Publicado 26/08/2022 14:36
Rio - A mãe do entregador Lucas Martins, de 21 anos, morto durante troca de tiros entre PMs e traficantes, no Complexo do Chapadão, Zona Norte do Rio, na última quarta-feira (24), questiona de onde partiu o tiro que matou seu filho. Segundo ela, que preferiu não se identificar, o jovem estaria trabalhando no momento em que foi atingido. Lucas, que deixa um filho de 1 ano, foi enterrado nesta sexta-feira, no Cemitério de Olinda, em Nilópolis, na Baixada Fluminense.
"Meu filho era um menino educado. Eu criei ele sem pai, tive ajuda da minha irmã, que está em pedaços, do meu irmão, cunhada, família e minha mãe. Todos em pedaços. Meu filho sempre foi educado. Tia, tio, obrigado. Educação. Infelizmente estava fazendo a entrega dele. Da onde surgiu o tiro eu não sei. Só escutei. Meu filho estava trabalhando e morreu inocente. Não tenho palavras para dizer. Porque não pararam com ele e falaram: 'você vai ficar aqui para a averiguação'. (...) Hoje perdi meu único filho. Acabou para mim. Perdi um pedaço da minha vida e ela não tem mais sentido", lamenta a mãe.
O entregador teria sido atingido no mesmo momento em que PMs do 41º BPM (Irajá) trocavam tiros com traficantes na Estrada do Camboatá, no bairro de Guadalupe. A morte do entregador é investigado pela 31ª DP (Ricardo de Albuquerque) que recolheu as armas de todos os policiais envolvidos no confronto da última quarta-feira para perícia. Os militares também foram ouvidos na distrital.
Para a mãe do jovem, a resposta sobre o disparo que tirou a vida do seu filho não irá aliviar a dor de enterrá-lo. Segundo ela, seu filho não tinha passagens e usavam uma moto comprada por ela para trabalhar: "Fui eu que dei".
Com a voz embargada, a mãe também falou sobre o neto deixado por Lucas e como a família precisará reunir forças para seguir em frente. "Ele deixou um filho de um ano e um mês, que é um pedaço dele, mas quem é mãe sabe o que é perder um filho. Quem ouvir e souber o que é perder um filho. É um pedaço que tiraram de mim. A vontade que eu tinha era de acabar com a minha vida ali naquele momento. Ir embora junto com meu filho, mas eu tenho meu neto e eu preciso dar assistência", disse
"Eu preciso estar ali, porque sei que meu filho ficaria feliz. Ele sempre se preocupou. Ele amava o filho. Vai ser duro ouvir o filho dele falar: 'papai, papai, papai'. E ele não estar mais aqui. Só queria o meu filho. Acabou o Lucas, o Lucas se foi. Agora o que vai ser da mãe do Lucas?", questiona a mãe do jovem.
De acordo com ela, a situação da violência na cidade do Rio e em todo Brasil coloca em cheque a vida da população. "Infelizmente estamos vivendo num mundo em que a gente não sabe se a gente vai sair e voltar bem", lamenta.
Querido na comunidade, o jovem foi o motivo de uma manifestação na região do Complexo do Chapadão. Nesta quinta-feira (25), pneus foram empilhados e incendiados em dois dos acessos da comunidade como forma de protesto pela ação policial que vitimou Lucas. "Quem viu a reportagem vai ver. O morro todo falando bem sobre meu filho. Até o delegado falando sobre isso", comentou a mãe do jovem.
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