Sepultamento de Wellington Cardoso, morto ao reagir assalto em ônibus em Duque de Caxias Sandro Vox / Agência O Dia
Publicado 08/07/2022 16:13
Rio- O corpo do passageiro Wellington Cardoso dos Santos, de 42 anos, foi enterrado nesta sexta-feira (8), no Cemitério São Lázaro, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ele foi morto com um tiro na cabeça após reagir a uma tentativa de assalto a um ônibus da viação Vera Cruz, que fazia o trajeto Piabetá-Caxias, na Avenida Leonel de Moura Brizola, no mesmo município.

Durante o velório a família demonstrou revolta e indignação com o caso, eles relataram que a falta de segurança no estado levou mais um homem honesto. Wellington deixa mulher e dois filhos, um menino autista de 8 anos e outro de 6.

O pai, conhecido como Rodolfo Guarda-Chuva, fez uma súplica aos familiares durante o enterro.

"Queria pedir a todos os meus filhos, meus netos e meus sobrinhos: Pelo amor de Deus, não reage, perca seu bem que Jesus vai dar outro", disse aos gritos durante o sepultamento.

A mãe, Maria Aparecido de Souza Cardoso, aos prantos, apenas pediu que a pessoa que cometeu o crime se arrependa. Ela, muito abalada, não quis gravar entrevista.

Ainda no velório, o pai de Wellington contou que está anestesiado com a morte do filho e que não sabe o que dizer para os netos.

“As leis brasileiras são frágeis e ultrapassadas, porque beneficia quem tem poder e o fora da lei, eu não vejo democracia nesse país. A realidade da família brasileira hoje está impossível, eu to aqui anestesiado, abracei meu neto que vai fazer 9 anos, e chorei, ele é autista, ele não entende, ele tá rindo, o que a gente vai dizer pra essa criança? O outro de 6 anos eu abracei, ele chorou, com a minha nora eu também chorei, porque ali é um pedaço meu que está indo embora, hoje minha família chora, amanhã outra família brasileira que irá chorar na beira da sepultura”, desabafou.

A cunhada, Michele Bernardo, aos prantos suplicou por justiça e indignada relatou que Wellington já estava perto de casa quando ocorreu o crime.

“Eu diria que o Rio está impossível de se viver, o trabalhador tem que viver trancado dentro de casa e o bandido na rua porque a gente não tem segurança, liberdade, nada… Espero que tenha justiça porque o meu cunhado nunca fez mal a uma barata e este indivíduo veio e tirou a vida dele. Ele estava a 500 metros da casa dele, já estava chegando, faltava pouco”, lamentou.


Michele disse ainda que o cunhado era uma boa pessoa, que fazia todo mundo rir, um ótimo marido, pai, tio e que sempre ajudava os irmãos.

“Ele é uma pessoa maravilhosa, na vida não tinha ninguém tão bom quanto ele, gente teve que trazer as crianças porque cada uma quis ver o tio pra da um ultimo adeus, ele tinha zero defeito, um homem trabalhador, sempre correu atrás pra ele e pros irmãos, que eram 8, porque se ele tinha um e o restante não, ele dividia, ele era uma pessoa que irradiava luz”, disse.

O irmão da vítima, Wanderson Cardoso, contou que a família só soube da morte no dia seguinte do acontecido.

“O caso ocorreu na quarta (6), quando foi na quinta de manhã, por volta 6h, a esposa dele ligou falando que ele estava sumido, então o meu outro irmão pegou a moto e foi em Pilar, onde ele morava, falou com a esposa mas ela não sabia muita coisa, aí eu falei pra ele ir na redondeza. Ele foi e começou a perguntar nos lugares, quando foi na padaria uma mulher falou que havia acontecido um assassinato ali ontem, um roubo seguido de morte, ele perguntou se ela tinha alguma informação e ela falou que tinha uma foto, quando ela pegou a foto, ele viu que era Wellington, ele estava jogado no chão que nem um porco. Esse meu irmão ficou muito abalado mas depois ele foi para o IML, reconhecer o corpo", disse.

De acordo com testemunhas, Wellington reagiu ao assalto, desceu do ônibus e entrou em luta corporal com o bandido, quando um segundo criminoso, que dava cobertura para o comparsa, atirou na cabeça do passageiro, que morreu no local.

Família clama por justiça

Wanderson Cardoso, disse ainda que os assaltos na linha de ônibus onde o irmão morreu são frequentes e questionou porque a polícia não realiza blitz em transportes públicos.

“Queria pedir às autoridades, eu já fui militar, coloca o exército na rua, põe 10, 20 carros para fazer o patrulhamento das vias expressas, avenidas, rodovias, se colocar eles na rua a criminalidade vai baixar, vai ter represália, o meu irmão não foi o primeiro, o segundo ou terceiro, isso já vem ocorrendo, são muitos roubos nessa linha, isso é negligência da empresa, antigamente tinha segurança entrando dentro dos ônibus, agora, todos os dias tem gente entrando, roubando, saindo e ninguém faz nada, até quando?”, questionou.

O irmão ainda complementou dizendo que Wellington já andava com medo e só carregava consigo cópias de documentos e um celular que valia cerca de R$ 400 a R$ 500.

“Eu estou velando meu irmão, pai de família, trabalhador, homem honesto, íntegro, ele vinha sofrendo pancadas da vida, ele reagiu porque estava cansado disso, eu to cansado, meus irmãos estão, minha família está. Meu pai criou oito filhos homens em comunidade e ninguém deu pra coisa que não deve, meu pai corrigia a gente pro mundo não corrigir, ele deu educação pra gente sepultar ele, e não pra ele está aqui hoje sepultando meu irmão”, desabafou.

Wanderson finalizou pedindo que se as pessoas souberem quem matou o seu irmão, para que o entreguem e pediu que as autoridades deem assistência à família.

Como vai ficar meu sobrinho que é autista? Meu outro sobrinho que está traumatizado? E a esposa dele? Tem que ajudar essa família, eles vão ficar à mercê? Jogada? O que vai ser da família do Wellington? Dos filhos que precisam de tratamento psicológico?”, questionou.
A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) disse que testemunhas estão sendo ouvidas e imagens de câmeras de segurança analisadas. Diligências estão em andamento para identificar e prender os autores do crime.
*Colaborou Sandro Vox
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