Publicado 29/08/2022 06:00 | Atualizado 29/08/2022 13:08
Rio - O prazer em fazer o mal. É a conclusão de policiais que assistiram aos vídeos de Delson Lima Neto, miliciano morto há uma semana, em que ele aparece torturando desafetos até a morte. A reportagem teve acesso às imagens que mostram sempre o mesmo modo de matar do criminoso: ele perfurava os pulmões das vítimas com diversas facadas, deixando-as agonizar. A tentativa de respirar inviabilizava qualquer fala e, mesmo assim, Delson continuava com as perfurações, em outras partes do corpo. Os vídeos eram guardados pelo miliciano como uma espécie de troféu.
O trabalho de identificação dos mortos foi feito pela 56ªDP (Comendador Soares); através do levantamento de inteligência da unidade, assim como da DDSD, Draco e Core, foi deflagrada a operação em que ele morreu ao reagir, em um sítio, na Baixada Fluminense, há uma semana.
Delson era irmão de Danilo Dias Lima, o Tandera, e atuava como gerente-operacional da quadrilha. Com sua morte, Tandera, chefe da segunda maior milícia do Rio, enfrenta uma crise interna. Informações obtidas pela polícia mostram que alguns de seus subordinados se rebelaram e passaram a assumir o território de modo autônomo, como Juninho do Varão que recolheu cerca de 80 fuzis e teria informado que controla Valverde e Cabuçu, em Nova Iguaçu. Varão também teria feito um acordo de não-agressão com outros milicianos. A crise repercutiu na cadeia: miliciano ligados a Tandera declararam neutralidade, enquanto decidem se voltam à subordinação de Luís Antônio da Silva Braga, o Zinho, rival de Tandera.
Sem apoio dentro e fora da cadeia, setores de inteligência da polícia já sabem que Tandera pensa em fazer uma delação: ele possui uma lista de políticos na Baixada Fluminense com os quais teria firmado apoio. Em março, Delson e outros milicianos foram flagrados sentados em uma mesa, com o prefeito de Seropédica, o Professor Lucas (PSC), por exemplo.
Além de enfrentar a milícia de Zinho, já enfraquecido, Tandera tem perdido território para o Comando Vermelho. A comunidade Grão-Pará, em Nova Iguaçu, teria sido retomada pelos traficantes.
Força-tarefa continua investigações
Por atuar na Baixada Fluminense, a Polícia Civil montou, há um ano, uma força-tarefa focada somente na milícia do Tandera. De acordo com o delegado Vinícius Miranda, titular de Comendador Soares, Delson atuava com extrema frieza. "Um criminoso cruel. As investigações evidenciaram que ele era responsável pela parte operacional da milícia comandada pelo seu irmão. Há comprovação de que ele torturava e matava quem ele tinha como oponente", disse.
Entre essas mortes há dois inquéritos separados, que correm sob segredo de Justiça. Em um deles, Delson aparece torturando dois usuários de drogas; em outro, as vítimas são dois assaltantes. Eles foram degolados após passar pela tortura de facadas nos pulmões. Nas imagens, o criminoso aparece de boné e calçados de marcas de grife.
No seu dia a dia, costumava usar camiseta da polícia civil e andar com um fuzil. Um vídeo mostra Delson caminhando pelas ruas de Nova Iguaçu, com a arma. Áudios também mostram ele treinando membros da milícia para explorar comerciantes.
Já na vida familiar, o mesmo homem cruel passava a imagem de ser afetuoso e bancava uma vida luxuosa para a esposa e a filha, de acordo com as investigações.
Mortes de amigos de infância
Entre as mortes atribuídas a Delson e seus comparsas estão a dos amigos Adriel Andrade Bastos, de 24 anos, Matheus Costa da Silva, 21, Douglas de Paula Pampolha dos Santos, 22, e Jhonatan Alef Gomes Francisco, 28. O quarteto se conhecia desde a infância e foi raptado de dentro de um carro de aplicativo, no dia 12 de agosto. Ao que tudo indica, Delson teria ordenado a morte após os amigos terem ido a uma festa que ocorria em uma área dominada por traficantes.
Não há indícios de envolvimento dos jovens com o tráfico, tampouco se os mesmos eram usuários de drogas (alvos procurados pelo miliciano). Dois corpos foram encontrados pela polícia: há marcas de tiros e de queimaduras. O corpo de Matheus foi identificado pela mãe e pelo confronto de digitais.
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