Publicado 31/07/2022 00:00 | Atualizado 31/07/2022 13:25
Em menos de um ano foram interditadas, em todo o estado do Rio de Janeiro, cerca de 168,6m² de áreas ocupadas pela milícia, o equivalente a 26 campos de futebol oficiais. De acordo com o Comando de Policiamento Ambiental (CPAm), de setembro de 2021 a junho deste ano foram 78 operações em parceria com outros órgãos públicos para recuperar essas regiões. Além disso, nesse período de dez meses, foram feitas 311 prisões, 193 demolições de construções irregulares e 34 maquinários e caminhões, utilizados para invasões e extrações clandestinas de recursos naturais para construção civil, apreendidos. As principais localidades de maior concentração de grupos paramilitares são na Zona Oeste e na Baixada Fluminense.
Segundo investigações, as milícias exercem seus poderes através da prática de crimes ambientais como construções irregulares, parcelamento irregular do solo urbano, desmatamento, cobranças de prestações de serviços sem licença para moradores e comerciantes, como a venda irregular de gás de cozinha, sinal de internet, segurança, entre outros. Dessa forma, os grupos paramilitares aumentam o seu poder econômico e, consequentemente, a influência sobre essas áreas.
O comandante do CPAm, Luciano de Vasconcelos, explicou que, semanalmente, há atuações da polícia em áreas conhecidas como de milícia. "Fazemos atuação em tudo que é voltado para essa atividade criminosa. O nosso objetivo é tirar essas áreas da mão deles e acabar com atividades ilegais e cobranças por prestação de serviço", disse. Ele também declarou que as operações são feitas em parcerias com outros órgãos públicos, como Departamento de Transporte Rodoviário do Rio de Janeiro (Detro-RJ), para investigar transportes irregulares, Instituto Estadual do Ambiente (Inea), 8ª Delegacia de Polícia Judiciária da Polícia Militar, Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), entre outros.
De acordo com a Polícia Militar, a atuação do CPAm no enfrentamento às milícias segue dois eixos: em um deles, os agentes da unidade operam em apoio a outros órgãos ambientais e de ordenamento urbano. No outro, o CPAm, depois de receber informações da área de inteligência da corporação, reprime a ação em áreas públicas ou privadas de proteção ambiental. "As facções de milícias organizam a invasão de áreas mais afastadas dos centros urbanos para extrair clandestinamente recursos naturais como madeira, pedra, areia, saibro, e utilizá-los nas construções irregulares financiadas pela organização criminosa", comentou Vasconcelos.
Prejuízo financeiro
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), através do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em cinco meses realizou 17 operações para demolir construções irregulares em áreas com influência de milícias. O prejuízo estimado é de mais de R$ 45 milhões para essas organizações criminosas.
De acordo com o órgão, foram demolidos shoppings, prédios residenciais, casas de show, lava-jatos, quiosques, estacionamentos, bares, entre outros. Investigações já concluíram que o ramo imobiliário está entre os negócios ilegais mais rentáveis para os paramilitares, que realizam grilagem, construção, venda e locação ilegal. Quando os locais estão ocupados, eles ainda recebem valores através da extorsão de moradores e comerciantes. Além disso, utilizam ligações clandestinas de água e energia para o abastecimento dos empreendimentos.
Segundo o coordenador do Gaeco, Bruno Gangoni, um dos focos do grupo é sufocar a fonte de receita do crime organizado. "Quando demolimos um prédio que está sendo erguido por criminosos, estamos transformando em entulho milhões de reais que foram aportados ali por eles. É uma nova forma de asfixiar financeiramente as milícias", disse.
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