Publicado 26/06/2022 09:00
A escadaria continua enorme e imponente, apesar de eu ter crescido e não ser mais a menina de antes. A amendoeira segue frondosa. O pátio das turmas perfiladas e da hora da merenda ainda é o mesmo. Assim como está intacta a quadra de esportes, onde a minha timidez não sabia onde se esconder nas aulas de Educação Física. Nas minhas memórias, o Colégio Santo Antônio, onde estudei do Jardim da Infância ao antigo ginásio, em Caxias, está do jeitinho que eu o deixei, aos 14 anos.
Resgato essas lembranças ao ver nas redes sociais um chamado da escola aos seus ex-alunos, em razão do seu aniversário de 80 anos: "Por onde anda você?" Poderia dizer que ando pela vida, amando as palavras — o que é uma grande verdade. Mas vira e mexe ainda eu estou ali, naquela mesma escadaria, com a sensação de ser a menina de antigamente. Afinal, aprendi que a beleza da vida é ganhar asas e voar bem alto, mas com as raízes da nossa essência sempre preservadas.
Aliás, se hoje a escrita me impulsiona no mundo, devo muito ao legado da Maria Célia, professora de Português. Não sei dizer como até hoje me recordo de um dever da época do ginásio, em que deveríamos explicar ditados populares. Um deles era: "Em casa de ferreiro, espeto de pau". E a minha resposta foi: "O grande profissional sempre executa excelentes trabalhos, mas para si mesmo nunca tem tempo". Está mais do que evidente que eu ando com o colégio dentro de mim.
Da mesma forma, a garota desajeitada das aulas de Educação Física viu a quadra se transformar no seu escritório de profissão. Não como atleta. Mas, por essas voltas que a vida dá, virei repórter esportiva, e o vôlei foi o esporte que mais cobri na carreira. Ali, à beira da notícia, tive que fugir de uma ou outra bola que escapava dos ataques potentes durante os treinos. Assim, a quadra não me abandonou, mas a Ana crescida domou a sua timidez.
Recentemente, aliás, olhei um álbum de fotografias da minha infância. Na capa, há um registro de formatura dos meus tempos de criança, de algum ritual de passagem no colégio. Já admirei várias vezes aquele meu olhar e me lembrei de uma história que a minha mãe contava sobre quando resolvi abandonar a chupeta. Segundo ela, garanti que iria jogar o objeto fora e que não voltaria atrás. Quando preciso buscar forças para uma escolha na vida, é para essa mesma criança decidida que eu olho. Sei que ela vive em mim. Por mais que eu já tenha caminhado no mundo, sempre andarei no pátio, na escadaria ou pela amendoeira da escola, revivendo o que me fez crescer.
Leia mais
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor.