Publicado 07/07/2022 12:20
Rio - O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj) instaurou uma sindicância para apurar se houve negligência da equipe do Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, Zona Sul do Rio, com a paciente Ilza Felipe da Silva, de 56 anos. A professora morreu na unidade após ter politraumatismo em decorrência de um atropelamento no dia 23 de maio deste ano. De acordo com a denúncia da filha da paciente, Anita Karen Kelly Felipe da Silva, 33, ao DIA, profissionais de saúde se negaram inicialmente a fazer tomografia e não realizaram uma cirurgia emergencial para salvar a vida de Ilza, que já estava em estado grave.
A série de negligências foi confirmada por um funcionário do hospital. Além disso, a unidade alega que não possui mais as imagens da tomografia, o que poderia ajudar a esclarecer se a paciente de fato não tinha condições de passar por uma cirurgia.
O caso também está sendo investigado na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes). A inspetora que apura as circunstâncias do atendimento informou à família que vai solicitar nos próximos dias o depoimento da equipe médica envolvida no atendimento.
"O que eu não quero é que eles façam o que fizeram com a minha mãe com outras pessoas. Até hoje eu me sinto culpada de não ter feito um barraco naquele hospital, me sinto culpada por ter confiado neles e acreditar que estavam esperando a pressão da minha mãe aumentar para fazer a cirurgia. Eu me sinto culpada por tudo. Eles não lutaram pela vida dela", desabafa Anita, que é advogada e está à frente do processo contra o hospital.
O que diz especialista
De acordo com o especialista em neurocirurgia, o neurocirurgião Renato Corrêa Patrício, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em casos de politraumatismo, que foi o estado que a paciente Ilza deu entrada no Miguel Couto, é preciso lutar contra o tempo e agir o mais rápido possível para salvar a vida da paciente.
Em entrevista ao DIA, Renato explica como geralmente ocorre dentro de um centro de trauma em situações de extrema gravidade. "Quem recebe esse paciente inicialmente é uma equipe de cirurgia geral e, então, dependendo do caso, realiza-se a entubação que vai auxiliar na hidratação desta pessoa. É feita a análise de ultrassom para ver se há alguma instabilidade circulatória e respiratória e levam este paciente para uma tomografia de corpo inteiro. É preciso estabilizar esse paciente o mais rápido possível", alerta.
Por questões de ética e profissionalismo, o especialista só poderia analisar o caso da paciente Ilza se tivesse acesso ao histórico e exames realizados. Como este não é o caso, a sua análise foi feita em âmbito geral. "O procedimento é estabilizar a pressão arterial e insistir na realização de exames de imagem o mais rápido possível para entender o que está deixando o paciente instável", diz.
Porém, Anita explica que não foi este o atendimento recebido. Com a pressão baixa e perdendo muito sangue, a equipe médica do Miguel Couto demorou mais de cinco horas para realizar a tomografia.
"Quando eu cheguei lá, perguntei logo se eles haviam feito algum exame e se ela já tinha saído da cirurgia. Como foi um atropelamento grave, imaginei que ela tivesse sendo atendida ainda. Mas para a minha surpresa, o médico que me recebeu alegou que minha mãe estava com a pressão muito baixa e por isso não seria indicado realizar qualquer procedimento naquele momento", lembra a filha da paciente.
Porém, assim que ela chegou ao hospital, o procedimento mudou e a equipe informou que a Ilza iria passar pela tomografia. "Se deu para fazer às 19h, onde a vítima já tinha perdido mais sangue ainda, deveriam ter feito o mais brevemente possível, quando a hemorragia não estava tão espalhada", continua a filha de Ilza.
Hospital de referência
O neurocirurgião Renato Corrêa Patrício se diz surpreso com o caso envolvendo o Hospital Miguel Couto pelo fato da unidade ser referência no atendimento a pacientes com traumas. Destaca ainda que todo hospital precisa contar com um suporte de armazenamento de imagens de exames por no mínimo dez anos.
"Geralmente são imagens gravadas, neste caso, o que se faz é ter um servidor que suporte receber essas imagens em um período de 10 anos a 20 anos. Isso é importante para casos jurídicos também", diz.
Posição do hospital
O caso também está sendo investigado na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes). A inspetora que apura as circunstâncias do atendimento informou à família que vai solicitar nos próximos dias o depoimento da equipe médica envolvida no atendimento.
"O que eu não quero é que eles façam o que fizeram com a minha mãe com outras pessoas. Até hoje eu me sinto culpada de não ter feito um barraco naquele hospital, me sinto culpada por ter confiado neles e acreditar que estavam esperando a pressão da minha mãe aumentar para fazer a cirurgia. Eu me sinto culpada por tudo. Eles não lutaram pela vida dela", desabafa Anita, que é advogada e está à frente do processo contra o hospital.
O que diz especialista
De acordo com o especialista em neurocirurgia, o neurocirurgião Renato Corrêa Patrício, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em casos de politraumatismo, que foi o estado que a paciente Ilza deu entrada no Miguel Couto, é preciso lutar contra o tempo e agir o mais rápido possível para salvar a vida da paciente.
Em entrevista ao DIA, Renato explica como geralmente ocorre dentro de um centro de trauma em situações de extrema gravidade. "Quem recebe esse paciente inicialmente é uma equipe de cirurgia geral e, então, dependendo do caso, realiza-se a entubação que vai auxiliar na hidratação desta pessoa. É feita a análise de ultrassom para ver se há alguma instabilidade circulatória e respiratória e levam este paciente para uma tomografia de corpo inteiro. É preciso estabilizar esse paciente o mais rápido possível", alerta.
Por questões de ética e profissionalismo, o especialista só poderia analisar o caso da paciente Ilza se tivesse acesso ao histórico e exames realizados. Como este não é o caso, a sua análise foi feita em âmbito geral. "O procedimento é estabilizar a pressão arterial e insistir na realização de exames de imagem o mais rápido possível para entender o que está deixando o paciente instável", diz.
Porém, Anita explica que não foi este o atendimento recebido. Com a pressão baixa e perdendo muito sangue, a equipe médica do Miguel Couto demorou mais de cinco horas para realizar a tomografia.
"Quando eu cheguei lá, perguntei logo se eles haviam feito algum exame e se ela já tinha saído da cirurgia. Como foi um atropelamento grave, imaginei que ela tivesse sendo atendida ainda. Mas para a minha surpresa, o médico que me recebeu alegou que minha mãe estava com a pressão muito baixa e por isso não seria indicado realizar qualquer procedimento naquele momento", lembra a filha da paciente.
Porém, assim que ela chegou ao hospital, o procedimento mudou e a equipe informou que a Ilza iria passar pela tomografia. "Se deu para fazer às 19h, onde a vítima já tinha perdido mais sangue ainda, deveriam ter feito o mais brevemente possível, quando a hemorragia não estava tão espalhada", continua a filha de Ilza.
Hospital de referência
O neurocirurgião Renato Corrêa Patrício se diz surpreso com o caso envolvendo o Hospital Miguel Couto pelo fato da unidade ser referência no atendimento a pacientes com traumas. Destaca ainda que todo hospital precisa contar com um suporte de armazenamento de imagens de exames por no mínimo dez anos.
"Geralmente são imagens gravadas, neste caso, o que se faz é ter um servidor que suporte receber essas imagens em um período de 10 anos a 20 anos. Isso é importante para casos jurídicos também", diz.
Posição do hospital
A direção do Miguel Couto informou, na segunda-feira (4), que a paciente chegou à unidade com quadro de politraumatismo, extremamente grave e instável, em Glasgow 3. A Escala Glasgow é uma ferramenta de monitorização neurológica usada em todo o mundo para medir a gravidade de uma lesão no cérebro, e varia de 3 a 15. "Ou seja, o quadro da Sra Ilza ao dar entrada na unidade, em Glasgow 3, era extremamente grave e instável, com prognóstico difícil".
Ainda segundo o hospital, diversos médicos de várias especialidades participaram do atendimento: cirurgião geral, neurocirurgião, cirurgião bucomaxilofacial, cirurgião ortopedista, além de médicos auxiliares de suas equipes. "Como o quadro estava muito instável, a paciente não tinha condições de passar por uma cirurgia naquele momento, e os médicos trabalharam na tentativa de estabilização do quadro, para que ela tivesse mais condições de resistir a um procedimento cirúrgico. Infelizmente, devido à extrema gravidade, os médicos não conseguiram reverter o quadro. Todos os médicos especialistas que participaram do atendimento e tentativa de salvar a vida da Sra. Ilza assinam o prontuário, com as informações de evolução referentes a suas especialidades".
O hospital diz ainda que, como estabelece a legislação em casos de mortes por causa externa e violenta, o corpo da paciente foi enviado para necropsia no Instituto Médico Legal, que nessas situações é o responsável pela indicação da causa da morte e emissão da declaração de óbito.
Sobre o desaparecimento do exame, a unidade não informou sobre a realização da tomografia, mas disse que a família poderia solicitar a cópia do prontuário da paciente, com os laudos dos exames realizados (incluindo os de imagem), no setor de Documentação Médica do hospital. "As imagens dos exames são preservadas por um tempo restrito e posteriormente apagadas, não tendo como, passado este período, serem recuperadas", finalizou.
Ainda segundo o hospital, diversos médicos de várias especialidades participaram do atendimento: cirurgião geral, neurocirurgião, cirurgião bucomaxilofacial, cirurgião ortopedista, além de médicos auxiliares de suas equipes. "Como o quadro estava muito instável, a paciente não tinha condições de passar por uma cirurgia naquele momento, e os médicos trabalharam na tentativa de estabilização do quadro, para que ela tivesse mais condições de resistir a um procedimento cirúrgico. Infelizmente, devido à extrema gravidade, os médicos não conseguiram reverter o quadro. Todos os médicos especialistas que participaram do atendimento e tentativa de salvar a vida da Sra. Ilza assinam o prontuário, com as informações de evolução referentes a suas especialidades".
O hospital diz ainda que, como estabelece a legislação em casos de mortes por causa externa e violenta, o corpo da paciente foi enviado para necropsia no Instituto Médico Legal, que nessas situações é o responsável pela indicação da causa da morte e emissão da declaração de óbito.
Sobre o desaparecimento do exame, a unidade não informou sobre a realização da tomografia, mas disse que a família poderia solicitar a cópia do prontuário da paciente, com os laudos dos exames realizados (incluindo os de imagem), no setor de Documentação Médica do hospital. "As imagens dos exames são preservadas por um tempo restrito e posteriormente apagadas, não tendo como, passado este período, serem recuperadas", finalizou.
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