Publicado 26/08/2022 14:19 | Atualizado 29/08/2022 14:50
Rio - Faleceu, na manhã desta quinta-feira (25), o radialista Armando Campos, aos 87 anos, vítima de infarto. Nos anos 1980, Campos fundou a Mater FM, que posteriormente seria chamada de Tropical FM, famosa por levar para a FM, com destaque, o melhor do samba e do funk, ajudando a impulsionar a carreira de diversos artistas. O radialista deixa mulher, Isabel Ramos, com quem compartilhou 34 anos de sua vida, e três filhos.
"Seu Armando sempre atuou com maestria em todas os departamentos das suas rádios: era locutor, operador, administrador. Ele amava o que fazia e respirava rádio 24h por dia", contou a jornalista e editora do site Papo de Samba, Denise Carla. A Tropical foi seu primeiro trabalho de carteira assinada, onde atuou como repórter. "Se a gente tropeçasse numa nota, se falasse uma palavra errada, ele brincava, perguntava se estávamos tomando sopa de letrinhas, era muito criterioso. A Rádio Tropical foi a grande escola da minha vida em todos os sentidos", lembrou Denise.
A paixão de Armando Campos pelo trabalho levou outras pessoas a iniciarem na profissão. Esse é o caso da jornalista e assessora de imprensa Karla Sampaio, que chegou na Tropical FM para trabalhar na captação de recursos, fazendo contato publicitário, e saiu como repórter. "Ele nos dava oportunidade. Era um grande professor, incentivador. Ele ia descobrindo vários potenciais na equipe que ele mesmo formava. De tanto vê-lo trabalhando e ver a forma, que era tudo ali muito mágico, eu acabei me apaixonando", revelou Karla, que já passou por escolas de samba como Tradição, Portela e Mangueira.
Mas o agradecimento não vem só dos jornalistas. Foi por conta do radialista que grandes grupos de pagode caíram no gosto do público. "Armando Campos, junto com os pagodeiros, furou a 'supremacia' das Rádios FMs da época que tocavam sertanejo e internacional. Um verdadeiro estouro. Tanto ele quanto a Rádio Tropical têm um capítulo inteiro na história da música, do samba e da rádio", explicou Ludmilla Aquino, ex-assessora de imprensa da Imperatriz Leopoldinens, que nos anos 1980 trabalhou na extinta gravadora RGE, fazendo a divulgação de artistas como Zeca Pagodinho e Jovelina Pérola Negra.
"Ele tocava samba 22h por dia. Ele tinha duas horas de um programa de funk e o resto era samba", relembrou o jornalista Marcos Salles, que trabalhou com Armando nos anos 1980, através da coordenação de produção dos artistas junto com o produtor Milton Manhães. Depois, foi diretor da banda da Tropical, que fazia shows durante todo o ano, além de ter sido convidado para tocar o programa "Eles fazem sucesso", onde conversava com compositores. "Seu Armando ficou um bom tempo em primeiro lugar, ultrapassou todo mundo da época e era venerado por todos os sambistas, porque ninguém tinha tido essa coragem até então", afirmou Salles.
Atualmente, Salles escreve um livro sobre a trajetória do grupo Fundo de Quintal, fundado em 1976. Em um dos capítulos, Armando Campos está presente. "Ele está no capítulo dessa parte da mídia, onde ele conta essa história, de como começou isso. Esse capítulo é muito importante porque a partir daí o samba começou a tocar em FM", explicou.
A cantora e compositora Leci Brandão se manifestou nas redes sociais: "O mundo do samba perdeu um grande incentivador, uma pessoa que ajudou muitos e muitos artistas a fazerem sucesso nos anos 80. Ele era diretor da rádio 104 FM, a FM que tocava samba, que botou o samba para virar sucesso no Rio de Janeiro. Ele prestou grande serviço à cultura carioca, ao samba. Muito grata por tudo o que o senhor fez, não só por mim, mas por outros companheiros também. Esteja em paz", saudou Leci, que também é deputada estadual por São Paulo.
O jornalista Anderson Baltar, do site Rádio Arquibancada, também prestou sua homenagem ao radialista. "Para quem acompanha há muitos anos a imprensa de carnaval, Armando Campos foi uma pessoa fundamental. Fundador da rádio Tropical, que, nunca neguei, junto com a TV Manchete, é uma das principais inspirações da Rádio Arquibancada. Venho expressar, em meu nome e em nome da Rádio, nosso mais profundo pesar, nossa tristeza e condolências. Ressalto a importância de Armando Campos para o jornalismo, especialmente para o jornalismo de carnaval, sobretudo por tudo que ele fez com a Rádio Tropical", disse emocionado, em vídeo publicado.
O cantor Elymar Santos também falou sobre a parceria com o radialista, prestando suas homenagens. "É muito difícil falar, porque ele foi um dos caras mais importantes da minha vida. No momento em que ninguém queria, esse cara me tocava de 15 em 15 minutos", ressaltou o artista, emocionado. "Ele tocava as músicas todas, esse homem me ajudou muito. Eu tenho certeza absoluta que ele apareceu na minha vida como um anjo. Eu sou muito grato a esse cara. Ele tem uma grande importância no samba. Perdi um grande amigo", lamentou.
Armando Campos foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, no final da tarde do dia 25.
*Estagiária sob supervisão de Thiago Antunes
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