Publicado 11/09/2022 13:29
Rio - Após a Justiça mandar soltar, nesta sexta-feira (9), o sargento da Marinha Aurélio Alves Bezerra, acusado de matar a tiros Durval Teófilo Filho, de 38 anos, a viúva do repositor falou ao DIA sobre a angústia vivida por ela e a família desde a morte do marido. Luziane Teófilo reforça a acusação que o crime fora motivado por questões raciais. Em fevereiro deste ano, Aurélio atirou três vezes contra Durval, que é negro, quando ele retirava as chaves de uma mochila. Em depoimento, o militar disse que disparou contra o vizinho por achar que seria assaltado.
A defesa do militar entrou com pedido de um novo habeas corpus, que foi aceito pelo desembargador Cairo Ítalo França, da 5ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. À reportagem, Luziane contou que viu com revolta a decisão e que, desde a data do assassinato de Durval, não teve a paz necessária para viver seu luto.
"Eu, sinceramente, não esperava por essa soltura. Fiquei indignada. Desde o dia 2/2/2022, data do assassinato, eu não tive paz. Eu perdi a minha liberdade. Até hoje, eu não consegui viver o meu luto. Tá muito difícil", desabafou.
Após o crime, parentes da vítima tiveram que se mudar do condomínio. Ainda de acordo com a viúva, ela chegou a receber ameaças "veladas" que teriam partido de vizinhos e conhecidos de Aurélio. Ao menos dois comentários colocaram em dúvida a segurança de Luziane e sua filha, fazendo com que ela preferisse não ficar mais no local.
Assassinato filmado
Aurélio foi filmado atirando em Durval na porta do condomínio onde ambos moravam, no bairro Colubandê, em São Gonçalo. As imagens mostram o repositor abrindo a mochila para pegar uma chave e o sargento disparando três vezes de dentro do carro.
O sargento admitiu que não conseguia ver com clareza o objeto que Durval carregava e disse que prestou socorro ao saber que se tratava do vizinho. Para a família, o repositor foi assassinado por ser negro, a partir da premissa de Aurélio de que ele poderia ser um assaltante.
"Da forma que o assassino agiu, eu não tenho dúvidas que foi racismo, sim. Ele conhecia muito bem o meu esposo. O Aurélio tinha fama de ser muito arrogante. Ele escolhia a dedo quem ele iria cumprimentar no condomínio", afirmou Luziane, à época do crime.
De acordo com a decisão do TJ-RJ, o sargento está proibido de mudar de endereço ou se afastar da comarca onde reside, por mais de oito dias sem autorização judicial e não pode manter contato com parentes da vítima, por qualquer meio de comunicação. A determinação também destaca que ele deve cumprir as seguintes medidas cautelares: comparecimento em juízo até o dia 10 de cada mês, prestação de conta de suas atividades, comparecer em juízo, sempre que for notificado.
A defesa da família emitiu nota à imprensa, na noite de sábado (10), informando que todos estão "consternados com toda situação e clamam por justiça". Segundo o advogado Luiz Carlos Aguiar, já há um recurso protocolado no Plantão Judiciário para reverter a decisão pela soltura.
Até o momento, o mandado de soltura de Aurélio não foi cumprido e ele segue preso.
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