram a construção dos tapetes na madrugada desta quinta-feira, às 5h da manhã. Os tapetes vão da entrada até o corredor da Catedral de São Sebastião. Pelo terceiro ano consecutivo, terá a participação de um tapete inter-religioso com e feito por crentes de diversas religiões.

"Participar da montagem do tapete inter-religioso é muito importante principalmente das pessoas com a fé. Apesar de não ser católica, de ser umbandista, eu sempre digo para as pessoas da minha religião, sacrifício. O sacrifício em pró da fé, de ficar sentado por horas e participar de um projeto acreditando na força e na fé de Corpus Christi. Para mim o simbolismo é muito maior. É acreditar na paz, na esperança, na tolerância, na amizade e estarmos todos unidos em um pró comum. A fé é amor!", disse a Dirigente da Casa Espírita Irmãos de Caridade, Mônica D Oyá.

Para a presidente do Instituto Expo Religião, que promove há dez anos o maior evento sobre religiões no estado, Luzia Lacerda, participar da montagem do tapete de sal foi de extrema emoção.

"Antes das 5h da manhã fizemos uma oração antes da confecção e, ver todos ajudando uns ao outros, principalmente jovens, é muito gratificante. Esse momento é muito importante para restaurar a fé em um momento muito instável da população. Pessoas hoje passam por problemas de saúde, problemas financeiros, desastres naturais vêm acontecendo, pessoas morando nas ruas, o momento é de restaurar nossa fé", conta Luzia.

Para o Diácono Nelson Águia, da Comissão Arquidiocesana para o Ecumenismo e Diálogo Inter-Religioso, o momento o é especial, principalmente pela fé cristã ser comunitária. Após dois anos sem a celebração devido à pandemia, a participação física dos fiéis enriquece a fé da comunidade

"Agora com a vacinação em estágio avançado e com a flexibilização das normas de saúde, a celebração, que carecia do contato físico dos fiéis, será fortalecida. Eu sempre digo, a fé é feita em comunhão, com outras pessoas. Voltar ao presencial vai enriquecer espiritualmente a vida cristã.", afirmou o Diácono.
No final da tarde, a Procissão de Corpus Christi contou com a participação do Cardeal, Dom Orani, responsável por levar o santíssimo sacramento, onde ocorreu a Oração das Vésperas saiu da Igreja da Candelária, passando por cima dos tapes de sal, até o altar da Catedral Metropolitana, na Avenida Chile, onde ocorreu o encerramento com a Benção com o Santíssimo Sacramento e, em seguida, o Cardeal realizou a Celebração Eucarística Solene.
Pela manhã, o cardeal realizou uma missa no alto do Cristo Redentor, em Cosme Velho. Em seguida, o evento foi passado ao reitor do Santuário do Cristo Redentor, padre Omar Raposo, que celebrou uma bênção apostólica ao público presente.
São Gonçalo tem o maior tapete de sal da América Latina

Em São Gonçalo a celebração, considerada a maior da América Latina, com 2 quilômetros de extensão, a confecção se iniciou pela manhã desta quinta-feira. Mais de 8 mil voluntários, de diversas paróquias, participaram da montagem dos 230 tapetes que vão da frente à igreja matriz de São Gonçalo e até a altura do Clube Mauá. Ao todo, são usadas cerca de 5 toneladas de cal, além de corantes e borra de café. O tema deste ano é o mesmo da campanha da fraternidade "Fraternidade e educação".

O tapete, construído ao longo das ruas Moreira Cesar, Feliciano Sodré e Nilo Peçanha, é considerado patrimônio público cultural e religioso do município.

Celebrado há 28 anos na cidade, sendo os dois últimos anos virtualmente, a confecção do tapete uniu cerca de 50 mil pessoas. O prefeito Capitão Nelson, acompanhou todo o trabalho realizado pelos fiéis, ao lado do governador Claudio Castro.

"Esse espetáculo é lindo de ver. Estou muito feliz de conseguirmos proporcionar de novo aos gonçalenses esse momento único. Esse ano, com a mudança de horário, muitas famílias vieram com seus filhos. Essa união das pessoas é o que precisamos para transformar a cidade", disse.

O governador Claudio Castro esteve presente pela primeira vez na confecção do tapete e, além de ficar encantado com o evento, falou sobre a importância para a cidade.

"São Gonçalo é uma cidade rica culturalmente e precisamos valorizar isso. O que estamos vendo aqui hoje é uma verdadeira obra de arte. A união das pessoas para fazer esses painéis é um exemplo. A cidade precisa ser conhecida por esse tipo de evento e com isso resgataremos a dignidade da população gonçalense", disse o governador.

A mudança de horário foi o principal motivo de tantas pessoas participarem da confecção deste ano. Anteriormente, a confecção do tapete ocorria durante a madrugada de quinta-feira, com a missa e procissão acontecendo no final da manhã. Neste ano, pela primeira vez, o tapete foi confeccionado durante a manhã, com a missa marcada para às 16h, seguida da procissão.

"A mudança foi uma ótima oportunidade de mostrarmos esse trabalho lindo que é a celebração do Corpus Christi. Agora temos mais tempo para aproveitar esse grande evento", disse Jeison Lima, de 44 anos, membro da Igreja Matriz

Gustavo dos Santos, de 42 anos, achou a mudança de horário ideal para que as crianças pudessem participar da celebração. “Com relação à segurança, ajudou bastante, porque não podíamos trazer nossos filhos quando a confecção do tapete acontecia durante a madrugada. Hoje temos a presença de muitas crianças”, afirmou

As atividades no palco em frente à Igreja Matriz começaram às 8h com louvores da banda Angelus, contação de história com o tema "A vida de São Gonçalo" e a história da evangelização em São Gonçalo.

O evento também foi marcado por apresentações culturais ao longo de todo o percurso. Os visitantes puderam aproveitar a exposições, feiras de artesanato e uma exposição chamada "São Gonçalo – Território, história e fé", dos curadores, Rui Aniceto Nascimento Fernandes, Guilherme Cavotti, Alex Costa e Silva, Carolina Carvalho e Vanessa Leite. A exposição é composta por imagens de diferentes épocas de São Gonçalo, da relação entre o catolicismo e a cidade e projeção de vídeos.

A exposição foi pensada a partir das atividades do Memorial da Igreja Matriz de São Gonçalo, um projeto entre a Igreja com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde são feitas pesquisas que embasam a obra de recuperação do templo religioso.
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